Marinha:Compra do Siroco implica modernizar "noutros moldes" duas das cinco fragatas
por Manuel Carlos Freire Hoje
A Marinha esclareceu esta quinta-feira que planeia modernizar duas fragatas em moldes diferentes das outras três para poupar verbas que permitam comprar o navio polivalente logístico (NPL) francês Siroco.
As duas fragatas em causa, da classe Vasco da gama, "sofreriam uma modernização em moldes diferentes que permitissem a sua utilização em cenários de baixa e média intensidade sem comprometer os compromissos nacionais na NATO, mantendo-as totalmente operacionais", afirmou a Marinha, num "esclarecimento sobre a eventual aquisição do NPL Siroco" enviado às redações.
Esta posição surge na sequência da mudança de voto do PS na aprovação na especialidade da Lei de Programação Militar (LPM), levando o ministro da Defesa a ponderar cancelar as negociações com a França para a compra do Siroco - proposta por unanimidade pelo Conselho de Chefes de Estado-Maior.
O PS aprovou a LPM na generalidade, há algumas semanas. Posteriormente, perante a hipótese de Portugal adquirir o Siroco em segunda mão por 80 milhões de euros, o ministro José Pedro Aguiar-Branco apresentou o caso ao PS - via deputado João Soares, segundo as fontes do DN - e recebeu luz verde para avançar em consenso com os socialistas.
Porém, na terça-feira, o deputado Marcos Perestrello anunciou a abstenção do PS durante a votação na especialidade por questionar a não inclusão da compra do Siroco na LPM, assim como o impacto que essa aquisição terá na não modernização de duas das cinco fragatas em uso pela Marinha - e que foi assumido por este ramo das Forças Armadas até pelo menos 2018, segundo fontes ouvidas pelo DN ao longo das últimas semanas.
Contudo, face aos dados oficiais de "longo prazo" em termos de orçamento (1,1% do PIB) e de efetivos, parece improvável que a Marinha consiga manter cinco fragatas operacionais e integrar uma nova unidade naval - a maior na frota portuguesa, com 168 metros e um número de marinheiros e custos de manutenção equiparáveis a uma fragata - quando não aumentará o seu quadro de militares para criar uma sexta guarnição nem terá mais verbas para operar, manter e sustentar um NPL daquela dimensão.
Acresce que, à luz da lei aprovada em 2014 e para vigorar pelo menos até ao fim da década, a Marinha terá de ter "capacidade para projetar e sustentar, em simultâneo, duas unidades navais de tipo fragata, para participação nos esforços de segurança e defesa coletiva".
Isto não significa ter duas fragatas operacionais em simultâneo, pois o Siroco é da família, observaram fontes ouvidas pelo DN. Logo, com a compra daquele NPL, a segunda unidade naval do tipo fragata seria uma das atuais cinco - o que permitiria ter apenas mais duas (a exemplo do argumento usado para defender a compra de três submarinos em vez de dois).
Note-se que, sendo o quadro de restrições orçamentais um dado adquirido para os próximos anos, a lei em vigor e acordada com os chefes militares definiu o orçamento das Forças Armadas em 1,1% do PIB, podendo variar entre mais ou menos 0,1%, assim como um efetivo máximo entre os 30 mil e os 32 mil militares - incluídos os da reserva na efetividade de serviço.
A Marinha, no seu esclarecimento, diz que a compra de um NPL estava prevista de 2006 como sendo "uma necessidade premente". Porém, "os custos de um navio novo impossibilitaram até agora a sua aquisição, num momento de fortes restrições financeiras".
Certo é que essa necessidade é reconhecida desde o terramoto que atingiu os Açores em 1980, mas foi sendo colocada em segundo plano face à prioridade da Marinha em adquirir fragatas (as duas últimas na segunda metade dos anos 2000) e submarinos, conforme têm reconhecido ao DN diferentes fontes políticas e militares - até do próprio ramo - ao longo dos anos.
http://www.dn.pt/politica/interior.aspx ... 43&page=-1