Cravinho descarta força internacional e garante compromisso com a paz
O secretário de Estado português dos Negócios Estrangeiros descartou terça-feira qualquer tipo de intervenção militar estrangeira na Guiné-Bissau, afirmando ter recebido garantias de que o compromisso dos políticos e militares guineenses é com a paz.
"Não há necessidade nenhuma (do envio de uma força multinacional de paz). Há um clima de total segurança e as forças militares estão sob comando civil. O governo e os militares foram muito claros nos comunicados que fizeram nessa matéria", afirmou João Gomes Cravinho à Agência Lusa, na Cidade da Praia, onde regressou após uma visita de várias horas à Guiné-Bissau.
Para Gomes Cravinho, que chefiou uma missão da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) a Bissau, torna-se, porém, "fundamental" a reforma do sector da segurança e uma alteração "significativa" à forma como os poderes político e militar se têm relacionado "ao longo da última década ou mais".
"É um processo que vai demorar o seu tempo e que precisa de grande determinação, coragem e de convicção. Haverá todo o tipo de apoio internacional, inclusive de Portugal. Mas não é necessário qualquer tipo de força internacional", sustentou.
Questionado sobre as intimidações e as ameaças de prisão e de morte de que estarão a ser alvo alguns antigos membros de anteriores executivos ligados ao regime do malogrado presidente João Bernardo "Nino" Vieira, abatido a tiro na madrugada de segunda-feira na sua residência em Bissau, Gomes Cravinho referiu ter recebido das autoridades políticas e militares guineenses um compromisso em relação à paz.
"A situação da Guiné-Bissau ao longo dos últimos anos tem sido de alguma instabilidade e precariedade. Mas toda a gente com quem falámos hoje, com responsabilidades no poder político e no militar, manifestou o seu compromisso em relação à paz e estabilidade. Não temos nenhuma indicação de que isso ("caça às bruxas") possa acontecer", afirmou.
O governante português adiantou ainda ter reafirmado às autoridades guineenses que Portugal estará "na primeira linha" na procura de apoios para a reconstrução da Guiné-Bissau, sublinhando que, mais importante que a ajuda de Lisboa, é a coordenação internacional dos diferentes mecanismos de financiamentos, "que estão dispersos".
Gomes Cravinho regressou terça-feira à noite à Cidade da Praia, de onde partiu, de manhã, para uma visita a Bissau, onde manteve contactos com todos os actores políticos guineenses e internacionais sobre a situação no país, desencadeada com o duplo assassínio segunda-feira e domingo, do Presidente João Bernardo "Nino" Vieira e do chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas (CEMGFA) local, general Tagmé Na Waié.
Acompanhado pelo secretário executivo da Comunidade de Países de Língua Portuguesa, o guineense Domingos Simões Pereira, que permanecerá em Bissau durante mais alguns dias, Gomes Cravinho pernoita hoje na capital cabo-verdiana, antes de regressar quarta-feira a Lisboa.
Aproveitando a sua estada em Cabo Verde, Gomes Cravinho manterá na manhã de hoje uma reunião de trabalho com o primeiro-ministro cabo-verdiano, José Maria Neves, efectuando, logo a seguir, uma visita de cortesia ao Presidente Pedro Pires.
Lusa