Texto interessante, sem dúvida, mas que parece ser apenas uma colecção de informações sobre o movimento ibérista do século XIX.
Creio que um dos principais problemas dos anti-iberismo, é no neu ponto de vista, o exagerado "bater na tecla" do dominio espanhol.
Sendo os portugueses, no século XIX na sua essência uma mole imensa de analfabetos, é natural que se tenha despertado um sentimento anti-espanhol, apresentando como oposição ao ibérismo, o ocorrido no periodo de 1580 a 1640.
No entanto, acredito que há um terrível erro de análise, em que me parece que o próprio autor do texto cai.
É que a "Hespanha" de que Portugal fez parte entre 1580 e 1640, não é a mesma Espanha que hoje conhecemos e que foi criada em 1715, depois da guerra da sucessão, em que os Austrias foram definitivamente afastados da península íberica pela mão dos franceses.
A partir de 1715, a Espanha, passou a ser pouco mais que um apêndice dos franceses, e portanto extremamente ligada ao chamado bloco continental, que mais tarde (século XIX e XX) teve a Alemanha como o seu principal elemento.
A diferença entre estas duas "Espanhas" é enorme.
A actual, é uma cópia do Estado Francês, e é por natureza avassaladora e unificadora. A Espanha afrancesada, destruiu tudo o que não tivesse origem em Castela, porque foi em torno de Castela que os franceses construiram o Estado Espanhol.
Já a Hespanha dos Habsburgos, era um império. Um império onde os vários países ou nações constituintes, seguiam os seus próprios ritos, respeitavam a sua própria cultura, mas aceitavam um monarca, que era ao mesmo tempo monarca de outros países e nações.
Esse modelo, resistiu até à I Guerra Mundial, pois o Império Austro-Húngaro, é uma fotografia fiél do que era a "Hespanha" dos Habsburgos no século XVI ou XVII.
O império Austro-Hungaro existia, mas a Áustria e a Hungria tinham povos completamente diferentes, que falavam línguas diferentes e eram países separados.
o Imperador Habsburgo tinha que ser coroado Rei da Hungria, e obedecer às leis do país, tinha que falar Hungaro, e garantir que a Hungria continuava a ser um país independente.
Também os croatas tinham estatutos idênticos, embora os Croatas não fossem tão importantes, porque os Hungaros eram muito mais ricos.
= = = =
Ora, entre 1580 e 1640, Portugal teve um rei, nessas mesmas condições.
Os Habsburgo tinham em Portugal, mais um dos reinos da sua coroa, mas esse país, nunca fez parte de Espanha ou de qualquer Espanha como entidade nacional, primeiro porque isso não faría sentido para os Habsburgo e depois porque não existia nenhum país chamado Espanha para Portugal fazer parte dele.
Espanha era, como foi até 1715, uma referência geográfica que designava uma peninsula no sudoeste europeu, da mesma forma que Ibéria hoje o designa.
= = = =
O velho argumento do papão do tempo dos Habsburgos não procede, porque o Ibérismo de hoje nada tem a ver com a União de coroas separadas sob um mesmo monarca.
Hoje Iberismo, é sinonimo daquilo em que a Espanha se transformou, o império dos castelhanos, que conseguiram impor a sua cultura, os seus costumes, a sua musica, a sua língua a todos os restantes povos (excepto Portugal) criando esta ideia de que existe um só país.
Hoje a Hespanha segundo o modelo dos Habsburgos, ou seja, uma espécie de União Europeia, não faria sentido, porque já existe uma, muito mais ampla.
A outra Espanha, aquela que fala, come, respira e exala espirito castelhano por todos os poros, é-nos absolutamente contrária, e só a destruição de Portugal pode servir os seus objectivos.
Para os Espanhóis, a Espanha é Castela, por muito que eles o queiram negar, e qualquer união de Portugal com Castela, é contra-natura.
O sentimento Xenófobo dos castelhanos (já infelizmente demonstrado aqui) vem piorar ainda mais a situação.
Aliás, foi a Xenofobia castelhana, que levou a que muitos dos portugueses que estavam na corte dos Áustrias se sentissem mal e entendessem que se continuassem assim, acabariam por perder os seus empregos para os castelhanos, e não haveria Portugal para voltar, porque também em Portugal os castelhanos estavam a ocupar todos os lugares na administração. Queixaram-se os portugueses, como se queixaram os nacionais de outros países, como a Catalunha ou Navarra e até os Valêncianos criticavam os castelhanos.
Um número significativo de funcionários públicos portugueses, estão infelizmente entre aqueles que mais gostariam de ser espanhóis, aguardando um salário mais alto. Mas quando entendessem que os seus lugares estaríam em risco, porque para ser funcionário público é necessário ser "Buen Español" ou seja de origem castelhana, então voltariam todos a ser «revolucionários lusitanos».
O grande problema da Península Ibérica, chama-se nacionalismo castelhano. Não é a Espanha como realidade geográfica que é um problema. O problema é a entidade anacrónica que os castelhanos criaram e a que incorrecta e ilegitimamente apelidaram de Espanha.
Cumprimentos
====
PS.
Lembro que este é um fórum português, e que se dispensam comentários em língua castelhana, como os que infelizmente já se tornaram comuns.