Há um conceito no qual já pensei algumas vezes, e que me lembrei novamente agora com estas últimas discussões de fragatas ASW com sensores AAW de topo mas número limitado de vls, e depois de ver esta notícia
https://www.navalnews.com/naval-news/2025/09/large-remote-missile-vessels-german-navy-plans-to-procure-unmanned-arsenal-ships/ Isto talvez seja já um pouco off topic, mas decidi partilhar o que tenho pensado sobre o assunto.
A Alemanha vai apostar em LUSV como forma de aumentar o vls count de forma adhoc. Os EUA e a Holanda também estão a seguir este caminho. Os três países têm racionais e doutrinas de uso diferentes para os LUSV, mas há dois pontos comuns: 1) mais VLS na frota e 2) maior modularidade. Infelizmente este conceito e tecnologias estão numa fase demasiado inicial para que Portugal possa aproveitar, mas acho que conceptualmente seria muito interessante para a nossa marinha de meios limitados. Porque assim, em vez de se dividir a capacidade em 2 AAW + 4 ASW ou 3 AAW + 3 ASW, poderíamos ter 6 ASW que, com a sua suite AAW e estas mulas de munições, poderiam então desempenhar funções AAW.
Digamos que comprávamos as tais F110 por exemplo, e também LUSV com 32 células. Teríamos 6 fragatas capacitadas para quase todo o tipo de missão, em particular ASW. Para as missões em que necessitariam de maior magazine depth, aloca-se essa capacidade juntado uma mula à fragata. Junta-se por exemplo uma F110 a uma das mulas e passamos a ter um navio AEGIS com 48 células, que pode ir para o Mar Vermelho com 44x SM2 e 16x ESSM, munição que chega e sobra para cumprir a missão. Um exemplo extremo: é preciso formar uma força-tarefa sem apoio da NATO para defender a Madeira de alguma ameaça. Integram-se 3 fragatas com duas mulas cada e temos 240 vls (eu sei, eu sei, enchê-los são outros quinhentos...). Outro use case também um bocado imaginário: se por algum milagre comprássemos misseis de cruzeiro, as hipotéticas F110 teriam de sacrificar parte das suas já limitadas 16 células para transportar os misseis e ainda assim transportariam poucos. As mulas resolveriam este problema.
Em resumo, diria que:
Ponto positivos
- Principal factor: modularidade (capacidade de aumentar de forma adhoc o magazine depth duma força)
- Distributed lethality
- Maior redundância em combate, em caso de falha técnica ou danos
- Permitiria então termos uma classe uniforme de 6 navios voltados para a nossa missão principal: ASW
- Maior disponibilidade de meios AAW (em vez de 2 ou 3, qualquer das 6 fragatas pode potencialmente assumir a role. E os próprios LUSV têm maior disponibilidade que navios tradicionais)
- Ao ter os VLS noutra plataforma, não se está a tornar o navio ASW mais pesado e potencialmente impactando a sua performance no mar
Pontos contra
- Há o trade-off de resiliência vs custo. Quanto mais resiliente se fizer o LUSV mais caro fica e menos justifica esta opção em vez de construir navios tradicionais
- Relacionado com o ponto anterior, se a fragata-mãe é perdida, é possível recuperar o LUSV? Mesmo que se mantenha a comunicação, o drone fica sem sensores e vulnerável... Ou então pomos sensores, CIWS, etc, e ficamos com uma fragata...
- Sem tripulação, quem faz damage control?
- A comunicação entre o comando e o drone pode ser interrompida? Ou até, o controlo do drone pode ser hijacked?
- Os misseís estarem numa outra plataforma acrescenta todo um conjunto de novos point of failure.
(nos pontos contra não coloquei os óbvios relacionados com o facto de serem tecnologias e conceitos novos. Isso é um given e eventualmente são ultrapassados)