Embora seja a favor de Portugal entrar para um consórcio sul europeu com MRTT, já que possibilita operações a escalas maiores e mais a nível estratégico, concordo que Portugal deve ter capacidade de reabastecimento em vôo soberana para atuar no triângulo estratégico ou apoiar destacamentos relativamente pequenos, como o BAP. Até aqui, acho que estamos todos de acordo, certo? Agora a parte polémica (para alguns, pelo menos)… eu acho que esta capacidade soberana tem todas as condições para ser garantida por 2-3 KC-390 com boom. Portugal e a FAP bem poderiam contribuir para o desenvolvimento dessa versão.
Segundo a Embraer, eles estão a pensar em capacidade modular e não numa versão dedicada, pelo que estou convencido que Portugal deveria adquirir uma frota total de cerca de 10 aparelhos, divididos pelas Esq. 501 e 506, bem como uns 2-3 kits de reabastecimento aéreo e mais 2-3 da versão ISR que está agora a ser desenvolvida. Eventualmente, mais tarde, se a versão MPA/ASW vier a ser desenvolvida, podiam comprar mais uns 6-10 para substituir os P-3 na 601 e na nova esquadra nos Açores. No meu cenário ideal, Portugal entraria no consórcio MRTT sul europeu e acabaria com uns 16-20 C-390 e uns 12-15 drones MALE (como descrevi no tópico sobre UAVs na FAP) para desempenhar todas estas funções.
Os KC-390 com boom ainda não existem, e a sua existência depende quase inteiramente da USAF querer ou não este tipo de avião. Com as conversas em torno de reabrir a linha de produção do C-17, não me surpreendia que desenvolvessem um kit para o C-17, para assim justificar a abertura da linha de produção do C-17 com uma grande encomenda da USAF. Se isto acontecer, o 390 tem muito menos chances.
Se assumirmos que uma variante do KC-390 com boom de facto existiria, ainda terias que ter em conta a relação custo/capacidade. Quantas horas on station, quantos F-16 (ou F-35!) conseguiria abastecer antes de ficar sem gasosa, quantas horas on station pode ficar em função do raio de acção? Se no fim concluíres que estás a pagar 75% do valor de um MRTT, para ter apenas 50-60% das capacidades, então não compensa.
E isto sem contar com o MRTT poder ter apoios da UE.
Se for uma variante modular, que permita colocar o "boom" num KC-390 normal, aí o caso muda de figura, pois na prática só terias de pagar pelo kit, já tendo 6 KCs na frota.
Variante ISREsta só faz sentido para Portugal, se for possível pegar numa aeronave existente, e colocar os kits. Comprar aeronaves adicionais para ISR não fazia sentido nenhum, sobretudo quando cada uma custará sempre 9 dígitos, quando esta missão pode ser cumprida por um UAV MALE sem problemas, e até mesmo pelos C-295 VIMAR.
Variante MPAO futuro MPA da FAP devia ser um modelo com um excelente pacote de sensores, e que pode levar uma boa quantidade e variedade de armamento, além de poder ficar bastante tempo on station. Neste sentido, o A321 Neo MPA, com possibilidade de entrada de Portugal no programa, faz mais sentido. Este por ser baseado numa aeronave civil, não terá problemas com peças para manutenção.
O número pylons para armas passa também a ser extremamente importante, pois a aeronave deveria ser capaz de desempenhar missões ASW e ASuW no mesmo voo, e servir de plataforma de lançamento de armamento stand-off. Particularmente para futuros mísseis tipo LRASM-XR, e quiçá hipersónicos ou ALMBs.
Variante MPAAcho que estamos todos de acordo que recorrer a UAVs MALE AEW é a solução mais racional para Portugal, pelos custos e número de plataformas que daria para adquirir, e claro pelo endurance.
Se a ideia fosse comprar aeronaves tripuladas, então os GlobalEye em Bombardier G6000 fazem mais sentido. A aeronave base (G6000) é à partida consideravelmente mais barata que o C-390 base, a versão AEW já está desenvolvida (desenvolver uma variante AEW do 390 teria custos), o G6000 tem consideravelmente maior alcance, RCS mais reduzido à partida, tecto de serviço mais alto, custos de operação provavelmente mais reduzidos e é baseado num modelo civil, com vantagens para a sustentação da frota.
Se calhar antes de tentar inventar todas as variantes imagináveis para o 390, devíamos primeiro avaliar o que há no mercado e ver o que realmente compensa.