Caríssimos, não nos precipitemos nas conclusões apenas por causa de um único artigo (e de uma revista que está longe de ser uma referência de exactidão).
Vejamos:
Navios em seco
Começa logo mal: estão a flutuar, mas enfim...
A entrega de "patrulhões" à Marinha leva quatro anos de atraso. Agora o ministro da Defesa quer reavaliar a aquisição deste equipamento. COMENTE
Francisco Galope
10:12 Quinta-feira, 5 de Mar de 2009
O programa de aquisição de navios para a Marinha, concebido a dois meses das eleições de Fevereiro de 2005 pelo então ministro da Defesa Paulo Portas,...
Errado. O programa foi concebido muitíssimo antes, no tempo do eminente António "É Só Fazer as Contas" Guterres, que andou seis anos a dizer que sim, que sim, que iria reequipar a Marinha e que os submarinos eram uma grande despesa mas que eram necessários, e
num certo dia discursou ao país, com transmissão em directo no Telejornal, desde o convés de uma corveta, dizendo «O grande destino de Portugal é o Mar.»
Os resultados são conhecidos.
O contrato com os ENVC, para construção dos dois primeiros NPO é de Outubro de 2002. Dos NCP é que foram em 2004.
...vai sofrer uma alteração radical. Criado por uma resolução de Conselho de Ministros de Dezembro de 2004 e com um investimento previsto de 480 milhões de euros em uma década, já leva quatro anos de atraso em relação ao inicialmente agendado e nenhum dos dois projectos contemplados - compra, aos estaleiros de Viana do Castelo, de seis navios de patrulha oceânica (NPO) e de cinco lanchas de fiscalização costeira - foi alguma vez contratualizado.
A sério?... Não é disso que eu me lembro.
A intenção de dotar a Marinha de navios de patrulha vem dos anos 90, mas só se consubstanciou em 2002, com o contrato entre o Governo e os Estaleiros Navais de Viana do Castelo para a aquisição de um NPO com a opção de um segundo que viria a ser assinada em Maio de 2004. Ou seja, o que neste momento existe formalmente são contratos para a compra de apenas dois NPO.
Então em que é ficamos? Existem contratos ou não?
Os cascos destes navios foram lançados à água em 2005, ano em que esteve prevista a primeira entrega à Marinha. Mas, desde então, avolumaram-se os problemas. Primeiro, o atraso deveu-se a falhas nos motores. Mas houve também problemas de relacionamento entre a Marinha e os estaleiros. Agora, soube a VISÃO, todo o programa vai ser reavaliado. Uma das soluções em cima da mesa pode passar pela contratação da construção, em Viana do Castelo, de um navio de combate à poluição, adaptando o design dos NPO que estão em construção, e de oito lanchas de fiscalização costeira.
Fantástica investigação da Visão: conseguiram descobrir uma coisa que se sabe há anos... E uma das primeiras decisões do actual governo, em 2005, foi precisamente reduzir o número de NPOs de 10 para 8 e de aumentar as LFC de 5 para 8.
O gabinete do ministro da Defesa não adianta pormenores, dizendo que se está a "avançar em várias frentes", mas confirma que o caminho traçado pelo actual ministro, Nuno Severiano Teixeira, é o de mandar construir mais lanchas e menos "patrulhões". Uma fonte oficial justifica a reviravolta: "Depois da resolução de 2004, a Armada sentiu a necessidade de readequar os meios às missões que desempenha e o Ministério está a estudar a possibilidade de fazer essa readequação."
Nada de novo. Conversa fiada.
Razões do atraso
Em Novembro do ano passado, o ministro da Defesa reconheceu, no Parlamento, que os navios "tiveram um problema" e que a aprovação do projecto não foi fácil, porque os estaleiros "têm uma larga experiência na construção de navios de natureza civil, mas não a tinham na construção de navios de natureza militar".
Pois mas já tinha havido um inquérito em 2007, pelo que isso não era propriamente a descoberta da pólvora.
Antes, em Maio de 2007, também na Assembleia da República, o ministro não podia ter sido mais explícito: "O atraso tem a ver com alguns problemas de natureza técnica e com o entendimento entre os estaleiros e os requisitos da Armada." E, reconhecendo o "atraso e uma certa inércia", garantiu: "Agora as coisas rearrancaram e eu próprio dei indicação no sentido de que se trabalhasse afincadamente, justamente naquilo que era a falha, ou seja, na capacidade de diálogo e no encontro entre os requisitos técnicos da Armada e a capacidade dos estaleiros .
...Ou seja, e segundo a Visão, o raciocínio do Ministro em Novembro tem seguimento no raciocínio de seis meses antes. Assim se compreende que as declarações de há 4 e 10 meses atrás sejam notícia em Março de 2009. Estes flashbacks são complicados de seguir, sobretudo quando não dizem realmente nada de concreto. Mas é interessante saber que em Maio de 2008, com mais de 3 anos em funções é que o Mnistro se decide a dar indicação para se trabalhar afincadamente... «Agora as coisas rearrancaram»!
"Isso foi há quase dois anos. E o certo é que os navios continuam no estaleiro, suscitando preocupações quanto à operacionalidade da Marinha. Em Novembro, foi o próprio chefe de Estado-Maior da Armada, almirante Fernando Melo Gomes, a alertar que "novos atrasos no programa dos patrulhas oceânicos e lanchas de fiscalização costeira serão impeditivos do cumprimento de algumas missões, além de obrigarem à afectação de recursos financeiros e humanos desproporcionados".
Segundo fontes consultadas pela VISÃO, operar as actuais corvetas com quase 40 anos e que há muito ultrapassaram o seu limite de vida útil (25 anos) acarreta um acréscimo dos custos de manutenção da ordem dos 30%, em relação ao previsto com os novos patrulhões.
Mas afinal, de que tão importante reavaliação está o Ministro a falar? Em que consiste e quais são os criterios? Ou a notícia resume-se ao simples facto de o ministro querer reavaliar o programa?
Em suma, o que é que este artigo nos diz que não se saiba já? Nada.
Resumindo e concluindo, isto é zero. É conversa fiada do ministro numa revista afecta ao partido do governo, a fingir que está a fazer alguma coisa.
E é óbvio que não está, e não tem estado a fazer nada. Se quisesse fazer alguma coisa, já tinha feito nestes três anos em que tudo tem estado parado, com o alibi da incompetência e das dificuldades de relacionamento. Não há é vontade política para fazer avançar este programa, até porque a soberania portuguesa sobre as suas águas é um assunto de pouca importância para o gang do Largo do Rato.
Caríssimos, um conselho: não engulam tudo o que sai na imprensa. Questionem para não serem enganados.
JQT