A importância de 0,4%
A economia portuguesa revelou, no segundo trimestre do ano, sinais de vitalidade inesperados e surpreendentes.Segundo os números do Instituto Nacional de Estatística (INE), o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 0,4% em relação aos primeiros três meses do ano e 0,9% em comparação com o período homólogo de 2007. Além disso, apresentou uma descida significativa da taxa de desemprego e uma criação de emprego em alta e, mais significativo, Portugal evoluiu em sentido contrário ao das principais economias europeias, nomeadamente a Alemanha, a França e a Espanha.
Obviamente, estes números não devem servir para esconder os problemas estruturais da economia nacional e a necessidade de correcção de alguns dos nós górdios que apertam o país, desde logo a urgência de aumentar a chamada criação de riqueza potencial, ou PIB potencial, e de diminuir a dependência externa, ou o défice externo. Além disso, mesmo com estes números, o objectivo de crescimento económico do Governo para este ano (1,5%) permanece difícil e é, por isso, importante manter um discurso de ‘confiança realista’.
Dito isto, os números do segundo trimestre são irrelevantes? Não, são muito relevantes, especialmente porque foi o investimento que sustentou estes números. Por outras palavras, as empresas nacionais estão melhores do que se esperava, compensando as dificuldades que atravessam as famílias, por causa do aumento dos juros, e do Estado, por causa da necessidade de redução do défice.
O segundo semestre apresenta dificuldades, nomeadamente ao nível da Europa do euro, que apresentou uma quebra de 0,2% no PIB de Abril a Junho. Também por isso, o perfil de crescimento português, mais assente no investimento, pode ser um trunfo importante, porque as exportações vão necessariamente evoluir de forma menos positiva no resto do ano.
Das críticas que se ouviram nos últimos dias, ficou sobretudo o lançamento de suspeitas sobre o INE, o organismo de estatística nacional que tem a responsabilidade de apurar os números, e a desvalorização política de um crescimento económico que, dizem, deveria ter sido muito mais vigoroso. Pois devia, mas, mesmo assim, é um crescimento preferível ao apurado em outras paragens, ajuda a desanuviar o ambiente depressivo em que o país se encontra e cria uma dinâmica diferente para o segundo semestre deste ano.
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