Marinha conclui que Esquadra está no limite e já examina alternativas para adquirir de 2 a 4 escoltas usados
Fragata italiana “Maestrale” (F570)“A MB vai acabar cedendo e adquirindo escoltas por compras de oportunidade. Como está não tem como ficar. Existem alguns planos”.
Essa breve confidência feita por um almirante da ativa para a coluna INSIDER, neste sábado (03.10), sinaliza para o estado de exaustão dos meios da Esquadra. Especialmente para a o esgotamento dos escoltas, ainda que no agrupamento de navios logísticos e de apoio à Força de Fuzileiros, a situação seja igualmente ruim.
O oficial mencionado, que passou os últimos anos lidando com assuntos relativos à modernização da Força Naval, observa, contudo, que houve uma mudança.
A Marinha deixou sua postura essencialmente passiva, de aguardar a chance de uma “compra de oportunidade”; agora são os chefes navais que – de acordo com a fonte – estão atrás das tais “oportunidades” – um eufemismo para navios usados, de segunda mão, mas ainda em condições de prestar serviços por, ao menos, 15 anos.
Nessa emergência, é possível que algumas regras impostas pelos almirantes brasileiros – como a de só comprar embarcação com, no máximo, 20 anos de uso – venham a cair por terra.
O pano de fundo dessa silenciosa caça aos usados é a indecisão, por parte dos organizadores da participação brasileira na Operação Unitas 56 – mês que vem (!) –, para definir um agrupamento de navios que não submeta a Marinha à vergonha de enguiços na propulsão, problemas nos hélices, panes elétricas, incêndios ou outros sinistros.
A Esquadra está suando para definir uma lista com ao menos seis embarcações de algum peso (a Armada chilena terá nove), aptas a representa-la neste que é o principal exercício naval do continente americano. A simples tarefa de ter que escolher quatro dos nossos cansados escoltas está tirando o sono de alguns almirantes sediados no Rio de Janeiro.
Itália – Os tais planos a que o oficial-general amigo desta coluna se referiu, envolvem classes de navios bastante conhecidas e prestes a serem desativadas, como a Maestrale italiana – barcos de 3.100 toneladas com dois sistemas de mísseis (antiaéreos e anti-navio), que começarão a deixar o serviço ativo no ano que vem.
Ocorre que as Maestrales foram todas comissionadas na metade inicial da década de 1980; já completaram, portanto, 30 anos de uso, e teriam mais dez ou 15 anos, no máximo, para operar sem se transformarem nos problemas que são, hoje, as fragatas Vosper Mk.10 conhecidas no Brasil como classe Niterói.
Mas esses não são os únicos navios que os italianos começarão a aposentar.
Corveta italiana classe MinervaNos próximos três ou quatro anos eles também darão baixa nas cinco corvetas da classe Minerva que, apesar de serem navios pequenos – 87 m de comprimento e 1.285 toneladas –, estão equipados com um lançador de oito contêineres de mísseis antiaéreos Aspide (que a Marinha brasileira já conhece) e foram comissionados há menos de 30 anos – entre 1987 e 1991. O grande problema dessas embarcações é que elas não possuem convés de voo para helicópteros.
Alemanha – Mais adequados que os barcos italianos seriam as fragatas F123 alemães, da classe Brandenburg: unidades de quase 4.500 toneladas (carregadas), com 19 ou 20 anos de uso, mísseis Exocet anti-navio e células para o lançamento vertical de mísseis antiaéreos. O problema é que há dúvidas quanto à sua disponibilidade.
Fragata tipo BrandenburgNo inventário da Marinha alemã a alternativa mais evidente seriam as duas fragatas da classe Bremen menos antigas: a Augsburg (F213) e a Lübeck (F214), navios não muito pesados (3.600 toneladas) mas que, por terem sido construídos em estaleiros diferentes, oferecem problemas de padronização, além de armamento antiquado. Ponto a favor: capacidade de transportar, cada uma, duas aeronaves tipo Lynx.
França – A Marine Nationale (corporação da qual a Marinha do Brasil se aproximou muito nos últimos 15 anos) opera três classes de embarcações que, por suas características e modernidade – construção entre o fim dos anos de 1980 e o início da década seguinte –, poderiam interessar à Força Naval brasileira: os destróieres de defesa aérea classe Cassard, de 4.500 toneladas, os navios antissubmarino tipo Georges Leygues, da mesma tonelagem, e as fragatas leves Floréal, de pouco menos de 3.000 toneladas.
A sequência mostra os escoltas franceses tipo Cassard, Georges Leygues e Floréal

Há, claro, outras alternativas, como as duas fragatas Karel Doorman da pequena Esquadra holandesa, de 3.300 toneladas, e as Type 23 britânicas mais antigas – tipo Duke –, de 133 m de comprimento e quase 5.000 toneladas de deslocamento, construídas na primeira metade dos anos de 1990.
Bela imagem de uma Type 23 classe DukeMas, aparentemente, tanto os navios holandeses como os da Royal Fleet ainda servirão às suas marinhas por, pelo menos, mais cinco anos.
Custo – A situação de fragilidade financeira vivida pelas Forças Armadas brasileiras impõem, à renovação da força de escoltas da Marinha do Brasil, uma outra limitação: a incorporação de embarcações cujo custo operacional não seja demasiadamente oneroso.
A Diretoria-Geral do Material da Marinha foi informada de que a US Navy pensa em antecipar a desprogramação de dois cruzadores da classe Ticonderoga, mas como a Esquadra brasileira conseguiria manter esses barcos, de 173 m de comprimento e 9.600 toneladas, que exigem uma tripulação de, aproximadamente, 400 militares?
Alguns navios da classe Ticonderoga já estão bastante desgastadosOs destróieres porta-mísseis mais antigos (Flight I) da classe Arleigh Burke, também estão em vias de ter a sua data de desativação anunciada, mas quanto dinheiro exigiria a operação e manutenção desses navios que, a plena carga, deslocam mais de 8.300 toneladas, e exigem uma tripulação em torno dos 330 homens e mulheres?
Destróier porta-mísseis classe Arleigh Burke (Flight I)É nesse mar de limitações que a Marinha de Tamandaré e Barroso precisará seguir em frente. Exibindo algo que os seus próceres, a bem da verdade, sempre demonstraram: coragem.
Fonte: http://www.planobrazil.com/exclusivo-ma ... as-usados/