https://cnnportugal.iol.pt/guerra/ucrania/isto-ja-nao-tem-piada-como-a-ucrania-transformou-um-aeronave-a-helice-dos-anos-70-numa-arma-antidrone/20240722/669eabf1d34e0498922376cc"Isto já não tem piada". Como a Ucrânia transformou uma aeronave a hélice dos anos 70 numa arma antidrone

São mais baratos que os mísseis das defesas antiaéreas e os analistas militares russos já não escondem a frustração ao falar sobre esta nova estratégia ucraniana
Os veículos aéreos não-tripulados alteraram por completo a natureza da guerra na Ucrânia. Relativamente baratos de produzir, os drones de reconhecimento permitem encontrar alvos militares bem no interior do território inimigo. Para os destruir, as tripulações de defesa antiaérea ucranianas tinham de recorrer a mísseis valiosos e cada vez mais raros nos seus arsenais. Mas a força aérea encontrou uma solução com mais de 50 anos que está a ter resultados e a deixar as tripulações russas altamente frustradas.
“Isto já não tem piada há bastante tempo para os operadores de drones, nem para nós. Não está na hora de o abater?”, questiona um blogger militar russo que escrevia sobre a frustração da “alta eficácia” da nova arma ucraniana para destruir drones russos.
Em causa está uma solução relativamente simples. Nos últimos meses, vários pilotos ucranianos têm transformado o avião de treino a hélice Yak-52, fabricado originalmente na década de 70, numa arma de caçar drones de reconhecimento. A aeronave, que tem dois lugares, foi adaptada para ser utilizada por um piloto e um atirador, que utiliza uma caçadeira para destruir os drones na sua proximidade.
nicialmente, a solução encontrada pelos ucranianos foi alvo de chacota de alguns dos principais comentadores militares russos, que apontavam o recurso a tecnologia “obsoleta” como um sinal de desespero ucraniano. Alguns meses depois o cenário está a alterar-se e o Yak-52 tem demonstrado ser mais robusto do que se pensava.
As dimensões do avião fazem dele o veículo ideal para não ser detetado pelas defesas antiaéreas russas. O Yak-52 tem apenas 7,7 metros de comprimento e uma envergadura de 9,3 metros, o que torna o avião particularmente difícil de detetar nos radares russos. Além disso, apesar de pequeno quando comparado aos aviões de combate, a aeronave é grande e robusta o suficiente para ser capaz de abalroar drones inimigos em pleno voo, sem sofrer danos que levem à sua destruição.
Um vídeo partilhado nas redes sociais permite ver imagens captadas por um drones de reconhecimento russo, que mostra um destes aviões camuflados a voar debaixo do drone russo e com um dos tripulantes a disparar uma caçadeira de canos duplos contra o drone. Os pilotos ucranianos escolhem as caçadeiras devido à natureza das suas munições, que dispersam ao disparar e atingem uma área maior, aumentando a probabilidade de atingir o alvo.
https://twitter.com/i/status/1799805046919516293Para a Ucrânia, esta é uma táctica bastante interessante do ponto de vista económico. Nos últimos meses, Kiev tem sofrido bastante com a falta de mísseis antiaéreos, cujo preço é proibitivo. Um míssil do sistema Patriot, apesar de bastante eficaz, tem um custo de 4 milhões de dólares por unidade. Um intercetor do sistema NASAMS não é muito mais barato, custando 1 milhão por disparo. Utilizar estes mísseis para abater aeronaves como o Orlan-10, que custa menos de 100 mil euros não é uma solução eficaz a longo prazo. Utilizar um Yak-52 e munições de caçadeira é uma alternativa muito mais eficiente para líder com o problema..
A estratégia ucraniana obriga estas aeronaves a voar a poucos metros dos drones russos, mas parece ser eficaz o suficiente para que os ucranianos não só a estejam a utilizar como estejam a expandir este tipo de operação. Um vídeo partilhado pelos serviços secretos ucranianos mostra uma tripulação ucraniana a pilotar um Aeroprakt A-22, uma aeronave ultraligeira de dois lugares, a caçar aeronaves não tripuladas no s
Estes aviões já têm sido frequentemente utilizados por Kiev em ataques contra o território russo. As forças armadas ucranianas têm convertido estas aeronaves a hélice em drones capazes de transportar centenas de quilos de explosivos e voar longas distâncias e atingir alvos bem no coração do território russos.
Apesar de tudo, a estratégia parece estar a perturbar o suficiente as operações russas ao ponto do exército decidir tomar medidas. Incapazes de atingir o Yak-52 no ar, as forças armadas russas começaram a “caçar” o avião quando este está em terra. Na semana passada, as forças russas dispararam vários mísseis contra uma base aérea de Odessa, onde se suspeita existirem vários Yak-52 guardados em hangares.
Num vídeo partilhado nas redes sociais, é o possível ver um míssil balístico Iskander a atingir a base, resultando em várias explosões e um incêndio. Várias instalações foram danificadas.
https://twitter.com/WarVehicle/status/1812925816709521457/video/1?ref_src=twsrc%5Etfw%7Ctwcamp%5Etweetembed%7Ctwterm%5E1812925816709521457%7Ctwgr%5E371a73557498a50592dce9ecf9cef4fb4fd4949a%7Ctwcon%5Es1_&ref_url=https%3A%2F%2Fcnnportugal.iol.pt%2Fguerra%2Fucrania%2Fisto-ja-nao-tem-piada-como-a-ucrania-transformou-um-aeronave-a-helice-dos-anos-70-numa-arma-antidrone%2F20240722%2F669eabf1d34e0498922376ccAinda assim, a Ucrânia terá de demonstrar a sua capacidade de utilizar esta táctica em larga escala. Apesar de o número de perdas de drones russos estar a acumular-se, Kiev ainda tem de demonstrar a capacidade de mobilizar um número suficiente de aeronaves de forma a fazer a diferença no campo de batalha.