Vamos por partes, caro AC:
O Tridente representa 350M EUR a menos que se vão poder gastar com a administração pública, sistema de nacional de saúde, educação, etc em 2010. E o Arpão representa outro tanto em 2011.
Essa regra de contabilizar o total da despesa de aquisição no ano em que se recebe o equipamento foi emanada do Eurostat. Na minha opinião um erro crasso.
350 milhões de euros não é nada de especial no nosso OE. Comparar isso com aquilo que eventualmente se deixa de gastar em sectores como a saúde e a segurança social é completamente demagógico. Se soubesse o desperdício e sorvedouro de dinheiro que é o ministério da saúde graças à desorganização e, principalmente, aos interesses que gravitam em torno deste, deitava as mãos à cabeça. E estamos a falar de um ministério que mais coisa menos coisa “derrete” 7.000 milhões de euros ao ano. O mesmo se podia dizer da segurança social.
Esses tais 350 milhões também deixaram de ter o “dramatismo” que alguns lhe davam há uns tempos atrás a partir do momento em que a Comissão Europeia flexibilizou a norma para manter os défices públicos abaixo dos 3%. É só ver o que se passa por essa Europa fora. É só ver os milhões que por cá são agora anunciados todos os dias em obras e projectos mais que questionáveis e duvidosos.
A longo prazo, são 700M EUR que vão sair dos cofres do Estado para não mais voltar.
Desculpe mas isso não está correcto.
As contrapartidas oferecidas pelo GSC totalizam 1.210 milhões de Euros, que entrarão no OE de forma indirecta, em forma de impostos (dos trabalhadores que graças a essas contrapartidas terão emprego para consumir e pagar, por exemplo IVA e IRS, das empresas que também graças a essas contrapartidas gerarão matéria colectável que serão obrigadas à pagar ao estado em forma de IRC), ou se quiser, e ao contrário, essa carga de trabalhos permitirá ao estado pagar menos subsídios de desemprego a esses mesmos trabalhadores que se não fossem as ditas contrapartidas poderiam estar eventualmente no desemprego.
Os 1400M EUR que a CGD já injectou no BPN, mais os que há-de injectar, são um investimento da CGD numa coisa que vai dar prejúzo e que a CGD de outra forma poderia ter investido em algo mais lucrativo. Mas em qualquer caso, é dinheiro da CGD que seria investido nalguma coisa. Não são 1400M EUR que vão ser retirados à despesa do OE.
A longo prazo, o Estado vai pagar, de uma forma ou doutra o prejuízo desta operação. Mas nem esse prejuíuzo há-de ser a totalidade do dinheiro injectado no BPN nem há-de se reflectir todo no OE de um ano.
Esse prejuízo não será reflectido no orçamento de um só ano, de facto, mas será reflectido no orçamento de MUITOS anos consecutivos e seremos todos nós a pagar isso. Os reforços de capital da CGD são feitos através de emissão de divida pública, e essa mesma dívida pública somos nós que a pagamos.
A curto prazo, o projecto ferroviário de alta velocidade não vai ser uma despesa do Estado. A despesa do Estado com isso vai ser a longo prazo nos 40 anos que se sequirem à conclusão das linhas. E provavelmente, ao fim de 40 anos há-de ser bem mais que 15.000M EUR...
Quanto mais tempo se dilatar uma dívida no tempo mais iremos pagar por ela. Isto é óbvio, mas parece ser a prática comum da nossa sociedade e deste governo em particular, as fugas para a frente. Quem vier depois que pague! Irresponsável. Para já não falar do absurdo do projecto do TGV em si e dos valores associados.
O Joe Berardo? Não há política nisso. O Joe Berardo obteve empréstimos de vários bancos em 2007. Esses bancos emprestaram-lhe dinheiro não porque gostem da cara dele mas porque gostam dos juros que ele ia pagar sobre o empréstimo.
Com os problemas do BCP e a crise financeira, as garantias dadas na altura do empréstimo perderam valor e as possibilidades de a CGD e os outros bancos reaverem a totalidade do que o Berardo lhes deve nos prazos contratados é nula.
Por isso, a CGD e os outros bancos re-negociaram os empréstimos concendo prazos adicionais em troca de garantias adicionais.
Business as usual.
As principais decisões da CGD são políticas. Quem é que acha que boicotou a opa da SONAE sobre a PT?
