A Espanha
"Apesar das relações amistosas que, de há muito, se vêm verificando entre os dois países, a Espanha nunca compreendeu, nem aceitou, no âmago dos seus sentimentos, a existência de um pequeno país, agora realmente pequeno, Portugal, independente, com plena soberania, cujo território se integra numa indiscutível unidade geo-física que é a Península Ibérica , onde ela, a grande Espanha e segundo ela, predomina ou deveria predominar.
E a ideia, talvez em marcha, da Espanha constituir um Estado-Federal, com base nas autonomias já concedidas a certas regiões, apenas confere acuidade à questão, pois os espanhóis menos compreenderiam e menos aceitariam que Portugal não fosse um dos Estados dessa Federação.
Por outro lado, surge a formação da União Europeia, com um mercado comum que, como dizia o Embaixador Alberto Franco Nogueira, é, primeiro que tudo, um mercado comum ibérico, no qual a economia espanhola, mais forte, dominará. Na verdade, a Espanha, em relação a Portugal, está já a investir em termos financeiros, a adquirir em imobiliário e a prevalecer em trocas comerciais, em tão grande escala, que faz pensar na conquista económica, bem mais suave, mas não menos dominante, do que a conquista militar.
E o Mundo começa a deixar de considerar dois espaços económicos, o português e o espanhol, para admitir apenas um espaço económico, o ibérico. Note-se o exemplo das grandes empresas multinacionais que estão a transferir os seus centros de comando em Lisboa para Madrid, fundindo-os com os desta cidade, de onde actuarão em toda a Península Ibérica. E notem-se, também, as tentativas de alguns países, por enquanto poucos, de encerrarem as suas embaixadas em Lisboa, fazendo acreditar, nesta cidade, os seus Embaixadores em Madrid.
Esta ameaça – a ameaça espanhola –, por agora apenas económica, mas com as inerentes repercussões gerais, está factualmente em curso, havendo que fazer-lhe frente."
Kaúlza de Arriaga