http://www.forte.jor.br/2017/02/02/brasil-abandona-projeto-de-compra-de-defesa-antiarea-da-russia/
O governo brasileiro colocou um ponto final em uma negociação que já se arrastava há quase cinco anos. Os comandantes militares foram informados que o Brasil não fechará a aquisição de sistemas de defesa antiaérea de fabricação russa.
Orçados em mais de 1 bilhão de dólares, os sistemas Pantsir-S1 eram criticados pelos militares que preferiam modelos mais baratos e eficientes produzidos por outros países.
O Ministério da Defesa já havia sinalizado para os russos que não daria sequência na negociação, que tinha entre os participantes a Odebrecht Defesa como uma das partes interessadas.
Apesar de considerada “inviável”, por parte do Brasil, a venda era trada pelos russos como algo possível. Chegaram inclusive a ameaçar colocar barreiras para entrada da carne brasileira, caso o negócio não fosse fechado.
Na semana passada, os Russos foram avisados que o programa foi cancelado e que o Pantsir-S1 não faz mais parte das intenções de compra do Ministério da Defesa por ser caro demais e fora dos padrões exigidos pelas Forças Armadas do Brasil.

Saudações
Creio que essa foi a melhor decisão tomada pelo governo. Até porque o que havia de fato era uma intenção de compra, por conta do alinhamento político entre o governo brasileiro (Lula da Silva e Dilma Rousseff do PT) com Moscou. Porém, com a queda do governo do PT e a entrada de um novo governo do centrista Michel Temer do PMDB, há uma nova diretriz política no Palácio do Planalto (sede do Executivo federal em Brasília).
Além da questão política, havia também uma “chantagem” do governo russo que pressionava a compra dos Pantsir-S1 (numa venda de governo para governo) por parte do Brasil em troca de toneladas de carne brasileira (bovina, suína, aves, etc.). Nada mais justo, pois se trata de nações defendendo seus interesses.
Além disso, o Projeto Estratégico de Defesa Antiaérea do Exército Brasileiro trabalha numa linha em que o Pantsir-S1 não se encaixaria.
Primeiro: o Centro Tecnológico do Exército (CTEx) juntamente coma a Bradar (uma empresa 100% brasileira e subsidiária da componente da Embraer Defesa & Segurança) desenvolveu o radar M2000 que tem um alcance de 450 quilômetros, testado e aprovado no ano passado:
(
http://tecnodefesa.com.br/bradar-m200-realiza-o-primeiro-teste-real/)
(
http://portaldefesa.com/3440-conheca-o-saber-m200/)
Trata-se de um radar digitalizado (tecnologia do tipo AESA) de desenvolvimento totalmente brasileiro, sendo modular aerotransportado por aeronaves do tipo C-130 Hercules e o KC-390. O radar M200 da Bradar é, ao mesmo tempo, primário, isto é, de controle do espaço aéreo e, secundário, ou seja, designa alvos. Os detalhes deste radar estão nos links logo acima.

Ocorre que o Bradar M200 será celular mater de um sistema que englobará mísseis superfície-ar (SAM). Noutras palavras, o M2000 será acoplado a um sistema de mísseis (SAM) de médio alcance (na mesma categoria do Pantsir-S1).
Segundo: Está em desenvolvimento, já em estágio avançado, o sistema MATADOR da Avibras, outra importante empresa brasileira do setor de defesa. O MATADOR poderá ser tanto um míssil superfície-superfície (SSM) de cruzeiro (alcance inicial de 300 quilômetros) quanto de superfície-ar (SAM).

Os casulos de mísseis do sistema MATADOR estarão baseados nas viaturas lançadoras universais da família ASTROS (de cabine blindada baseada em chassis Trata) que lançará o míssil na vertical. Sendo assim, o radar M200 designa os alvos e os informas às unidades do sistema ASTROS por meio de fibra ótica ou wireless. Por final, o computador a bordo dos mísseis que se localiza logo atrás da cabeça de guerra recebe e processa as informações originárias do M200 antes do comando de disparo.
Terceiro: além do MATADOR, as FFAA brasileiras têm outra opção ao Pantsir-S1 que englobam mísseis já experimentados e aprovados no mercado internacional e de padrão NATO – o Brasil, por ser um país inserido no bloco ocidental, segue o padrão OTAN em seus materiais de defesa.
Trata-se da parceria entre a indústria de defesa brasileira e a MBDA que trabalha atualmente na remotorização de mísseis Exocet mais antigos e no desenvolvimento local da motorização do MANSUP, futuro míssil antinavio nacional.
A empresa também anunciou uma nova parceria com a Avibras (com quem já trabalha nos mísseis navais), para a criação de um sistema de defesa antiaérea missilística de média altura baseado em uma versão terrestre (lançamento vertical) do Common Anti-Air Modular Missile (CAMM) e utilizando toda a base tecnológica já desenvolvida para as viaturas do sistema de artilharia Astros 2020 – uma alternativa viável ao MATADOR.

A preferência das Forças Armadas brasileiras pela adoção de soluções da MBDA para emprego naval e terrestre poderá incluir, em um futuro próximo, o setor aeroespacial através dos mísseis ar-ar de médio/longo alcance, ou BVR (beyond visual range) MBDA Meteor, armamento cotado para equipar os novos caças SAAB Gripen NG adquiridos pela Força Aérea Brasileira (36 exemplares). Uma das vantagens do MBDA Meteor é o fato do míssil BVR estar entrando em serviço na Suécia e em outros países europeus.
Sua campanha de integração ao Gripen já ter sido concluída, o que se traduzirá em uma grande economia de recursos para a Força Aérea Brasileira ao longo do período de emprego.
Quarto: Como já citado, a venda do Pantsir-S1 tratava-se de uma venda política que não atendia nenhum dos requisitos operacionais das FFAA brasileira, em especial o EB. Não haveria de fato um pós-venda com efetiva transferência de tecnologia. Além disso, não haveria possibilidade de mobilidade e transportabilidade pelo ar. É um sistema que não poderia ser embarcado no C-130 Hercules ou no KC-390 com o mínimo de ações de montagem e desmontagem das partes do veículo. O Pantsir-S1 não atende este pré-requisito operacional básico.

Portanto, temos opções ao Pantsir-S1 dentro do Brasil, por meio de empresas sólidas e com produtos de sucesso no mercado internacional de defesa, sendo usado por diversos países importantes.
Vale lembrar que, além de não ser aerotransportado, um pré-requisito básico para a sua operacionalidade nas FFAAs brasileiras, o Pantsir-S1 é caro de adquirir e caro de se manter. Fora que, como já exemplificado, o Brasil já possui capacidade própria para desenvolver um sistema de defesa antiaérea de médio alcance sem depender (ou depender muito pouco) de fornecedores externos. Mais: empresas brasileiras, como a Avibras, domina todo o ciclo de produção do material míssil: componentes químicos do motor, sistema de propulsão, sistema de guiagem, corpo do míssil e o sistema inercial de navegação.