recebido por mail
SÁBADO, 20 DE MARÇO DE 2010
INÊS DE MEDEIROS II
Excelentíssima Senhora Deputada Dona Inês de Medeiros,
Chère Madame
O IRRITADO teve, aqui há umas semanas, o topete de escrever uma carta a
Vossa Excelência sobre a importante matéria das viagens semanais de Vossa
Excelência, em classe executiva, a Paris, luminosa quão merecida cidade de
residência de Vossa Excelência.
Permite-se agora o cullot de voltar à augusta presença de Vossa Excelência.
Antes de mais, portanto (como diria o camarada Jerónimo), as mais humildes
desculpas pelo atrevimento deste seu servo e amigo.
Tem o IRRITADO seguido, com a admiração e a estima que, no fundo da alma,
nutre por Vossa Excelência, as vicissitudes por que tem passado a história
do ingente problema que a aflige: quem paga as viagens de Vossa Excelência a
Paris? Sim, Quem?
Parece que ninguém!
Anda meio mundo preocupado com o assunto, sendo o mais aflito de todos Sua
Excelência o Senhor Deputado José Lelo, mui Ilustre Presidente do
Conselho de Administração da Assembleia da República, entidade a quem, sem
sombra de dúvida, caberá mandar pagar as viagens de Vossa Excelência.
Ora, como é sabido, o insigne cidadão tem várias dificuldades do tipo
mental, coisa de que não terá culpa, uma vez que já nasceu assim. Daí que,
por mais voltas que dê ao limitado bestunto com que foi brindado pela
criação, não consegue encontrar o competente penduricalho orçamental onde
caibam os 1.200 euros que custa cada viagem/semanal em executiva (luxo!) de
Vossa Excelência.
Em que triste miserabilismo vive a Pátria do Senhor Dom João V!
Se Vossa Excelência andar por cá uns 10 meses por ano, teremos umas 45
viagens, o que, contas feitas, se cifrará nuns meros 54.000 euros, ou seja,
em moeda antiga, uns míseros 10.826.028.000 réis. Em 4 anos de mandato, a
coisa não passará, como é evidente, de 43.304.112.000 réis, ou, em moeda
republicana, 43.304 contos mais uns pós.
Tem Vossa Excelência toda a razão quando, solene e superiormente, declara
"não sei quem paga nem quanto custa". Era o que faltava, Vossa Excelência
preocupar-se com problemas destes, coisa para lelos e quejandos, gente de
somenos. Vossa Excelência não sabe, nem tem que saber, o valor em jogo.
"Nada disso passa por mim", declarou. Mais. Vossa Excelência, como é de
timbre entre os socialistas, não se preocupa com o assunto. "Escolhi uma
(agência de viagens), e passei a marcar por essa: telefono e recebo os
bilhetes". É assim mesmo! A altíssima dignidade de Vossa Excelência não
permite, sequer, que erga o mimoso cul da poltrona para tratar de coisas
menores. Como é óbvio, alguém traz o bilhete, alguém há-de pagar, Vossa
Excelência não desce a problemas de lelos. Viaja, e acabou-se. Muito bem!
Teve o IRRITADO a desfaçatez, na sua anterior missiva, de suscitar a
curiosidade de Vossa Excelência para o facto de haver cidadãos - ainda que,
como é lógico, gente de qualidade inferior à sua - que fazem
Lisboa/Paris/Lisboa por uns 150[ii] euros, no mesmo avião que Vossa
Excelência utiliza, mas lá para trás, com o cul não tão à larga e sem
champanhe nem refeição quente.
É certo que Vossa Excelência não tem que descer ao ponto de aceitar
sugestões do IRRITADO. Não pode este, porém, deixar de, com todo o respeito,
dizer que, se Vossa Excelência o fizesse, o Lelo gastaria 14,5 vezes menos
do que vai acabar por gastar com as viagens de Vossa Excelência.
Tudo isto não passa, como é evidente, de fruto da mentalidade capitalista do
IRRITADO, coisa incompatível com a majestática dignidade socialista de Vossa
Excelência.
20.3.10
António Borges de Carvalho
Lelo - doido, vaidoso (Dicionário Universal da Língua Portuguesa, Texto
Editora).
[ii] Algo me diz que Vossa Excelência, antes de subir ao altar doirado em
que se encontra, viajava por 150 euros, como a plebe. Agora, já nem quer
saber quanto custa, ou custava, a sandocha e o assento apertadinho. Pois faz
Vossa Excelência muito bem! Socialisme oblige.