Negócio com a Venezuela não avançar é "um crime"
A Comissão de Trabalhadores dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC) afirmou hoje que se a construção de dois navios contratados pela Venezuela por 128 milhões de euros não avançar será um «crime». "Se isso acontecer é um crime ainda pior do que o que foi o negócio com os navios para a Atlânticoline [Açores], que é um crime nacional, que devia envergonhar todos os políticos", apontou hoje António Barbosa, no final de um plenário de trabalhadores.
Em causa está a necessidade de os ENVC, que já receberam a primeira tranche do negócio, de 13 milhões de euros, garantirem a aquisição do aço e motores para os dois navios asfalteiros encomendados pela empresa de petróleos de Venezuela (PDVSA).
"Para recebemos a segunda tranche [de 13 milhões de euros, em abril] os estaleiros precisam de ter três milhões de euros disponíveis para garantir estas aquisições", explicou António Barbosa, porta-voz da Comissão de Trabalhadores.
Trata-se de um negócio de 128 milhões de euros, rubricado pelo próprio presidente da Venezuela, Hugo Chavéz, em outubro de 2010, durante uma visita à empresa de Viana do Castelo.
"Inexplicavelmente ainda não estamos a trabalhar nessa encomenda porque nos falta uma reserva de tesouraria para ativar a compra de 50 por cento do aço e dos motores propulsores, o dinheiro pode vir de onde vier, nós queremos é trabalhar", sublinha o porta-voz.
Esta encomenda para a Venezuela é de resto a única firme na carteira dos estaleiros, mas seria suficiente para manter a empresa a laborar.
"Ninguém percebe, o país não vai perceber, porque é que, estando parados, porque não nos dão o que fazer, tendo um contrato que nos vai ocupar três anos, esse contrato não avança. O que é que pretendem?", questionou António Barbosa.
O assunto foi abordado também hoje pelo deputado comunista Honório Novo, que visitou a empresa.
«Se nada for feito, em Abril teremos um contrato denunciado, enquanto que na mesma altura os ENVC podem receber mais uma tranche de 10 por cento do valor total do contrato», afirmou o deputado, anunciando ainda a apresentação de uma proposta na Assembleia da República para «recomendar» ao Governo o «urgente» desbloqueio dos três milhões de euros necessários.
Contactada pela Lusa, fonte da administração dos estaleiros admitiu um «atraso na construção» uma vez que o primeiro pagamento «não foi aplicado, pela anterior administração dos ENVC, na aquisição do material necessário».
«Em função desse atraso, está a ser renegociado com a PDVSA o cronograma geral, estando previsto iniciar-se a construção dos dois navios ainda este ano e a entrega no prazo estipulado contratualmente», explicou fonte da administração.
Lusa