As contas da Defesa neste país sempre foram para mim um mistério. Há o Orçamento, mas depois temos as cativações, mais a LPM, respectiva taxa de execução, as lei das Infraestruturas militares e, last but not least, as despesas com a GNR (entram onde? no Min Defesa ou da Adm Interna?? nunca percebi.....)
Se calhar esse 1% é um valor mais adequado, sim...
PS:
No OE, vem discriminado o valor que é gasto estritamente com a Defesa, sem contar com a parte da GNR. Não me lembro se era de 2022 ou 2023, mas o valor rondava os 0.94/0.96% do PIB (e isto incluía a cena das rendas das infraestruturas). Para fins de apresentar os valores à NATO, é que dizem que são 1.4% ou mesmo 1.6, dependendo do dia.
Sem incluir a GNR, mas gastando realmente 1.4%, daria um orçamento anual de 3570 milhões, com base no PIB actual. Mesmo que façamos uma estimativa exagerada, em que os custos generalizados dos 3 ramos (salários, operação e manutenção de meios, e infraestruturas) são de 3000 milhões/ano, sobravam 570 milhões estritamente para compras de material. Isto significa que
a cada 10 anos, contávamos com 5700 milhões. Isto é o equivalente a comprar entre 25-30 F-35
todas as décadas.
Como é óbvio, não precisamos de comprar caças década sim, década sim. Caças duram pelo menos 30-35 anos. Fragatas podem durar 40 com um MLU a sério. Submarinos duram outros 30-35. MPAs (tipo P-8) podem durar 30-40. Baterias AA de médio/longo-alcance durante 30.
Estes são, assim de cabeça, os programas únicos mais caros que tipicamente temos. Outros programas dificilmente ultrapassam os 1000 milhões, e são mais passíveis de compras de oportunidade. UCAVs e drones Loyal Wingman, são difíceis de prever valores.
Vamos dizer que:
Caças novos - 5500 milhões
Fragatas novas - 5000 milhões ... vamos dizer que compramos 2 classes distintas "hi-low" e fica 3000 + 2000 respectivamente
Submarinos novos (3 ou 4) - 4000 milhões (e estou a exagerar aqui)
MPAs novos (classe P-8) - 1000-1500 milhões
Sistemas AA médio/longo-alcance - 3000 milhões
Vamos dividir estes investimentos por décadas:
-Década 1: Fragatas (3000M) + MPAs (1500M) - sobram 1200M
-Década 2: Caças (5500M) - sobram 200M
-Década 3: Fragatas leves (2000M) + Sistemas AA (3000M) - sobram 700M
-Década 4: Submarinos (4000M) - sobram 1700M
Com apenas 1.4% do PIB, dos quais menos de 600 milhões iriam para aquisições anualmente, é possível fazer isto em 4 décadas. Mesmo assim, sobram 3800M, que dá para renovar adiantar N outros programas mais pequenos.
As décadas seguintes seriam depois orientadas com base nos tempos de serviço de cada um dos meios, nas opções no mercado, e na relevância ou não de determinado sistema de armas, mas seguindo o mesmo princípio de dividir os grandes investimentos, por décadas distintas.
O nosso problema hoje, é que empurraram tudo para a década de 30, e está terá que ter um orçamento de quase 15 mil milhões, para meter a casa em ordem. O planeamento é metade do trabalho.
Com 1.5% - 3825M/ano. Pegando no exercício de cima, com 3000M para a gestão das FA, sobram 825M/ano para equipamento (8250M/década).
Com 1.7% - 4335M/ano. Podemos exagerar despesa anual de 3500M, e sobravam 835M/ano (8350M/década).
Com 2% do PIB, teríamos 5100M/ano de orçamento de Defesa. Que podíamos exagerar custos gerais de 4000M, e ainda assim havia 1100M/ano para equipamento.
Conclusão, com 1.5% do PIB verdadeiramente gasto em Defesa, já se resolvia, mediante bom planeamento e sem alimentar gorduras, uma boa parte dos problemas. Os 2% chegavam bem, nem era preciso irmos para os 2.5 ou mesmo 3% que alguns países falam, para termos umas FA de jeito.
A isto acrescem inúmeras oportunidades para a indústria nacional.