Grande parte das dúvidas que são colocadas sobre uma hipotética compra do F-35, é na perspectiva passada de Orçamentos para as FA exíguas. Já a partir deste ano, o orçamento das FA portuguesas tem de aumentar para o dobro (é o que está previsto já para a execução de 2025) e nessa perspectiva não podemos estar a olhar para o passado, porque não é um bom ponto de referência!
Deixo uma pergunta a quem sabe:
Uma vez que é previsível que em vez de 1 vamos comprar 2 caças para substituir o F-16, para além da óbvia duplicidade de custos, mas também não vamos "comprar" uma possível muito maior disponibilidade de aeronaves num hipotético conflito futuro? Por exemplo, se de facto de confirmar 20 F-35 + 25 Typhoon, num possível conflito futuro, muito mais facilmente arranjamos ou compramos mais aviões usados que já operamos e estamos familiarizados, sem estarmos 1 ano à espera de formar pilotos, como no caso da Ucrãnia! Porque já temos pilotos familiarizados com as aeronaves! É uma vantagem real, ou nem por isso?
Primeiro é preciso saber o que representa "o dobro". É o dobro dos 0.9% gastos em Defesa? É o dobro dos 1.46% que se terá gasto no total em 2024? É o dobro do que está previsto na LPM/em reequipamento? Os valores variam muito, e não se sabe realmente quanto e como se vai gastar, não havendo qualquer tipo de esclarecimentos relativamente a isto.
Até vermos realmente verbas apresentadas, não vale a pena supor que se vai gastar resmas de dinheiro. Uma perspectiva realista/conservadora, coloca a fasquia do que se gasta em reequipamento nos 1000M/ano. Até pode ser mais que isto, e a expectativa é essa, mas até confirmação, mais vale prevenir devaneios e desapontamentos.
Ora 20 caças novos, custariam 4000M ou mais, portanto com 1000M/ano, a compra de caças empatava a verba disponível durante os próximos 4 ou 5 anos, quando existe a necessidade de investir em tudo nas FA.
Entretanto não é previsível que a FAP venha a adquirir 2 modelos de caça. Os argumentos apontados para essa possibilidade, limitam-se ao "porque sim", e ignoram a questão financeira. 20 F-35 + 20/25 Typhoon é devaneio puro, ficando muito mais barato simplesmente comprar 40 F-35. O argumento do "ser europeu" pode ser aplicado a praticamente todos os outros programas, não é preciso estar a inventar na questão dos caças.
Não é uma vantagem real. Passar a ter 2 caças, num pais pequeno, complica tudo. Terás os pilotos divididos entre duas aeronaves completamente distintas, terás mais desafios logísticas, mais desafios em termos de pessoal de terra, etc. Com a agravante que, numa guerra na Europa, as fábricas europeias de caças (que são poucas) têm produtividade limitada, e muitas delas estão ao alcance de armas russas.
Qualquer eurocanard trará mais problemas que vantagens, a nível da cadeia logística e também de aeronaves de reposição.
A operar 2 modelos de caça, a curto prazo só faz sentido que um desses modelos seja o F-16. Muitas aeronaves produzidas (facilidade em se arranjar peças e aeronaves de reposição), e com Portugal a usar a aeronave desde há 30 anos, existe um maior backlog de pessoal com algum tipo de formação nela, de pilotos a mecânico, ideal se em caso de conflito quiseres trazer de volta algum desse pessoal. Também tens uma probabilidade maior de angariar pilotos e mecânicos estrangeiros que queiram ajudar.
A médio/longo prazo, operar 2 modelos só se justifica, se um deles for muito mais barato de adquirir e operar (hi-low com KF-21), ou se o segundo modelo representar um salto tecnológico e de capacidades face ao F-35 (GCAP/FCAS).