Caros amigos....não me parece que esta história dos instrutores Comandos "perdidos" no Alvão seja assim tão vergonhosa. Claro que vai servir de "munição" inter-unidades especiais para as famosas e, diga-se, velhinhas guerras de " a minha tropa é melhor que a tua"..quanto a isso..nada a dizer..claro que vai..como é óbvio não será propriamente "motivo de orgulho" para os Comandos...mas dai a ser uma completa vergonha..também não me parece.
Senão vejamos..de acordo com a noticia..os dois militares foram surpreendidos pelas condições climatéricas, nomeadamente pelo forte nevoeiro que se instalou e, sem um conhecimento preciso do local e sem material adequado para a saida do mesmo naquelas situações..optaram por se deixarem estar onde estavam e pedir auxilio. Se calhar se se tivessem armado em "Rambos" os bombeiros em vez de ir regatar dois militares que se deslocavam pelo próprio pé..tinham ido resgatar dois corpos ao fundo de uma ravina. Como tão bem disse o nosso camarada Ranger Rebelde..que disto saberá imensamente mais do que eu... "a Serra não é para qualquer um.." especialmente com condições climatéricas adversas...por isso até me parece um sinal de bom senso e, consequantemente de boa preparação...saber assumir as incapacidades quando elas surgem.
Outra história será..ai já não digo que não..irem preparar um exercicio na Serra e não terem previsto aquelas condições climatéricas e não terem levado outro tipo de material..mas também diga-se em abono da verdade...o tempo lá em cima tão depresa tá bom como tá um pesadelo.
Quanto à preparação (ou falta dela) dos militares actuais quando comparados com os de há alguns anos atrás....meus caros, infelizmente parece-me um problema que não é claramente exclusivo do nosso país..aliás cheguei já a assistir a um documentário sobre os Royal Marines em que um dos instrutores chamava precisamente atenção para a crescente necessidade de ir "adaptando" (que é como quem diz..baixando) os padrões de exigência ou então pura e simplesmente ninguém chegava ao fim.
Estamos perante uma sociedade extremamente comodista e sem qualquer tipo de rusticidade. E quando digo isto não me refiro a capacidade física..digo sobretudo falta de capacidade mental de aguentar o desconforto.
No tempo do meu pai (geração que combateu em África) a maior parte dos homens vinham de ambientes de uma dureza extrema...para ir para a escola tinham de caminhar km's..muitas vezes descalços fizesse frio, chuva ou calor..para tomar banho..tinham que aquecer água numa tina ou coisa semelhante...para c.g.r..muitas vezes nem casa de banho tinham dentro de casa...a comida...não era abundante..para dizer o minimo...ora..só isto era suficiente para fazer com que estas pessoas estivessem mais habituadas ao desconforto e à incomodidade que por exemplo o "terreno" oferece.
Mesmo a minha geração..que cresceu nos 80's e inicios dos 90...ia a pé para a escola por exemplo..mas sobretudo..brincou na rua..jogou futebol em pelados e na rua..andou de bicicleta sem capacetes...e caiu..muitas vezes..partiu braços, pernas..arranhou as pernas e os braços ..construi cabanas nas matas à beira de casa..fazia umas guerras com zarabatanas com setas de papel...que aleijavam (uma vez um vizinho meu não ficou cego por milagre) etc. etc. ahh também tinhamos o spectrum..mas enquanto aquilo não carregava o jogo um gajo entretinha-se a fazer outra coisa qualquer..o que também é bom..ensinou-nos a saber esperar..a ter mais paciência..as coisas não podem ser "eu quero eu tenho". Ora isto tudo..por muito mais confortável que fosse se comparado com a geração dos nossos pais..pelo menos ainda nos deixou uma réstia de resiliência mental e ..já agora..esquema corporal...(sabemos-nos mexer).
Quem cresceu nos finais dos 90 inicio do novo século...enfim...a tecnologia e o imediatismo são tudo..tudo tem que ser já..caso contrário perdem a vontade..desmotivam..em suma..não sabem esperar. Andam de bicicleta com os papás nos passeios cuidadosamente criados para o efeito junto aos rios e praias deste país sempre artilhados com os capacetes, joelheiras e cotoveleiras. Ir e vir da escola só de popó..é ver os carros todos parados em segunda fila à espera dos meninos porque já ninguém pode caminhar 500 metros...desporto..só organizado e calendarizado e mais não sei o quê..tudo tem hora e local marcado.. já ninguém leva com chuva na tromba..já ninguém tem pisaduras, arranhões e cabeças para coser..os lençois são térmicos o ar é condicionado a comida é instantânea e abundante. Como é óbvio estes jovens chegam à instituição militar e não estão preparados para a "dureza" razão pela qual suspeito esta tenha vindo cada vez a ficar mais "molinha"..é o que me dizem..e é concerteza o que todos ouvem..velhos páras (às vezes até nem assim tão velhos) a dizer.."isto comparado com o meu tempo"....e o problema é que às vezes..este "tempo" são 4 ou 5 anos atrás. E quem diz "velhos" Páras diz Fuzos, Rangers e Comandos.
É o preço da modernidade..sei lá.
Caro Sefr81, quanto à sua visão desta evolução geracional, só tenho uma coisa a dizer:
Ámen !Trafaria a questão é que nós não sabemos o que aconteceu nem porque aconteceu. Acho que já está provado por A+B que os media quando dão noticias sobre as Forças Armadas/Segurança, são sensacionalistas, não sabem do que escrevem e dizem meias-verdades.
Eu não estou a defender os militares em questão, mas que toda a noticia é estranha e deixa-me com muitas dúvidas em relação à veracidade dos factos, isso não tenho qualquer dúvida!
Tenho a mesma opinião. Na ausência de um relato fidedigno em primeira mão, a única coisa que sabemos sobre esta história é que sabemos muito pouco.
Reacções a quente não me parecem saudáveis quando a única fonte são relatos jornalísticos que já mostraram inúmeras vezes que valem... o que valem.
Fico algo surpreendido com as reacções trocistas de supostos (ex- ?) militares de elite quando entre as qualidades que lhes são mais exigíveis estão a capacidade de reacção e improvisação quando necessário, e de ponderação e avaliação/minimização dos riscos quando a situação assim o permite.
Por isso - e se as notícias são minimamente fieis à realidade - o facto de que estes dois instrutores comandos tenham optado pela solução mais simples quando era possível evitar arriscar a vida não implica que não estejam tanto ou mais prontos do que quaisquer outros a fazê-lo se a situação o exigisse.
Eu por exemplo estou pronto a
arriscar morrer pelo meu país, e não a
morrer pelo meu país. O primeiro pode muito bem implicar o segundo, mas é uma diferença subtil que me parece sensata, e que não implica ser cobarde, queixinhas, ou seja lá o que for. Sem ofensa, atitudes diferentes parecem-me dignas de mentirosos ou de malucos. Agora isto não passa da minha opinião pessoal, que tal como os relatos jornalísticos, vale o que vale - talvez muito pouco.
Mas se há uma coisa que a experiência deveria ensinar, é que os donos da verdade inveterados são os que caem primeiro quando a situação se torna "complicada". E o facto de ter tido razão não é sequer motivo de satisfação para quem já viveu essas situações...
Cumprimentos.