Corticeira Amorim quer manter-se em programas da Nasa
A cortiça portuguesa está ligada ao programa espacial norte-americano desde a missão Apolo XI à Lua, e, com o fim do programa dos vaivéns espaciais da NASA, luta agora por novos projectos, segundo a Corticeira Amorim.
“As possibilidades são de termos mais cortiça no espaço, não menos”, acredita Carlos de Jesus, da Amorim, maior empresa mundial do sector, cuja cortiça granulada é usada para isolamento térmico e vibratório de “shuttles” como o Atlantis, que irá realizar a última missão dos vaivéns espaciais, com lançamento marcado para sexta-feira.
No horizonte da empresa está o fornecimento para as novas naves e sondas que a NASA está a desenvolver, para alcançar destinos mais longínquos como Marte e com um “maior grau de exigência”, mas também para os consórcios privados a quem a agência espacial norte-americana irá subcontratar o transporte de astronautas e material para a órbita inferior da Terra.
“O desafio agora é provar que conseguimos desenvolver aplicações e soluções para um programa que é também agora interplanetário. Acreditamos que terá resultado positivo, são décadas de cortiça no espaço, o que é uma mais-valia bastante importante, mas o resultado final está longe de ser 100 por cento garantido para nós e para todos os fornecedores”, adiantou o responsável da Amorim.
Enquanto o fornecimento à NASA está “a meio caminho” da revalidação, adiantou Carlos de Jesus, prosseguem contactos exploratórios com consórcios privados como a Space X e trabalho para a Agência Espacial Europeia.
Resistência rara
A cortiça, de que Portugal é o maior produtor mundial, apresenta um nível de resistência raro na natureza à propagação de chamas, devido à sua composição celular. Embora o produto final usado na frota de vaivéns seja um composto, “essencialmente é cortiça”, aplicada a “componentes críticos para segurança da nave espacial”, explica o responsável da Amorim.
Estes componentes são aplicados no cone e noutras partes dos foguetes de propulsão acoplados à nave no lançamento, e que dela se separam quando é atingida a impulsão suficiente para sair da atmosfera terrestre.
Além dos “shuttles” e do Apolo XI, o material já foi usado nos programas Titan, Delta IV e também no Ariane europeu. Em termos de volume de vendas para a Amorim, o fornecimento para a indústria aeroespacial sempre foi marginal.
Contudo, salienta Carlos de Jesus, há benefícios para a organização e prestígio da empresa, para divulgar a história de ecologia e sustentabilidade da indústria da cortiça, e até Portugal. “O que é fundamental é o grau de exigência que a organização tem de impor a si mesma, quando lida com algumas das organizações mais exigentes do mundo. É valioso para empresa”, defendeu.
Além disso, a investigação e desenvolvimento para a indústria aeroespacial pode ter outras aplicações, como os transportes ferroviários, “onde a cortiça já tem presença mesmo em obras emblemáticas em todo o mundo”.
“Numa altura em que Portugal tem tão más noticias com tanta frequência, acho importante esta capacidade de transmitir ao tecido empresarial nacional e à própria sociedade que em Portugal há capacidade”, conclui Carlos de Jesus.
Ciência Hoje