Equipa portuguesa em projecto arqueológico pioneiro na Síria 
Uma equipa de arqueólogos da Universidade de Coimbra (UC) está a realizar escavações na Síria sobre o período helenístico, cujos resultados serão pioneiros a nível mundial, por pouco se saber sobre essa época.
A actividade da equipa desenvolve-se desde o início de Abril na antiga cidade de Nabada, actual Tell Beydar, na fronteira com o Iraque e a Turquia, e onde pela primeira vez aparece a escrita na Alta Mesopotâmia, no terceiro milénio antes de Cristo (A.C.). “O interessante desta investigação é que ela é inédita a nível mundial. Não se conhece praticamente nada sobre o período helenístico nestas cidades no terceiro milénio na Alta Mesopotâmia”, declarou à agência
Lusa Conceição Lopes, directora da equipa de arqueólogos e professora na UC.
Trata-se de uma investigação ainda no início, mas “muito promissora”, que vai desafiar a equipa “a lançar bases, a definir coisas que serão pioneiras em termos mundiais”, designadamente a fazer a tipologia dos edifícios. Conceição Lopes realça que cidades do terceiro milénio são tão importantes que as equipas internacionais têm-se interessado fundamentalmente pelo terceiro milénio, sobre o início da escrita, da civilização, da revolução urbana, não apostando no período helenístico.
Os arqueólogos portugueses ocupam-se de escavar um grande edifício, que ainda não se sabe o que é, na antiga cidade de Nabada, sobre a qual se conhecem 30 hectares, e que teve uma ocupação entre 2.900 A.C. até pelo menos à época romana.
Convivência com outros paísesConvivem no campo arqueológico com equipas de outros países europeus, de Itália, Bélgica ou Alemanha, que investigam o terceiro milénio, e a escassos quilómetros onde pesquisou, no primeiro quartel do século XX, o arqueólogo Max Mallowan, marido da mestre da literatura do crime Agatha Cristie.
É constituída por Ricardo Cabral (responsável no campo), e André Tomé, ambos já doutorandos na universidade holandesa de Leiden, e ainda por Ana Meireles e Tiago Costa, estes alunos de mestrado em Coimbra.
Trata-se de uma equipa que, além escavar, está a produzir ciência, pois do trabalho dela numa região considerada o berço da civilização resultarão teses de doutoramento e de pós-doutoramento. No termo do projecto de cinco anos serão ainda apresentadas publicações sobre os resultados.
O período de campanha arqueológica, que se iniciou este mês desenrola-se até finais de Maio, retornando a equipa em Setembro para estudos dos materiais recolhidos, especialmente de cerâmicas, e para prospecções em outros locais.
A equipa portuguesa é financiada pela Universidade de Coimbra e pela Fundação da Ciência e Tecnologia, mas o desejo é angariar um mecenas que possibilite o seu alargamento e até a ampliação do âmbito dos estudos, revelou Conceição Lopes.
No próximo ano a equipa será ampliada por uma desenhadora portuguesa, que trabalhará também para as equipas internacionais no terreno, mas o desejo é de gradualmente a abrir a alunos de outras universidades portuguesas.
A Universidade de Coimbra foi convidada a integrar o European Centre for Upper Mesopotamian Studies (ECUMS), uma rede europeia em estudos arqueológicos na Mesopotâmia, na sequência do “excelente desempenho” dos seus alunos Ricardo Cabral e André Tomé, que há um ano estagiavam com a equipa belga.
A antiga cidade de Nabada é uma das mais importantes cidades na época helenística, localizada na estrada que ligava Anatólia ao Irão, e Iraque. Teve intensa actividade comercial, pois possuía grande quantidade de celeiros, que chegaram a abastecer as tropas de Alexandre o Grande durante as movimentações naquele território.
Ciência Hoje