Os EC635 nunca deviam ter sido cancelados. (Obviamente que na altura foi o primeiro passo para acabar com a ideia da aviação no Exército, mas isso é outro tema.) Devia ter sido pedida uma indemnização/desconto ou outro modelo de helicóptero. No mínimo cancelavam antes o NH-90 e mantinham a vinda dos EC635 que eram a aeronave ideal para garantir começar a formar pessoal em várias áreas e missões e pelo menos começar a criar algo do zero.
O cancelamento dos 9 EC635 T2 (hoje em dia H135M) para o GALE, depois UALE, é ainda hoje uma história muito mal contada, mesmo volvidos 22 anos do seu cancelamento. Deu toda a sensação de que o Governo de Durão Barroso, pela mão do então MDN Paulo Portas, tudo fizeram para que o negócio abortasse. As razões citadas foram o atraso na entrega das células (apesar de à altura do cancelamento do contrato se encontrarem 3 células em Alverca, já praticamente prontas), e a demora/dificuldade na integração do armamento escolhido, neste caso principalmente o míssil anti-carro Hot 2, porque tanto o canhão GIAT de 20mm, como os ninhos de foguetes não seriam grande problema.
EC635 T2 "19102" nas OGMA, em Fevereiro de 2002 (Crédito: desconhecido)
Ainda hoje a Airbus tem o folheto relativo ao EC635 no seu site:
https://www.airbushelicopters.com/website/docs_wsw/_pdf/EC635%20T2eP2e/EC635.pdfA Jordânia 6 meses mais tarde comprou-os, apesar de anos depois ter acabado por adquirir UH-60A alegadamente devido ao sub-rendimento dos EC635. Entretanto por cá, o Paulo Portas estava embeiçado pelo Donald Rumsfeld, à altura Secretário norte-americano da Defesa, que tinha mostrado disponibilidade para fornecer equipamento para certas áreas mais críticas como era o caso da substituição das fragatas da classe João Belo, e de helicópteros para o novo grupo de aviação ligeira do Exército. Como todos sabemos, o fornecimento de meios consistia em 2 fragatas curtas da classe Oliver Hazard Perry (OHP) e 9 UH-60A que já se encontravam no então AMARC, e quer o transporte, como a sua reativação e modernização ficariam a cargo de Portugal, o país de tanga.
E se as OHP estiveram quase prestes a ser uma realidade apesar de todos os problemas de que padeciam, os Black Hawk supostamente reservados para nós nunca avançaram dado o estado lastimável em que os técnicos da FAP encontraram aquelas células, o que iria obrigar a um avultado e estúpido investimento só para as colocar em condições de voo. Por isso, e felizmente, não se avançou com nenhum destes presentes envenenados da Administração Bush (filho). E se existe um fundo de verdade na recusa do Exército em ficar com as melhores células Puma ao serviço (alegadamente 4/5 unidades) em 2006/7, então também só estão nesta situação por culpa própria. Manterem o interesse exclusivamente focado no NH90 é, como disse o Anthropos, mais de meio-caminho andado para a coisa correr mal, e provavelmente continuarem sem elemento aéreo.
P.S. E se porventura então for no novo modelo do NH90 que o nosso Exército estará a pensar, o mais certo é nem tão cedo vir a ter aviação novamente.
https://www.airbus.com/en/newsroom/press-releases/2024-06-french-armys-nh90-for-special-forces-has-started-flight-testing