Bom, a questão é complexa, extremamente complexa.
Teriamos primeiro que perguntar se a guerra fria acabou realmente.
Se o sistema comunista foi uma forma de garantir a continuação do império dos czares, então o que aconteceu em 1991 não foi o fim da URSS, mas sim a machadada final no império russo, em grande parte dele pelo menos.
Como já vimos, houve uma linha de pensamento nos Estados Unidos que acreditava que esta tese tinha cabimento e por isso considerou que a melhor coisa a fazer era provocar a implosão da Russia. Só assim o velho império que começou a ser construido por Ivan IV teria o seu fim.
Mas isso implicava a guerra na Europa e os europeus não queriam ouvir falar nisso.
É nessa altura que existe a possibilidade de integrar a Russia na União Europeia.
A proposta foi feita, mas para a Russia se associar (como vários países pretendem fazer com a Turquia) não para aderir.
Ou seja: Os russos teriam um mercado para vender, seriam um mercado para os países europeus, mas nas decisões ficariam de fora.
É a mesma razão que leva os turcos a mandarem a UE dar uma volta.
Mas na década de 1990, não havia outra possibilidade. A Alemanha Federal estava a braços com a absorção da falida Alemanha comunista e não teria condições de encontrar dinheiro para ajudar a Russia a modernizar-se para poder competir no mercado europeu.
Os outros países sofriam de problemas mais ou menos complicados, mas na realidade ninguém queria dar aos russos o papel de mais importante pais da UE (ninguém queria e acho que ninguém podia). No máximo conseguiram incorporar parte do Pacto de Varsóvia. Isso era viável, mas acabou por alienar a Russia.
As questões militares têm uma importância relativa nestes casos. O genocidio no Kosovo e a resposta da NATO contra a Sérvia ocorrem num momento em que os russos já estão desiludidos e perceberam que a Europa Ocidental não reconhecerá nunca a Russia como líder na Europa.
Se a questão económica tivesse sido diferente, os precedentes de que hoje falamos, os Kosovos, as Chcchenias etc. não seriam apontados como fontes de nenhum problema.
O problema, é que a Russia, não conseguindo entrar no concerto das nações europeias, reagiu como uma criança mimada: Se não me deixam entrar, vou-te amandar pedras.
A situação para os russos é mais complicada ainda, na medida em que ao longo de todos estes anos, eles não conseguiram modernizar o tecido industrial. Logo, eles estão cada vez mais ultrapassados, cada vez mais atrasados em termos tecnológicos. A Ucrânia, uma Russia mais pequena, foi ainda mais afetada por isto porque não tem petroleo.
Mas esta visão de um mundo em que os países têm esferas de influência, é uma visão que reputo de completamente ultrapassada. Só o conservadorismo extremo dos russos os impede de ver o óbvio.
Portanto, o que estamos a ver, é resultado da dificuldade dos russos em entrar no século XXI em todos os aspectos, desde o industrial ao diplomático.
Os russos podem insistir neste caminho, mas é um caminho que não tem futuro.
Como disse o ministro dos negócios estrangeiros da Suécia à dois dias: A longo prazo, a Russia precisa mais de nós que nós da Russia.
Os russos estão portanto a agir de maneira cega, e ainda por cima sob o efeito tradicional das paranoias do certo e do anti-americanismo patológico herdado de Estaline.
Cumprimentos
... sabe perfeitamente que quer sempre desempatar a contenda a favor dos EUA e também sabe que não critica os EUA ou a UE da mesma forma que critica os Russos e o Putin.
Na verdade eu nunca desempato contendas entre estes lados. Como já disse várias vezes eu considero que as democracias têm uma superioridade moral natural sobre os regimes ditatoriais e autocráticos. Isto, mesmo considerando que as democracias, precisam de ter capacidade para lutar contra as ditaduras, utilizando se necessário meios equivalentes.
Não há nada de pro-americano, há sim de defesa dos regims democráticos contra os regimes autoritários, é aí que está a linha.
Não há empates entre russos e americanos. A superioridade moral de uma democracia é suficiente para que esse empate não exista.
E essa superioridade moral advém da liberdade.
Muitas das criticas que vemos aqui aos americanos, vêm dos próprios Estados Unidos.
As criticas aos russos vindas da Russia, chegam cá depois do autor já estar morto ou preso.
Essa diferença para mim é tudo.