Notícia do Diario Económico de hoje.
Principais compradores do 'made in Portugal' vão cortar nas importações
Crise coloca parceiros comerciais em dificuldades, alguns à beira da recessão. Dois terços das exportações estão sob ameaça.Os principais clientes das exportações portuguesas estão a enfrentar sérias dificuldades económicas. Um terço das vendas nacionais vai para países à beira da recessão (Espanha e EUA, por exemplo) ou que entraram mesmo em contracção (Dinamarca). Outro terço está a ser escoado para economias em abrandamento, onde figuram alguns casos de forte travagem e estagnação, como a Alemanha e a Itália.
Este cenário mostra que mais de dois terços das exportações têm como destino mercados cada vez mais anémicos, ameaçando directamente a actividade e a criação de emprego em Portugal, lamentam vários economistas.
“As maiores dificuldades de crescimento dos países europeus e EUA tendem a causar estragos mais avultados do que o euro forte”, aponta Rui Constantino, economista-chefe do Banco Santander.
A crise está, pois, a condicionar fortemente o motor da economia portuguesa – as exportações valem mais de 30% do PIB – pela rapidez com que está a danificar a actividade nos destinos de maior importância. Não fosse a velocidade de contágio desta crise às economias mais desenvolvidas, e Portugal conseguiria amortecer de forma mais eficaz o embate: o país exporta cada vez mais bens e serviços tecnológicos e tem vindo a aprofundar laços comerciais com mercados alternativos e de forte crescimento: Angola, Singapura, China, Polónia, Brasil e Rússia.
As últimas notícias dão conta de um agravamento rápido da actividade e da confiança em países como Espanha, Alemanha, Reino Unido, Itália, EUA e Japão. Alemanha, a maior economia do euro e segundo maior cliente de Portugal, deve ter entrado em contracção no segundo trimestre de acordo com o Governo, citado pelo “Financial Times”.
Uma sondagem de 34 analistas ouvidos pela Reuters diz que Itália (o sexto cliente) estagnou no segundo trimestre. Indicadores recentes, ontem divulgados, dizem que o Japão está à beira da recessão, tendo terminado o ciclo de expansão económica mais longo desde o pós-guerra.
O caso mais complexo é, contudo, o espanhol. Pedro Curto, director-geral adjunto da agência de ‘ratings’ Coface Portugal, considera que a situação em Espanha “deteriorou-se muito, com cada vez mais dificuldades de pagamentos às empresas nacionais que operam no mercado espanhol”. Este especialista aponta que “os prémios de risco associados às exportações estão a subir”.
As maiores ameaças e as tábuas de salvação
1 - Espanha na pior crise desde 1993
Espanha (o maior cliente) arrisca a cair em recessão: segundo o Governo de Madrid, a expansão do PIB deverá será de 1,6% este ano e 1% no próximo, o investimento e o emprego entrarão em recessão em 2009. O consumo quase estagnará, a evolução das importações, que acompanha o das exportações portuguesas , descerá até 1,9% em 2009. São os piores registos desde 1993, ano de recessão.
2 - Mau tempo na economia britânica
O FMI reviu ontem de forma significativa as previsões de crescimento do Reino Unido. Segundo o relatório do Artigo IV, o quarto maior mercado de destino das exportações nacionais crescerá apenas 1,4% em 2008 e 1,1% em 2009 (contra 1,8% e 1,7%). O FMI alerta para o “forte abrandamento” da economia e estima mesmo que as importações britânicas caiam este ano e quase estagnem em 2009.
3 - Angola cada vez com maior peso
Desde o início deste ano, Angola ultrapassou os EUA e Itália como mercado cliente das exportações portuguesas. O país africano absorve actualmente (no primeiro quatrimestre) 4,7% das exportações totais, tendo registado um aumento homólogo de 26,5% nas encomendas. Em 2002, o peso de Angola era de 2,1%. A OCDE/BAD prevêem que a economia cresça 11,5% para este ano e abrande até 5,1% em 2009.
4 - Singapura/China em forte ascenção
O eixo Singapura/China capta já 2,5% das exportações totais de Portugal, sendo assim tão importante como a Bélgica. O forte crescimento das economias asiáticas justifica a explosão nas vendas nacionais: mais 43% no período de Janeiro a Abril. Portugal vende produtos como máquinas de escritório e informática, aparelhos de som e imagem, produtos químicos e alguns têxteis.
Japão interrompe ciclo histórico de expansão
O Japão já foi a maior economia do mundo, tendo vivido uma década memorável de crescimento nos anos 60. Nessa altura cresceu a um ritmo anual médio superior a 10%, progredindo nas década seguintes ritmos mais moderados, mas importantes. Ultrapassou os EUA e tornou-se na economia número um a nível global. Esse tempo parece ter terminado: dados ontem divulgados, mostram que a economia terminou o ciclo de expansão mais longo desde o pós-guerra, havendo já quem diga que entrou em recessão por causa do forte embate da crise financeira. O FMI prevê que a terceira maior economia do mundo – atrás da China e dos EUA – cresça 1,5% neste ano e no próximo, mas o Governo, que para a semana apresentará novas projecções, admite que a situação se está a “deteriorar”. As exportações – o motor do mercado nipónico – terão entrado em contracção em Junho, algo que não acontecia há quase cinco anos. O país está a sofrer bastante com o choque petrolífero
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