Papatango disse:
Leia um pouco de história antes.
Depois da unificação forçada dos vários países espanhóis, tornou-se evidente que não os poderiamos defrontar.
É a partir de aí que se reforça a aliança com os ingleses e em que em alguns aspectos o império português se torna uma espécie de dependência do império britânico.
Os espanhóis não nos atacaram nem por falta de vontade, nem porque passaram a existir como Espanha.
Não nos atacaram por medo dos ingleses.
E quando puderam ter o apoio tutelar da França, atacaram-nos (vide guerras Napoleonicas))
Se você lesse a História, compreenderia que mesmo depois da república ser implantada, Afonso XIII sondou os ingleses para ver se haveria abertura por parte da inglaterra para uma invasão espanhola.
A Falange em 1939, marchava pelas ruas de Madrid gritando pela reconstituição do Império Espanhol, com Angola Moçambique, Guiné etc...
Em 1968 o ministro dos negócios estrangeiros português em conversas com um general espanhol ouviu aquele dizer que a Espanha continua a sonhar com a reconstituição da unidade hispânica perdida.
Confesso que depois de ler o seu comentário fiquei mais tranquilo quanto à possibilidade de Portugal e Espanha gozarem de um longo periodo de paz e poderem comportar-se hoje e no futuro como aliados e não como inimigos.
Pelos vistos nos últimos 300 anos, desde que Espanha existe como tal, as grandes ameaças para a independância nacional, com oruigem no país vizinho, consistiram essencialmente em:
- Na invasão Napoleonica.
- Afonso XIII alimentar a pretensão da anexação de Portugal.
- Na Falange que pretendia unificar a Península pela força.
- Num general espanhol que terá "dito o que lhe ía na alma" ao MNE português.
Bom, não sendo caso para ignorar estes factos ou voltar-lhes as costas, convenhamos que é bem pouco comparando com o que se passou nos 300 anos anteriores à unificação espanhola e nos 300 anos anteriores a esses. Daqui resulta que está correcta a minha observação quando disse que estes últimos 300 anos foram os mais pacíficos nas relações entre Portugal e Castela (primeiro) e Espanha depois, isto se quiesermos ver Espanha como um prolongamento de Castela.
- Quanto à invasão Napoleónica convém lembrar que os espanhóis terminaram a lutar contra ela e que os próprios ingleses também lutaram em Espanha contra os exércitos franceses tendo inclusivamento libertado algumas cidades do domínio francês (Badajoz, por exemplo, mas não só). Claro que este facto não apaga a realidade dos espanhois num primeiro momento se terem unido aos franceses para invadir Portugal. Mas se isso é importante também é importante reconhecer que eles vieram À BOLEIA dos franceses. Sózinhos é muito duvidoso que tivessem vindo.
- No que se refere a Afonso XIII há que dizer que o sonho da península unida e do império, acompanhou as elites castelhanas por muitos séculos. Durante muito tempo essas elites, políticas, militares, religiosas, representaram "o sentir" da sociedade castelhana e várias vezes passaram das palavras aos actos. Que Afonso XIII se ficásse pela pergunta é um sinal de que os tempos já então eram diferentes e que tanto externamente como internamente, as tais elites já não tinam poder para impor os seus pontos de vista.
- No que respeita à Falange, pois é... a Falange representa o que de mais nacionalista tem Castela. Digo Castela e não Espanha. A Falange representa o sonho nacionalista e imperial de Castela, mas só de Castela, não de Espanha. Esse sonho ou objectivo, não era (nem é) compartilhado por catalães, bascos e galegos, pelo menos estes. Representavam um sector que embora estando no poder era socialmente minorirario e não tinha poder de mobilizaçâo para arrastar a sociedade espanhola para concretizar aqueles objectivos e muito menos através de uma guerra.
Quanto ao facto de terem marchado a clamar "Agora a Portugal, e Angola, Moçambique, etc.", nós hoje também temos em Portugal quem pense que as ex-províncias ultramarinas hão-de voltar a ser nossas e que Portugal há-de voltar a reconstruír o Império.E certamente também seria possível reunir algumas centenas de pessoas no rossio e po-las a gritar por esse tipo de coisas! E agora pergunto: Que representatividade têm essas pessoas? O que representam elas no conjunto da sociedade portuguesa? O cidaddão comum identifica-se com isso? As elites, polítcas, económicas, militares, univertitárias, religiosas revêm-se nessas posições? NÃO!.
- Finalmente quanto ao general espanhol de 1968... aqui remeto para o que disse acima... e ainda bem que se progrediu alguma coisa... no ínicio do séc. XX era o rei de Espanha que falava em invadir Portugal, há 40 anos (em 1968) era já só um general, pode ser que daqui por mais quarenta anos seja apenas um tenente a falar assim e daqui por 80 um cabo...
Quanto ao facto aliança com os ingleses ter contruído para a independência nacional, mantendo os espanhóis à distância... claro que sim, tal como já tinha acontecido anteriormente com Castela. A referida aliança é muito anterior à unificação de Espanha. Mas não foi só a dita aliança.
Quanto a mim é um erro pensar que Castela e Espanha são a mesma coisa. Não é pelo facto de vários povos peninsulares terem ficado sob a bandeira espanhola que catalães, galegos, bascos e outros ficaram a pensar como castelhanos e a compartilhar os objectivos expansionistas e imperiais de algumas franjas da sociedade castelhana.
Aqueles povos continuam hoje, tal como no passado, a ser dificilmente "recrutáveis" para esse tipo de desígnios expancionistas.
Por isso digo e mantenho que a "equação dos povos peninsulares" se mantém hoje muito identica ao que foi ao longo dos séculos apesar da realidade de uma Espanha unida. E por isso é importante atender que as decisões hoje são tomadas por Espanha e não por Castela e que do ponto de vista espanhol é muito mais importante que essas decisões não ponham em causa a unidade do estado do que qualquer projecto expansionista, ainda para mais apoiado numa guerra peninsular, que, a ocorrer, quanto a mim rapidamente fragmentaria a unidade do estado espanhol.
É que os tempos de hoje não vão de feição para Afonsos XIII ou generais com sonhos de grandeza, veja-se o exemplo sérvio.
Por fim quanto ao seu conselho para que eu leia história... certamente que sim, poderei sempre ler MAIS, e certamente o farei quando para tal tiver tempo, até porque o saber não ocupa lugar e o tema é interessante.
Mas já gora também tomo a liberdade de lhe dar um conselho. Leia livros de história sim, mas também de história contemporanea. E já agora também livros actuais sobre geopolítica. Se saír um bocadinho deste quadradinho peninsular verá que afinal estamos em 2008.