Maioria de irlandeses ignorou a ida às urnas
Alexandra Carreira
Em Dublim
Tratado de Lisboa. A taxa de participação do eleitorado da Irlanda no referendo ao documento europeu ficou perto dos 40%, uma situação que poderá favorecer o "não". A verificar-se este resultado e perante a ausência de um plano alternativo, a União Europeia corre o risco de viver mais uma crise
Os resultados oficiais são divulgados hoje
Apesar dos apelos que tanto apoiantes do "Sim" como do "Não fizeram aos irlandeses a abstenção no referendo ao Tratado de Lisboa foi elevada. Os resultados oficiais só são conhecidos hoje, mas a taxa de participação não terá ultrapassado os 40%, de acordo com a imprensa irlandesa. A contagem dos votos começa hoje às nove da manhã e, a julgar pelo que admitem os dois lados da corrida, a luta será renhida até ao fim.
Os indecisos foram, até ontem, a esperança da campanha a favor e contra o Tratado de Lisboa. As últimas sondagens realizadas antes da ida às urnas revelavam que cerca de 30% dos irlandeses ainda não tinha decidido o sentido do seu voto. Cerca de 90% dos políticos irlandeses estão a favor do documento, pelo que, de início, se contaria com um "Sim" garantido.
Apesar disso, a campanha acutilante conduzida pelos opositores a Lisboa conseguiu agarrar parte do eleitorado. "Ninguém me explicou do que se trata, para que eu, o comum dos mortais, possa perceber o que é o tratado", diz Jason Hills, que acabou por votar contra naquele que é o único referendo em 27 Estados membros da União Europeia.
Na mesma linha, Maria Duggan, que tentou ler o documento, brinca, à porta da assembleia de voto, que "eles lá em Bruxelas devem ter um tradutor de japonês muito mau, aquela coisa é impossível de ler!".
Mas a ignorância sobre o tratado em que estão a votar não é problema para todos. John Edwards, que interrompeu o trabalho para ir votar, escuda-se na "confiança no Governo" para se decidir "pelo 'Sim'". E justifica que "não cabe ao cidadão comum perceber todos pormenores sobre um tratado. Já votei neles, se me dizem que é o melhor, então voto sim a Lisboa".
Parte da grande fatia dos, até ontem, indecisos, Frederic Kwust, que votou "Não" a Lisboa, contou que só na véspera tinha tomado uma decisão. "Já temos problemas suficientes, não precisamos de mais", diz o eleitor de 65 anos, um habitante dos subúrbios da capital. O argumento principal é a crise económica que se faz sentir a nível global. "Não fossem os preços tão elevados e o custo de vida a piorar tanto, talvez tivesse confiança para votar 'Sim'", confessa. Ao contrário, Sarah Cleary, estudante de 25 anos, lembra que "a Irlanda beneficiou bastante com a União Europeia. Está na altura de dar algo em troca", diz, apesar de desconhecer os meandros do documento.
A verdade, já apontavam as previsões, é que uma abstenção elevada na Irlanda tende a beneficiar o "Não" - por definição, o lado mais mobilizado para o voto. Cerca de metade dos três milhões de eleitores encontram--se em Dublin e nos arredores. O resto da Irlanda resume-se a um eleitorado predominantemente rural que, antes do apoio da Associação Irlandesa de Agricultores, era dado como voto certo no "Não". O apoio, embora de peso, chegou tarde e pode não ser suficiente para contrabalançar um "Não" activo e mobilizado.
(do DN)