A nossa capacidade de defesa em profundidade, sempre foi uma das nossas almofadas e Portugal foi dos países que a utilizou de forma mais dramática, quando em 1807 tomou a decisão de retirar para o Brasil, instalando ali a corte.
Durante a II guerra mundial, mais uma vez o problema da defesa em profundidade se colocou.
Basicamente, definimos capacidade de defesa em profundidade, a capacidade de retirar perante o avanço de forças inimigas, de forma a utilizar o terreno para garantir a continuidade da existência de um governo e das principais estruturas do Estado.
Durante a II guerra mundial, isso era conseguido através da evacuação do governo para os Açores, mas no nosso caso não há capacidade de defesa em profundidade, sem que exista um aliado que a garanta.
No caso indicado de Israel, existe uma grande capacidade defensiva, uma força militar convencional poderosa e o apoio imprescindível dos Estados Unidos, que são o verdadeiro garante da defesa de Israel. Sem os americanos, Israel pura e simplesmente já tinha desaparecido.
A capacidade de defesa do território continental português só se entende por isso dentro de um sistema, em que uma qualquer força garanta essa capacidade para garantir a existência do Estado.
Para isso e com esse objectivo, a criação de grupos de combate que constituam núcleos defensivos fará algum sentido, mas tudo depende do inimigo potencial.
Em 1940 previa-se um ataque alemão, como consequência da Operação Felix. Portugal não tinha na altura qualquer capacidade para evitar o avanço de uma divisão Panzer alemã, que estava previsto avançasse contra o centro e sul do país, a que se juntava uma divisão de infantaria motorizada no norte.
Em 1940, os militares duvidavam mesmo da capacidade portuguesa para garantir a evacuação do governo em tempo útil, porque não tínhamos nada para deter os alemães.
A defesa do território continental, nomeadamente a defesa de uma área especifica foi considerada e analisada. A Única região do país que se poderia defender numa guerra convencional, implicava uma total dependência de apoio marítimo e era aí que os britânicos teriam que desembarcar para garantir algum apoio defensivo.
Tratava-se da Península de Setubal, e as razões para os militares optarem por defender a península de Setubal teriam que ver com o facto de ser possível estabelecer linhas defensivas apoiadas nos braços/afluentes do Tejo a norte e do Sado a sul.
A evacuação dava-se por Setubal e Sesimbra, com a peninsula de Troia como último reduto, podendo em caso de necessidade ser efectuada uma evacuação mesmo que os alemães chegassem às margens do Sado.
Isto devia-se ao facto de os britânicos poderem contar com o apoio de artilharia em couraçados, podendo atacar uma força inimiga a grandes distâncias, podendo beneficiar do facto de não haver aeródromos de onde os alemães pudessem atacar com eficácia os navios.
O reforço das baterias de defesa de costa do Outão e de Albarquel com artilharia anti-aérea chegou a ser considerado.
Os ingleses achavam os planos portugueses irrealizáveis e ainda que tenham colaborado na elaboração de planos defensivos, a possibilidade de defender uma pequena porção da Península era considerada irrealista.
No caso de isso acontecer, a principal atenção dos britânicos estaria voltada para Gibraltar e em caso de queda de Gibraltar, a atenção britânica estaria voltada para as Canárias que teriam que ser invadidas.
Nos dias de hoje, não podemos antever uma situação em que um grande poder continental nos invada, nem vemos situações em que poderiamos precisar de recorrer a esse expediente.
O nosso único problema poderia ser uma derivação conflituosa espanhola, com o reeditar de um conflito civil como resultado das tensões nacionalistas entre os espanhóis.
Neste caso as nossas forças armadas poderiam debater-se perante um cenário eventual de conflito com uma parte dos espanhóis. Isso seria sempre feito dentro do âmbito das Nações Unidas ou da União Europeia e em colaboração com outros países.
A necessidade das forças armadas, seria a de garantir a defesa das fronteiras, garantindo que nenhuma das facções penetraria em território português colocando em causa a segurança dos cidadãos.
Logo, ainda que o cenário seja longínquo continua a haver alguma lógica na necessidade dos carros de combate. O problema é a relação entre o custo e a viabilidade ou previsibilidade da ameaça.
Mas como já aqui dissemos, há provavelmente outras opções mais baratas para este último cenário de policiamento musculado das fronteiras.
E também não tenho dúvidas que os carros de combate pesados continuam a ser a arma definitiva num capo de batalha, se existir campo de batalha.