Dizia-me esta semana o presidente português do ramo de uma grande multinacional instalada em Portugal: o TGV entre Lisboa e Madrid vai ser mais um argumento para as grandes empresas transnacionais se instalarem em Madrid e gerirem os mercados espanhol e português a partir daquela capital.
Que lógica batatal. Também se pode argumentar que transportes mais rápidos e cómodos entre Madrid e Lisboa podem levar empresas a se instalarem em Lisboa (ou Porto, vs Vigo) para melhor gestão regional/condições fiscais. Depende do modelo de gestão das empresas, das prioridades medidas na escolha da sede, e mais um milhão de factores que variam de empresa para empresa. Por essa ordem de ideias devíamos dinamitar as pistas da Portela...
Mesmo descontando o facto de com a ligação a Lisboa, Madrid se tornar o indiscutível centro da Península Ibérica
!!
Mas este caro senhor Nicolau viaja na TARDIS? Centro indiscutível é-lo há séculos! Basta ser a capital do maior Estado da Península. Não o é menos por ter melhores ou piores ligações a Lisboa - esta é que pode ser mais ou menos periférica. E digo-o com mágoa, que sou um apaixonado por Lisboa.
Temos, aliás, a cobertura do presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, para adiar esse investimento - e contaremos com o bom senso de Bruxelas quando dissermos que postergamos o projecto para voltar rapidamente a um défice abaixo dos 3% e a uma dívida inferior a 60% do PIB.
Isto é pura e simplesmente falso. A comissão nunca afirmou tal coisa, não é o Barroso que decide as ajudas, e mesmo que fosse, estas coisas negociam-se a quadros de vários anos, não se adiam sem mais nem menos.
O artigo da semana passada de Daniel Bessa no Expresso era arrasador. Vamos ter de reduzir em dez mil milhões de euros por ano o défice orçamental para chegar a 3% do PIB em 2012.
Portanto, 30.000.000.000 ao longo de 3 anos. E é o TGV, que custa 6.000.000.000 ao Estado (algum do qual vem de volta em impostos) que vai fazer a diferença? Não estou convencido.
Dito isto, também não sou nenhum radical do TGV. Façam-no ou não, pouco me afecta, mas não gosto de estórias mal amanhadas.
By the way,
um artigo interessante sobre a divida externa.