Que deve ser feito em relação ao Irão??
Alexandre Reis Rodrigues
Não há qualquer consenso sobre as medidas devem ser tomadas contra o Irão em face de novas evidências a contrariar frontalmente a tese de Teerão de que o programa nuclear iraniano visa exclusivamente fins pacíficos. O relatório da AIEA, divulgado há dias, é perfeitamente claro sobre passos ultimamente dados pelo regime iraniano, passos que colocam o País bem mais perto de se tornar uma potência nuclear.
Se isso acabar por se verificar - confirmando-se o pessimismo existente sobre a capacidade internacional de o fazer abandonar o projecto - então o contexto de segurança do Médio Oriente sofrerá uma preocupante e drástica alteração. Aumentará a instabilidade regional, com novos países a tentarem adquirir capacidade nuclear, poderá acentuar-se a agressividade da postura iraniana, então mais confiante e segura da sua superioridade militar, e crescerá o risco de um confronto nuclear bilateral entre Israel e o Irão.
Ambos têm incentivos importantes para atacar primeiro: do lado de Teerão, como forma de tornear a vulnerabilidade resultante da provável falta inicial de capacidade de retaliação nuclear, dado o reduzido número de ogivas de que disporá; da parte de Israel, pela necessidade de não arriscar a exposição do seu muito pequeno território a uma explosão nuclear, aliás na linha do que fez em 1981 no Iraque e em 2007 na Síria, destruindo as respectivas instalações nucleares.
Poderão os EUA assumir em relação aos países da região um compromisso semelhante ao assumido na Europa, durante a Guerra Fria, perante a ameaça soviética?? Será muito difícil. Não obstante Hillary Clinton tenha referido a possibilidade de os EUA estenderem uma “defense umbrella over the region” o desafio será muito maior do que foi na Europa. Na Europa, contavam com a proximidade cultural e política dos europeus, com uma região unida em relação à ameaça e com apoio firme de uma presença militar americana forte. Nada disto existe nem é provável que venha a existir no Médio Oriente.
Como, no entanto, não é de esperar que Teerão prescinda da sua ambição nuclear, mais tarde ou mais cedo, os EUA vão confrontar-se com a decisão de optar entre desencadear um ataque ou manter um dispositivo de contenção e dissuasão que requererá uma alteração significativa da sua postura militar na região e poderá exigir repensar a deliberação de não avançar com o programa de uma nova geração de armas nucleares. O actual arsenal dos EUA, estando configurado para a dissuasão de uma grande potência, não será o indicado para lidar com uma potência como o Irão. Os EUA, muito provavelmente, terão que deixar de agitar de novo a bandeira do desarmamento, o que, obviamente, nem para o Presidente Obama, o autor dessa ilusão, será surpresa.
O que quer que seja preciso fazer, no entanto, não tem o carácter de urgência que algumas correntes de opinião procuram imprimir ao assunto. Mesmo que o Irão esteja próximo de ter uma arma nuclear, ainda está longe de dominar a tecnologia da sua miniaturização para emprego numa ogiva nuclear num míssil balístico. Entretanto, não resta senão continuar na linha das sanções, das iniciativas diplomáticas e das acções clandestinas (como foi o caso recente do vírus Stuxnet). Não vão levar ao cancelamento do programa mas vão certamente atrasá-lo.
Jornal Defesa