Não me parece que seja uma tragédia ficar sem um avião de instrução avançada a reacção. Dito isto, pessoalmente lamento profundamente que tenha sido essa a opção, pois é mais uma capacidade que se perde (e que duvido muito que se venha a recuperar num horizonte temporal razoável).
Também creio que a opção de mandar pilotos aos EUA fazer a formação avançada de combate em aviões a reacção (algo que, aliás, já se faz há muitos anos), deixa bem evidente que os Turboprops, por muito boas características que apresentem nalguns modelos (como é o caso do Pilatus PC-21), nunca irão conseguir substituir-se completamente aos aparelhos de instrução a reacção.
Já ouvi muitos números sobre os custos de formação de um piloto. Ultimamente, o que se dizia por aí era que o custo médio de formação de um piloto pela FAP rondaria o milhão de euros. Não sei como é que esses custos são calculados, mas admito que entrem para os cálculos a soma de todos os custos nos anos de Academia (com alimentação, fardamento, custo/hora lectiva), mais o valor das horas de vôo (sucessivamente em planadores, Chipmunk, Epsilon e Alpha Jet), o custo do armamento utilizado em treino e o custo de algumas formações especificas (cursos como os de Fuga & Evasão e Sobrevivência). Atendendo ao tempo que leva e aos factores implicados, um milhão de euros até nem será um valor particularmente elevado.
Da mesma forma, mandar um individuo para os EUA, onde vai permanecer um ano, primeiro a aprender a pilotar um T-38C, e depois a ter formação de vôo avançada no mesmo aparelho, com tudo o que isso implica em termos de custos com formação em sala, alojamento, alimentação, horas de vôo (e outros factores que provavelmente não estou a considerar), é algo que não pode necessariamente sair muito barato. Se calhar, 1,7 ou 1,8 milhões de Euros por piloto até nem é um valor assim tão disparatado.
Agora, contas são contas… e quando entramos nas ditas….
Um avião a reacção novo, tipo M-346 ou Hawk, deverá andar pelos 25 milhões de Euros a unidade. À compra terá de se somar a manutenção dos aparelhos e a manutenção de uma esquadra (instalações, pessoal, etc.). Se pensarmos que seriam sempre necessárias um mínimo de 6 a 7 unidades, estaríamos a falar de um valor de aquisição na casa dos 150 / 175 milhões de Euros, a que teria de se somar o custo da manutenção da esquadra.
Ora, com uma média de cerca de 12 pilotos a saírem anualmente da AFA (pelo menos foram esses os números que consegui ver por aí), e partindo do principio de que vão aos EUA apenas aqueles que se destinam às esquadras de F-16 (o que deve dar uns 4 ou 5 por ano), estaríamos a falar de um custo com formação avançada de combate em aviões a reacção entre os 7 e os 9 milhões de Euros anuais versus os tais 25 milhões de custo unitário de aquisição de cada aparelho (sem considerar a respectiva manutenção e os custos de manutenção da esquadra). Ou seja, grosso modo, 3 anos de formação nos EUA para cada avião novo, o que significa que somente os custos de aquisição acabam diluídos em 18 a 21 anos.
Mais uma vez, lamento profundamente a decisão de acabar com a instrução avançada em aviões a reacção na FAP, mas percebo o peso dos números.

Já vendo a coisa na perspectiva dos EUA, dar formação a pilotos estrangeiros é um excelente negócio. Basta pensar que todos os anos devem por lá ser formados largas centenas de pilotos estrangeiros. A cerca de 2 milhões de dólares cada, dá para pagar os custos de aquisição de vários aparelhos por ano.
:sil:Foi pena não termos pensado nisso em devido tempo, pois provavelmente o que estaríamos agora aqui a discutir era se o modelo que tínhamos a voar na FAP tinha sido melhor ou pior opção do que outros existentes no mercado.