Participação portuguesa no Afeganistão assume nova dimensão militar e política
Portugal volta a empenhar uma unidade de combate na missão da NATO no Afeganistão no momento em que, face à situação crítica vivida no terreno, se multiplicam apelos a uma revisão da estratégia da coligação ocidental no conflito.
Portugal iniciou a sua participação na ISAF, a força multinacional de estabilização liderada pela NATO no Afeganistão, logo em 2003 e manteve desde então uma presença em diversas modalidades naquele teatro.
Na presença portuguesa no teatro afegão, destaca-se o empenhamento, entre 2005 e 2008, de unidades de combate com funções de força de intervenção QRF (Quick Reaction Force - Força de Reacção Rápida) que ficaria marcada pela ocorrência de duas baixas.
Em 2009, Portugal contribuiu para o esforço da NATO de apoio ao processo eleitoral com um C-130. Portugal mantém actualmente no teatro afegão duas OMLT, equipas de treino e enquadramento de unidades do Exército afegão, uma equipa médica e três elementos no Quartel-General, num total de uma centena de militares.
Com a partida para o Afeganistão da nova unidade de combate, a presença militar portuguesa elevar-se-á a mais de 250 homens.
A presença portuguesa na ISAF, como em geral o empenhamento de forças portuguesas em missões de paz internacionais, raramente mobilizou grande debate político.
A participação portuguesa tem sido no fundamental definida, nos planos militar e político, no âmbito das instâncias da NATO - o Comité Militar e o Conselho do Atlântico Norte.
A decisão de retomar a participação portuguesa com uma unidade de combate suscitou, porém, alguma polémica.
A decisão surgiu na sequência da revisão da estratégia norte-americana no Afeganistão anunciada por Barack Obama em Março de 2009 e dos apelos de Washington ao reforço do contributo militar europeu para o esforço de guerra no Afeganistão.
A decisão de retomar a participação portuguesa com uma QRF (Força de Reacção Rápida), num momento em que em outros países europeus se hesitava na resposta aos apelos de Obama, mereceu na altura acesas críticas do PCP e do Bloco de Esquerda que acusaram o Governo português de «seguidismo» em relação à política de Washington.
A missão que os Comandos portugueses se preparam para iniciar no teatro afegão ocorre num contexto militar e político marcado pela «nova estratégia» e pelo reforço militar anunciados por Barack Obama no início de Dezembro e pela estratégia de contra-subversão elaborada pelo comandante das forças da coligação, general Stanley McChrystall.
No plano político, assumem particular relevo neste contexto declarações do ministro dos Estrangeiros defendendo a urgência de uma definição clara das perspectivas da União Europeia em relação ao conflito do Afeganistão, de modo a evitar uma «permanente subordinação» às concepções definidas em Washington.
As declarações de Luís Amado surgem no momento em que nas instâncias diplomáticas se insiste cada vez mais na vertente civil e de desenvolvimento em detrimento da via puramente militar.
A conferência internacional sobre o Afeganistão que se reúne quinta-feira em Londres , uma iniciativa que partiu exactamente de capitais europeias - Paris, Londres e Bona -, dá expressão a esta abordagem e poderá introduzir elementos novos no contexto político do conflito afegão.
Lusa