Caro AC, não estava a responder-lhe a si, mas tenho todo o prazer em debater consigo.
O prazer é mutuo.

. A questão chave é o factor temporal. Num futuro não sei, admito que sim. Quando o país estiver económica e financeiramente saudável, quando existirem mais países na rede, quando os custos tecnológicos sejam inferiores (talvez MAGLEV?). Agora, o que para mim é claro, é que neste momento é que não.[/quote]
Eu já vi dizer que o TGV não se adequa, o que no meu entender é um "jamé" mas não era esse o meu ponto.
O que estava a dizer é que muitas das pessoas que dizem para não fazer (agora ou mais tarde) dão, como alternativas, algo que traduz alguma... superficialidade.
Por exemplo, e falando de um caso concreto, temos os 27 economistas que há uns tempos emitiram um comunicado a dizer para não fazer o TGV por agora. No mesmo comunicado lia-se que deve ser dada _prioridade_ à modernização da ferrovia convencional e ao transporte de mercadorias. Mas sem apresentar valores para esse investimento, claro!
Ao sugerirem isso, não posso deixar de inferir que essas 27 pessoas não estão suficientemente conscientes do problema da linha do Norte e dos custos da resolução deste.
A não ser que se tome o argumento do endividamento como absoluto, é claro que estas 27 pessoas não estão capacitadas para fazer uma análise custo benefício de fazer ou não o TGV. E o argumento do endividamento não é absoluto: pode-se sempre argumentar, como este Governo tem feito, que os benefícios económicos do TGV ultrapassam os custos da dívida.
Igualmente, não tenho visto criticas "substanciadas" às análises custo/benefício que estão publicadas.
E tenho visto opinões muito duvidosas. Até já vi pessoas respeitáveis afirmar que as externalidades não devem ser contabilizas na análise custo/benefício. Que os valores das externalidades são sempre muito duvidosos é verdade. Mas que não devam ser contabilizadas... é dizer que quase todo o investimento público não tem benefícios.
Daí, e respondendo à sua pergunta, dou um *grande* "benefício da dúvida" aos Governos que se propuseram a fazer o TGV, a começar pelo do Durão Barroso e aos estudos que foram feitos desde então. Os ditos estudos afirmam que, o benefícios do TGV para a economia nacional vão ultrapassar os encargos e neste momento, aceito isso como realista.
Na questão do endividamento, a questão não é simplesmente quão grande é a nossa dívida, é se conseguimos pagar as prestações ou não.
No geral, estamos tramados: o nosso crescimento nos últimos anos tem sido demasiado baixo.
Mas, presumindo que os benefícios do TGV são superiores aos encargos, então o TGV não agrava o problema, alivia.
Não há obras "baratas" que resolvam este berbicacho. A solução passa mesmo por uma nova linha, e esta nunca custará menos de 90% da linha TGV Lisboa/Porto.
Já vi números que apontam para os 60%
Os meus 90% vêm, com um pouco de "educated guessing", de um estudo que, supostamente, foi feito no tempo do Durão Barroso que comparava alternativas de linhas com velocidade máxima de 300 e 250 km/h para o TGV Lisboa/Porto. O "educated guessing" contabiliza a possiblidade de fazer a linha em bitola ibérica, poupando €€ na entrada de 1 ou 2 cidades.
Não sei onde foi buscar os 60% pelo que não posso criticar concretamente.
Mas vou deixar um aviso genérico: aparecem muitos números que comparam custos de construção de linhas AV com linhas "convencionais", mas nas minhas cusquices, cheguei à conclusão que os custos de construção de uma linha de caminho de ferro (ou de uma estrada, já agora) são brutalmente mais dependentes do trajecto do que das características técnicas da linha em si.
Para ter uma ideia do quanto isto varia, deixo-lhes alguns números de vários casos:
- Linha AV Lisboa/Porto: vel. max 300 km/h, via dupla, carga 17t/eixo, preço médio previsto 15M EUR/km
- Linha AV Poceirão/Caia: vel max 350 km/h, via dupla, carga 22,5t/eixo, preço médio previsto 11M EUR/km
- Variante de Álcácer do Sal,na linha do Sul: vel. máx 160 km/h, carga 22,5t/eixo, via única com espaço para 2ª via, preço médio (em execução) 5M EUR/km.
- Linha de carga Betuwe, entre a Alemanha e a Holanda: vel. max 120km/h, carga 22,5t/eixto, via dupla: preço médio (em funcionamento) 29M EUR/km. Não, não me enganei.
Todas estas linhas são electrificadas (25 kV) e com sinalização automática. Basicamente, o que acontece é que o método, materiais e custos construção da via em si pouco difere entre todas estas linhas. São as questões "externas" que causam a disparidade de custos: custos de expropriação de terreno, obras de arte, minimização de impacto ambiental, etc
O que o país precisa urgentemente é de criar um clima económico favorável para que as empresas produzam e o país possa atrair investimento. Isto passa por investir e reformar a justiça, baixar impostos as empresas, desburocratizar a administração pública, criar flexibilidade laboral, entre outros. Pergunte aos empresários (mas não aos das grandes empresas construtoras).
Concordo 90% consigo.
5% de discordãncia 1: Como deve saber, uma percentagem insustentavelmente grande dos portugueses estão ligados, directa ou indirectamente, à construção civil, e devemos grande parte da nossa crise (a que vem de ~2003, não a do sistema financeiro) a isto. A médio/longo prazo devemos fazer um designio nacional de corrigir esta situação. Mas a curto prazo, precisamos de dar um balão de oxigénio a esse sector: sem empregos não há consumo, sem consumo não há espaço para o crescimento de empresas noutros sectores.
5% de discorância 2: Também precisamos de diminuir os nossos custos de transportes e custos de importação de petróleo.