Bom, num tópico destes o que me apetece dizer em primeiro lugar é que ele devia estar na secção "Conftitos do Passado".
Mas se o querem colocar no futuro insistindo em falar dele à luz das capacidades que cada um tem no presente, então é assim:
PIM, PAM, PUM, eles ganham a guerra, estão por cá uns meses ou uns (poucos) anos, são obrigados a retirar porque a unidade de Espanha se começa a desagregar sob o peso da resistência portuguesa, do esforço de guerra continuado, da decadência económica, da pressão internacional e do protesto dos espanhóis, sejam castelhanos, andaluzes, galegos catalães ou bascos.
No rescaldo da guerra estaria um Portugal arruínado económicamente, com muitas das suas infraestruturas destruídas e a precisar de auxílio internacional para se levantar do chão.
Do outro lado da fronteira não existiria mais uma Espanha unificada. Aproveitando o imenso erro que foi a guerra com Portugal, a crise económica, as perdas humanas, a crise económica e os protestos populares que motivaram, os catalães conseguirão finalmente a sua independência, contando para tal com o apoio de alguns países europeus exasperados com a situação peninsular. Outras autonomias, Galiza e País Basco tentarão a mesma solução mas com resultado incerto. O sonho espanhol de ser um grande da europa será desfeito, talvez para sempre. A geografia política peninsular regredirá vários séculos, ruindo também quaisquer prespectivas que Espanha (ou será Castela?) tenha de unificar politicamente a Península.
Pronto... já que estamos a falar do futuro, ou seja a ficcionar, aqui está o meu contributo para esta ficção.
Agora gostaria de dizer porque acho que Portugal e Espanha são dois países amigos e aliados no presente e assim deverão continuar "por muitos e bons anos".
Portugal não tem um conflito histórico com Espanha. Tem (teve) isso sim com Castela. Curiosamente é precisamente após a unificação de Espanha, tal como a conhecemos hoje, que as relações entre os Estados peninsulares se tornaram mais pacíficas. Com efeito desde 1715 para cá, já lá vão quase 300 anos, as relações entre Portugal e Espanha ou Castela, foram muito mais pacíficas que nos 300 anos anteriores ou nos 300 anos anteriores a esses.
Este facto surpreende. Poderiamos ser levados a pensar que uma Espanha unida e definitivamente mais forte que Portugal tentaria dar o passo que lhe faltava para unificar politicamente a oeninsula, ou seja, anexar Portugal. Pois é... mas não foi isso que aconteceu... devemos perguntar-nos: Porquê?
Parte da resposta já foi dada em posts anteriores (não escritos por mim), quando se afirma que Espanha é um projecto inacabado. De facto assim é. Apesar de Castela ter unido vários povos peninsulares sob a designação de Espanha, a "equação dos povos peninsulares" continua hoje praticamente igual à que era há era há 300, 500 ou 800 anos atrás. Hoje Castela não existe sózinha, não toma decisôes sózinha, o que existe é um país Espanha, que para permanecer unido tem de respeitar vários equilibrios, não podendo tomar decisões aventureiristas sob pena de colocar em questão a unidade do país. As decisões têm de ser mais consensuais e portanto moderadas, o que claramente trouxe vantagens para Portugal. Estas são razões de natureza histórica.
Outro tipo de razões prendem-se com a mutação que houve na política europeia e mundial nos último século.
Com efeito se na equação dos povos peninsulares, apesar da unificação de Espanha, pouca coisa mudou, já no panorama mundial se pode dizer que TUDO mudou.
Já não se trata mais de Portugal e Espanha dividirem o mundo, nem tão pouco da Europa assegurar a hegemonia a nível global. Hoje em dia a Europa luta por subsistir como grande actor na política mundial. As potências europeis, cada uma por si, mesmo as maiores, Alemanha, França, Reino Unido, são actores de 2ª classe no contexto global. A Europa procura unir-se para sobreviver. Hoje em dia a grande fractura da política internacional faz-se de acordo com grandes blocos civilizacionais, o Ocidente, o Islão, a China, a India, Rússia.
A aliança entre a Europa e os EUA é fundamental para perservar os valores e interesses da civilização ocidental ou seja, do nosso nível e modo de vida.
Hoje em dia é cada vez mais consensual que Europa e EUA devem estar do mesmo lado face aos desafios globais, como compreender pois que dois países como Portugal e Espanha se dêm ao luxo de "alimentar guerras", ainda para mais sem reais motivos para tal?
Os espanhóis de um modo geral e os castelhanos em particular não têm animosidade contra Portugal, alguma sobranceria talvez, mas não animosidade. Não nos vêm como inimigos. Podem dizer-me que há castelhanos que não pensam assim, que pensam que Portugal não tem razão de existir, que a nossa independência foi um acidente histórico, etc.
Pois bem, acredito perfeitamente que assim seja, acho escandaloso aquilo que alguns historiadores espanhois dizem sobre a independência de Portugal. Acredito que muito provavelmente ficaria "com os cabelos em pé" se pudesse entrar numa Academia militar espanhola e pudesse ler e ouvir o que é transmitido aos cadetes sobre este assunto.
Tudo isso pode ser verdade mas o que também é verdade é que essas pessoas não representam a sociedade espanhola nem tão pouco a castelhana, as suas opiniões não são escutadas nem tidas em conta pelo cidadão da rua nem pelas elites.
São pessoas que ficaram presas nas páginas da história, não fiquemos nós também.