Tenho acompanhado aqui e no Facebook com espanto este debate à volta dos C-130J. As mesmas pessoas que argumentam a necessidade de uma indústria de defesa nacional e lamentam o fim de projectos como a produção de armas ligeiras ou veículos militares em Portugal escandalizam-se com a aposta - com riscos, claro, mas estratégica para o cluster aeronáutico nacional - no KC-390? Isto para poupar 100 milhões de euros num C-130J que não será feito no país ou sequer vai ter engenharia portuguesa? Não percebo.
Pela primeira vez em 15 anos há uma estratégia ambiciosa para a indústria da defesa e que, vá lá, não muda com governos de diferentes cores partidárias - o tal arco da governação. E estratégia não se faz com certezas absolutas e sem riscos...
Olá Pedro!

Andas nisto há quase tanto tempo como eu, e até de forma bem mais dedicada, e achei curioso abordares a questão somente de um ponto de vista económico. Afirmar que a escolha do KC-390 para a Força Aérea Portuguesa será importante para a indústria de defesa nacional portuguesa, além de possuir engenharia nacional, é um argumento que cai um pouco por terra quando em Portugal se trabalha para o A400M, por exemplo, e nem por isso ele ostenta a Cruz de Cristo na fuselagem. E o Centro de Serviços Autorizado da Lockheed Martin em Alverca para o C-130/L-100 não traz investimento para o país?
E do ponto de vista operacional? O facto de ser uma aeronave ainda em desenvolvimento, já com alguns problemas conhecidos como o modesto alcance quando carregada, e mesmo o facto de ser um aparelho que terá forçosamente de ter um período de aprendizagem mais extenso se comparado com o Super Hercules, por trazer consigo uma nova forma de operar, novas doutrinas e ensinamentos, também não interessam? É que as actuais tripulações dos Bisontes seriam capazes de discordar.
Quer-se tente afirmar ou não o contrário, o facto é que a concretizar-se a escolha do KC para substituto do C-130 ela será, uma vez mais, estritamente política, relegando para segundo plano o que são os requisitos e as reais necessidades da Força Aérea Portuguesa que, obedientemente, só terá de acatar a decisão do Executivo.
Tenho que tirar o chapéu aos brasileiros de forma categórica pois são reconhecidamente mestres na comunicação e exímios no marketing, e isto não é uma crítica mas antes um elogio. E sei do que falo pois trabalho de perto com uma conhecida agência de publicidade da nossa praça que tem à sua frente um homem que veio revolucionar a comunicação em Portugal quando chegou ao nosso país há quase três décadas. Recordo-me quando numa das primeiras vezes que nos encontrámos ele me ter afirmado em tom de brincadeira que o brasileiro tem o dom de conseguir vender óculos a um cego, sendo por isso um comunicador nato. E quando digo isto não estou a traçar qualquer paralelo com a situação em questão ou tão pouco a ser irónico, pese embora ache que a presença (bem-vinda, claro) de um engenheiro aeronáutico da Embraer aqui no fórum peca por excessiva no seio dessa suposta estratégia de comunicação/marketing, apesar dos nossos distintos leitores e frequentadores.
