Como já entenderam, estou mais virado para a água do que que para a terra...
Assim, podem compreender a minha questão... Mas até agora não consegui ter da vossa parte (mais virados para a terra) argumentos fortes, de fácil entendimento da necessidade de um Exército grande e Muito bem equipado.
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É um erro achar que as pessoas estão mais ou menos viradas para terra. Na verdade, já discutimos bastantes vezes a questão e chegámos à conclusão de que a Marinha é o mais importante ramo das Forças Armadas.
O que acontece é que o exército tem sido praticamente abandonado ao longo dos últimos anos. Na prática, o que é que o exército tem recebido de novo nos últimos 35 anos ?
Assim de memória, não me lembro de nenhum material relevante novo que o exército tenha recebido.
Normalmente recebeu material usado, e já ultrapassado.
Não podemos colocar simplificar demasiado a questão, porque senão concluímos que a própria marinha poderia ser posta em causa com o mesmo tipo de argumentação.
Ou seja:
Se tivermos uma guarda costeira, para que serve a marinha se já temos os norte-americanos de um lado e os espanhóis do outro (equipados e armados pelos norte-americanos para vigiarem o nosso mar) ?
Afinal, o DC 38 respondeu de forma efectiva a esta questão …
Para que serve a nossa marinha, se temos os espanhóis para defender as nossas costas?
E não acredite que eles não aceitam. Afinal a transformação da marinha portuguesa numa marinha de corvetas já foi proposta no passado e tinha o beneplácito espanhol que até se propôs fornecer os barcos…
Se aceitamos que os nossos vizinhos são suficientemente poderosos para não nos preocuparmos com a defesa, então não precisamos de marinha, como não precisamos de exército e muito menos de Força Aérea.
Mas se aceitarmos isso, estaremos a aceitar de uma vez por toda, que não somos um país independente.
Outra coisa completamente diferente, é que as mudanças e a remodelação cheguem normalmente tarde e a más horas ao exército.
E esse é um problema histórico.
O exército tem uma grande dificuldade em mudar. Aliás, nunca o conseguiu fazer sem intervenção estrangeira ou necessidade urgente.
Foi radicalmente mudado durante as invasões francesas, quando os ingleses o transformaram no mais eficaz e disciplinado exército da Europa Continental (a acreditar no que diziam os ingleses e posteriormente os franceses).
Mas depois entrou claramente em decadência. Começou a participar na política e em 1914 mostrou que não era capaz de ser eficiente como tinha sido um século antes.
Depois foi reorganizado a seguir à II guerra mundial, com a autêntica revolução que constituiu a adesão à NATO.
A seguir a essa, houve outra que acabou por lhe estar ligada, e que foi imposta pela guerra em África.
Mais uma vez, quando encostados à parede, os portugas parecem ter uma capacidade de organização quase germânica, que embora muito baseada no improviso, é baseada num improviso que muitas vezes (e esquecemos sempre isto) é tremendamente eficaz.
Mas depois de 25 de Abril não tivemos nenhuma razão para efectuar grandes mudanças. O exército e os seus elementos têm a tradicional tendência portuguesa para se acomodarem. Não é um problema só do exército é um problema da sociedade.
E este parece ser o problema. Temos andado a empurrar o problema com a barriga, porque como em todos os casos, a mudança custa muito, e só uma guerra ou uma grande convulsão social serve como justificativa.
O exército precisa de uma reestruturação radical. Precisa de acabar com grande parte das suas unidades e isso é complicado porque há sempre muitas resistências.
Além do mais é caro, muito caro.
A solução seria criar três grandes campos militares, colocar neles bases, unidades organizadas consoante as necessidades, e MUITO IMPORTANTE, dar condições aos militares, para que pudessem acomodar-se a si e às suas famílias de forma condigna.
O problema, é que o país embora tenha dinheiro para o fazer, tem outras prioridades.
Mas esse problema não tem muito a ver com os actuais investimentos no exército que são apenas uma tentativa para que as forças armadas não passem a ser forças desarmadas. E quando as forças são desarmadas, deixam de ser forças, e se deixam de ser forças, deixa de haver o principal elemento que garante a existência do Estado.