Aqui vai, com um pedido de desculpa pelo texto longo...
Ora bem, sabendo que a minha relação com assuntos de Defesa é a mesma que com o sexo, i.e., não sou profissional, sou apenas um amador entusiasta, aqui vão os meus five cents sobre o que penso serem as necessidades da frota de superfície da Marinha. Os pressupostos da análise são as duas seguintes:
1. Em caso de guerra com a Rússia, a Marinha terá os seguintes objetivos/missões:
a. Contribuir para pelo menos um grupo de batalha NATO, seja no Mediterrâneo, seja no Mar do Norte/Báltico.
b. Defender o acesso aos pontos estratégicos no Continente e Ilhas, nomeadamente as instalações militares principais (Alfeite, Santa Margarida e bases aéreas de Monte Real, Montijo, Beja, Lajes e, eventualmente, Ovar), centros decisão militar e política (quase todos em Lisboa) e portos principais (Lisboa, Setúbal, Sines, Viana do Castelo e Leixões).
c. Contribuir para controlar os acessos Oeste a Gibraltar, juntamente com a Marinha Espanhola e a Royal Navy.
d. Luta ASW no Atlântico, juntamente com as Marinhas Espanhola, Francesa, Americana, Canadiana e Britânica.
e. Proteção dos cabos de comunicação e outra infraestrutura submarina.
f. Continuação das missões de patrulha e policiamento marítimo.
2. Cada uma destas missões deve ser desempenhada por um dos seguintes tipos de navio:
a. Tier 1 – Alta Intensidade. Fragatas multimissão, com o mínimo de 32 células VLS e não só com capacidade de luta ASW avançada, mas capacidade AAW de defesa de área e, desejavelmente, BMD, contra ameaças hipersónicas e balísticas. Exemplos seriam as AH140 na sua versão mais completa, as F-110 do segundo lote, as Meko A300 e as FREMM EVO.
b. Tier 2 – Média Intensidade. Fragatas otimizadas sobretudo para ASW, mas com capacidade de defesa de área local e de ponto e, portanto, com capacidade de escolta de outros navios, além de capacidade de auto-defesa anti-aérea. Exemplos seriam as AH140 sem radar volumétrico (mais como as Polacas), as ASWF e as Meko A200, entre outras.
c. Tier 3 – Baixa Intensidade. Navios multimissão para patrulhamento litoral, incluindo luta ASW e anti-minas (possivelmente contentorizados). Estes navios teriam sempre que operar debaixo do “guarda-chuva” de meios aéreos terrestres e outros meios navais mais avançados. Exemplos podem ser os NPO e as EPC em versão ASW/Patrulha.
Segundo me parece, cada uma das missões acima requer os seguintes meios:
1a – 1 x Tier 1.
1b – 1 x Tier 1 (uma fragata equipada com mísseis SM-6 e a operar ao largo de Lisboa, por exemplo, consegue cobrir todos o território continental) e 5 x Tier 3. Defendo um grupo de 1 x ASW e 1 x MCM para o Norte (Leixões e Viana), outro para o Sul (Setúbal e Sines) e 1 x MCM para Lisboa (a fragata providencia a capacidade ASW nesse caso).
1c e 1 d – 1 x Tier 2 para cada. Nestes cenários operacionais é extremamente improvável que uma fragata tenha que lidar sozinha com ataques de saturação, daí a capacidade antiaérea mais avançada ser dispensável. No caso 1d, estou a pensar numa fragata temporariamente estacionada nos Açores.
1e – Eventualmente 1 x Tier 2 para escoltar o D. João II ou o seu navio irmão.
1f – 3 x Tier 3. Isto inclui um nos Açores, que pode ter sonar para ASW costeiro, um na Madeira e um na costa ocidental de África (missão importante, que não deve ser descurada).
Ou seja, no total estamos a falar de conseguir ter operacionais, em tempo de guerra, 2 x fragatas Tier 1, 2 a 3 Fragatas Tier 2 e 8 x NPOs, dos quais três com módulos MCM e dois a três com módulos ASW, i.e., sonar. Assumindo que em tempo de guerra se conseguir maximizar o numero de navios operacionais para entre 2/3 e 80% do numero total de navios, rapidamente chegamos à conclusão que a Marinha precisa de ter, a longo prazo:
Tier 1 – 3, para garantir 2 operacionais.
Tier 2 – 3 a 4, para garantir 2 a 3 operacionais.
Tier 3 – Os 10 NPOs previstos. Destes, talvez eventualmente se devessem substituir os primeiros 4 por outras tantas EPC ASW/Patrulha para a missão ASW costeiro.
Se se optar por duas fragatas Tier 1, então a missão 1b fica sem capacidade ABMD e passa a poder ser desempenhada por uma fragata Tier 2. Portanto, o mix Tier 1 + Tier 2 deveria ser, conforme se queira a missão ABMD ou não, 3+3/4 ou 2+4.
Que comece o debate…