Realmente tens razão, a ideia da FAP era pegar no F-35, e levá-lo à oficina ali ao lado para fazer manutenção e um tuning. No fim de contas, manutenção de equipamentos militares de topo? Nada que um pouco de DIY não resolva!
A FAP também pretendia fazer conseguir baixa updates para o F-35 de graça, recorrendo a torrents na internet. Malvada Lockheed Martin que não deixa!!!!
Como todos sabemos, com os Gripens e Rafales da vida, os upgrades e updates estão facilmente acessíveis, a custo zero, na net.
Eu acho que discutir a questão da manutenção e do seu altíssimo custo, é um bocado como chover no molhado.
Se há questão a que em Portugal se vê como secundária, é exactamente a questão da manutenção e dos custos operacionais. Isto é assim em todos os ramos e é quase que endémico.
Os valores não fazem o mais pequeno sentido.
Só para lhe dar um exemplo:
A Marinha do Canadá, fez um estudo para determinar o custo anual de operação de cada uma das suas fragatas da classe Halifax.
São navios com quase 5,000t de deslocamento, portanto algo maiores que as fragatas da classe Bartolomeu Dias, mas os seus sistemas são grosso modo equivalentes.
Em 2017, calculou-se que cada uma das fragatas tinha um custo de operação de aproximadamente 8,4 milhões de dólares canadianos ou 10 milhões a preços de hoje, ou 6,5 milhões de Euros.
E isto para um único navio, de uma classe de doze, em que a economia de escala é incomparável com o que se consegue com duas classes de dois navios cada uma.
Se não considerarmos a economia de escala, para equilibrar com os custos de mão de obra menores (coisa que cada vez se nota menos) então teríamos que para quatro fragatas e só para quatro fragatas teríamos 26 milhões de Euros, e isto sendo muito liberal nas contas.
E os numeros do Canadá, consideraram que cada um dos navios estaria no mar durante 100 dias e 265 dias parado no porto, altura em que naturalmente os custos são menores.
Se considerarmos que o custo de manutenção dos submarinos portugueses é mais elevado que o das fragatas, só aqui poderíamos concluir que os valores apontados pela marinha, têm a mesma validade que as afirmações do ex almirante CEMA, Melo Gomes, quando disse que podia colocar no mar não sei quantos navios, esquecendo que uma parte deles tinham que voltar antes do por do sol, outros tinham que voltar se o mar estivesse a mais de nível seis na escala de Beaufort e outros pura e simplesmente iam para o mar mas provavelmente afundavam antes de voltar.
Só a título de curiosidade, os australianos prevêm gastar grosso modo, €500 milhões por cada fragata, para as manter operacionais até 2040, ou seja, €33 milhões para cada navio por ano, durante 15 anos.
Os custos operacionais (que incluem manutenção) representam a maior parte do custo dos navios. Em Portugal, o dinheiro gasto nas Vasco da Gama, já ultrapassou há muito o valor da sua compra.
Aqui o que os canadianos publicaram sobre a questão, em gráfico:

Portanto, já conseguimos perceber que que aqueles 10% não representam a realidade, ou, quanto muito, são uma realidade para navios de guerra a 10/15 anos, e não custos anuais.
Não confundir custos de operação (que englobam mais coisas) com custos de manutenção (o que foi falado nas notícias que postei).
Se as fragatas canadianas têm um custo de operação anual abaixo dos 7M de euros, temos que nos perguntar qual a percentagem deste valor que se remete apenas à manutenção. E aí sim extrapolar se os valores apresentados pela Marinha como os que considera
necessários são realistas ou não. Eu acho que não, pelo simples facto de que se paga muito pouco pelos serviços prestados pelo AA.
No caso canadiano, custos de operação anuais podem incluir exercícios, fogos reais, incluirão os custos associados à sustentação das guarnições a bordo, etc. A guarnição a bordo das Halifax é entre 236-255 elementos, portanto são números bastante superiores aos 180 das VdG e os 154 das BD. Só aqui a diferença é abismal.
O ex-CEMA não teria razão para conter os números necessários para a manutenção, logo não me parece que haja ali mentira, quanto muito falta de noção/incapacidade de ver que andam a pagar muito pouco ao Alfeite.
É claro que esperar manter uma Marinha de Guerra operacional, com uns meros 23.8M de euros, é uma ilusão, daí eu já ter arredondado o valor necessário da frota actual, para os 50M. Com uma MGP renovada, este valor podia facilmente aproximar-se dos 100M/ano em manutenção, consoante os meios a adquirir.
Também fica óbvio que, numa Marinha onde os custos de manutenção/operação são um tema tão importante, se calhar não faz sentido ainda querer 1 LPD, a somar aos 2 AORs e ao PNM.
Também não faz sentido deixar o Alfeite afundar, quando este estaleiro se pode tornar uma razão para investir mais na Marinha e elevar os graus de prontidão, seguindo a premissa de que os gastos na manutenção da MGP têm bastante retorno, se a manutenção for feita lá.
É com base em custos de manutenção e operação, com base na falta de pessoal, aliado às nossas necessidades de defesa das nossas águas e contribuição para a NATO, que na compra de fragatas tenho vindo a defender uma solução hi-low, que permita voltar ao número de 5 fragatas, ou até elevar para 6. O "high" seria composto por 2/3 fragatas modernas, mais coincidentes com fragatas de "topo", complementadas por 3 fragatas leves/Crossover, com guarnições mais reduzidas e menos complexas (mais baratas). Neste caso, a opção Crossover permite eliminar de vez a vontade de adquirir um LPD, sendo menos um navio que a MGP teria de se preocupar em guarnecer e manter.