https://cnnportugal.iol.pt/fragatas/fremm-evo/fragatas-italianas-que-portugal-pondera-comprar-precisam-de-mare-especial-ou-de-obras-de-dragagem-para-entrar-no-alfeite/20251126/69272cb5d34e3caad84bbd2bFragatas italianas que Portugal pondera comprar precisam de "maré especial" ou de obras de dragagem para entrar no Alfeite

Regulamento portuário define que o canal de acesso à Base Naval tem uma cota de serviço de seis metros e uma referência máxima de 135 metros de comprimento, limites que as fragatas italianas ultrapassam. Para não tocarem no fundo, os navios ficariam dependentes da maré alta para sair para missão ou de obras de dragagem
As fragatas italianas FREMM EVO, que o Ministério da Defesa está a considerar adquirir para renovar a frota portuguesa, ultrapassam as dimensões de referência para a navegação no canal de acesso à Base Naval do Alfeite, o que condicionará a operação destes navios no Tejo a períodos de maré alta para poderem entrar e sair da própria base.
A CNN Portugal cruzou as especificações técnicas das navios italianos que o Ministério da Defesa está a ponderar comprar com o Regulamento de Autoridade Portuária de Lisboa (APL) e detetou incompatibilidades entre os navios pretendidos e as infraestruturas atuais do Alfeite.
Segundo o Regulamento da APL, os navios que se destinam à Base Naval têm como referência um comprimento máximo de 135 metros, sendo o acesso feito através do "Canal do Alfeite", a única via de acesso, que tem "uma cota de serviço" de seis metros de profundidade. Mas com 145 metros de comprimento e um calado superior a oito metros, as fragatas italianas excedem os limites operacionais padrão, o que pode impedir a entrada ou saída em situações de emergência ou maré baixa, ficando a frota refém das "condições meteorológicas e de maré" para aceder ao cais.
Isto significa que, em condições normais de maré baixa ou média, o navio poderia tocar no fundo. O próprio regulamento da APL prevê que navios com características excecionais fiquem com as manobras "condicionadas ao período de enchente".
Para contornar estes constrangimentos seria necessário fazer a dragagem do fundo do canal, algo que não seria inédito na história da marinha portuguesa. Quando Portugal adquiriu os submarinos aos alemães da Howaldtswerke-Deutsche Werft, em 2004, foi necessário proceder à limpeza do fundo do canal.
Além disso, a largura da doca seca do Arsenal do Alfeite também se apresenta como estreita demais para a fragata italiana. A FREMM EVO tem 20 metros de largura, uma dimensão que não lhe permite ser levada para a doca seca do Alfeite para reparação, uma vez que a estrutura tem apenas 18 de largura.
Apesar de o ministro da Defesa, Nuno Melo, garantir que ainda não existe nenhuma decisão tomada acerca da compra das novas fragatas da armada, Portugal assinou esta quarta-feira um acordo de cooperação com Itália, numa cerimónia oficial no Forte de São Julião da Barra, que contou com a presença do homólogo italiano Guido Crosetto.
De acordo com declarações do ministro à agência Lusa, a decisão da escolha da fragata "é fundamentalmente técnica", sublinhando que são os três ramos das Forças Armadas e a Direção-Geral de Armamento e Património da Defesa que vão aconselhar a tutela sobre aquilo que melhor serve o país, tendo em conta o "atual contexto geopolítico", admitindo que a dimensão destes investimentos são "para uma geração".
A outra concorrente é a Fragata de Defesa e Intervenção (FDI) do grupo estatal francês Naval Group. Ao que a CNN Portugal conseguiu apurar junto da empresa francesa, a proposta chegou ao governo no final do mês passado e o negócio pode aproximar-se dos três mil milhões de euros por três embarcações, naquela que poderá ser a aquisição militar portuguesa mais cara deste século. Os valores rondam os 800 e os 900 milhões de euros por navio