Por curiosidade, " dar mama" onde? Em que previsiveis situações?
Com "dar mama" refiro-me à capacidade de reabastecimento no ar (creio que percebeu). Em que situações, é impossível fazer previsões se um dia vamos precisar de usar os caças para atacar alvos noutro país, mas a existência de um par de MRTTs na FAP (ou estacionados em Portugal como parte do consórcio NATO) alargava o leque de opções (inclusive ofensivas e defensivas).
Dava à FAP capacidade de intervenção no Atlântico, que é a nossa maior área de interesse. No séc. XXI não vamos ter bombardeiros a sobrevoar a capital para largar bombas, qualquer ataque será feito à distância com recurso a armas de longo alcance (stand off), e como tal é necessário ter capacidade de interceptar as aeronaves longe da costa. Também confere pela primeira vez capacidade de defender a Madeira sem depender das pistas das ilhas, e dado que não há vontade nem capacidade para destacar lá F-16 de forma permanente, esta é a solução. Também viabiliza ainda mais a utilização dos F-16 na função ASuW. Além de que o MRTT não abastece apenas F-16. Fora todas as outras missões que o MRTT pode desempenhar.
Nós a atacar alguém só o consigo imaginar sob ordens da NATO, e neste caso "mamamos" na frota deles.
Quanto a defender o território, em Espanha não podemos entrar e a sul a área a cobrir não cria problemas com as bases existentes no continente.
No mar, o que me parece uma aberração é a não existência de, pelo menos, um destacamento de F16 em Porto Santo e outro nas Lajes.
No caso das Lajes, ainda mais grave pela existência da base.
Mas com cada vez menos unidades até percebo...
O problema do tuga é mesmo esse, nunca nos imaginamos numa situação de aperto. Até a nível económico somos assim, desperdiça-se dinheiro por se achar que nunca vai fazer falta, e depois é o que se vê. Se as coisas se complicam, somos sempre apanhados de calças na mão.
Não vamos entrar por Espanha a dentro, mas num cenário hipotético que fossemos atacados pelos nossos vizinhos, era inviável operar os F-16 a partir de Monte Real, pois as distâncias são muito curtas, e os Espanhóis não teriam quaisquer dificuldades em dizimar as nossas bases continentais. Com os MRTT, podes operar os caças a partir dos Açores. Quem diz Açores diz Madeira, para apoiar missões de apoio aéreo num qualquer TO em África. Convém frisar que a NATO beneficiava com mais aeronaves com capacidade AAR, já que não possuem infinitos, e não existe nenhuma em Portugal para nos ajudar se surgisse a necessidade repentina de interceptar um Bear russo no meio do Atlântico.
Não existe destacamentos nos arquipélagos porque é visto como "desnecessário", sobretudo nos Açores, que não vão ter muitas aeronaves civis para interceptar. O problema é quando tivermos que interceptar aeronaves militares. Outra das razões é que é caro ter vários destacamentos, é um pesadelo logístico enviar caças, sobressalentes, armamento, os pilotos, os mecânicos, as famílias, etc do continente para as ilhas. Depois os caças são poucos, existe a dúvida se conseguiríamos manter de forma consistente os caças do QRA continental mais 2 em cada arquipélago em simultâneo, e ter pilotos para isso e ainda ter capacidade para missões/exercícios NATO. Juntemos a isso, o interesse da FAP em F-35, avião esse que se viesse a ser adquirido, precisa de "cuidados especiais", o que encarecia ainda mais os destacamentos.
Enquanto isto, o MRTT até se torna a solução mais barata a longo prazo, e também a mais "duplo-uso". Se tivesse que escolher gastar entre 150 a 250 milhões por avião, na compra de 2 aeronaves de transporte, seria sem dúvida o A-330 MRTT.
Não se perspetivam novos contratos nos próximos anos, como disse, existem C-130H usados aos pontapés e com programas de modernização muito apetecíveis.
O KC-390 será um nado com poucos anos de vida...
Hoje em dia, os países que andam a reforçar a sua capacidade militar, não se estão a focar nos aviões de transporte, salvo algumas excepções. Quem tem pouco dinheiro não só tem outras prioridades, como prefere algo mais barato. Quem tem muito dinheiro, salta logo para A-400 ou C-17 e/ou já tem a versão mais recente do Hércules, portanto não faz sentido equacionar o KC-390.
O "selling point" do KC-390, era o preço. Era suposto ser mais barato que o C-130 e ao mesmo tempo ser superior, o que no papel lhe dava tremendas oportunidades de venda, tendo até capacidade de competir com os modelos russos, chineses e ucranianos. No entanto, lembraram-se de colocar um preço exorbitante pelas aeronaves, o que afectará certamente as vendas.