A Grécia e o grau zero da informaçãopor José Mendonça da Cruz, em 20.02.15
Finda a negociação decisiva decorrida hoje em Bruxelas sobre o futuro da Grécia e as pretensões do seu governo, eis, em resumo, o acordo provisório e condicional a que se chegou:
- ao contrário do que Tsipras anunciara, a Grécia compromete-se a pagar tudo o que deve e nos prazos em que deve pagar;
- ao contrário da pretensão do Syriza de uma extensão incondicional do empréstimo por 6 meses, o governo do Syryza tem uma extensão de 4 meses do empréstimo condicionada a uma carta que a Grécia entregará até 2ª feira, dizendo que reformas se compromete a fazer;
- em resposta ao desejo da Grécia de não negociar com a troika, foi concedido à Grécia negociar, em vez disso, com os três membros da mesma, ou seja, a União Europeia, o BCE e o FMI;
- a Grécia não será tratada como «uma colónia», como Tsipras pedira; será tratada em termos de paridade com qualquer outro país assistido, e tem até fim de Abril para acordar com a missão tripartida de UE, BCE e FMI num programa para a continuação da assistência e socorro internacional;
- todos os compromissos reiterados pela Grécia perante a missão tripartida (a que nunca mais se chamará troika) não serão vistos como disposições de algum memorando de entendimento (que é na realidade, uma carta de intenções); serão antes considerados como conteúdos de uma carta de intenções;
- entretanto, a Grécia, que quer socorro mas não queria compromissos, assume o compromisso de não tomar unilateralmente medidas que afectem negativamente o seu orçamento, embora possa tomar medidas cujos efeitos sejam orçamentalmente neutros (após demonstrar às três entidades -- a que agora não se chama troika -- que essas medidas são de facto neutras em termos orçamentais).
E, agora, perguntem-se que monumental incompetência, ou que mediocridade ululante, ou que nojo à informação, ou que vontade desbragada de omitir e enganar, terão levado Sic e TVi a dar voz às impressões vagas dos seus correspondentes em Bruxelas, abstendo-se de transmitir em directo a conferência de imprensa em que estiveram presentes, falaram e responderam a perguntas o presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, a presidente do FMI, Christine Lagarde, e o comissário europeu para a economia, Pierre Moscovici. Por que razão -- ao contrário de todos os canais internacionais de informação séria, ingleses, franceses, italianos, americanos, árabes -- as televisões portuguesas ignoraram e omitiram a conferência de imprensa onde estava a ser divulgada informação importante e nova, em favor de comentários em estúdio ou de uns debates que farão a desoras. Os nossos media, parece-me a mim, não informam apenas mal e manipulativamente; impedem, ocultam, omitem, barram pura e simplesmente a informação.
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