A verdade é que ninguém se entende sobre o que é realmente ganhar a guerra.
Normalmente para um ganhar a guerra o outro tem que a perder, e a Ucrânia não está nas melhores condições para ganhar guerra nenhuma. Tem uma população inferior e acima de tudo é uma democracia onde por muito controle que alguns tentem impor, é sempre possível furar.
Não há KGB na UCrânia e nas ruas e nos bares de Kiev as pessoas falam abertamente.
Na Ucrânia não é proibido criticar o Zelensky, continua a haver criticas ao presidente na televisão e nos jornais.
Tudo isto dá uma impressão de uma Ucrânia mais fragil, perante um país muito maior, onde vigora uma ditadura criminosa, onde não há critica, não há oposição viva (literalmente viva no sentido biológico), onde continua a existir grande numero de recursos que segundo alguns são inesgotáveis.
O problema é que as coisas na Russia não são assim tão simples, e nunca foram.
Os ucranianos não são os únicos teimosos nesta história, os russos não são muito diferentes e de uma forma ou de outra equivalem-se.
Daqui resulta que se houver problemas do lado russo, não vamos conhece-los tão depressa, porque a ditadura russa é naturalmente um regime repressivo.
Mas como aconteceu noutras alturas, como os russos esticam a corda até não poder mais, às vezes a corda parte.
As coisas também não estão a correr bem do lado russo.
A suposta ofensiva esmagadora contra Kharkiv que o Agostinho Kostov já anuncia desde há mais de um ano a esta parte, produziu resultados pifios...
O ataque contra Vovchansk foi na direção errada, porque os russos aproveitaram o fato de os ucranianos concluirem que por ali, ninguém passava, porque por ali não se ía a lado nenhum e portanto não construiram as adequadas defesas e mais importante não dissimularam a não construção[1].
Mas consegue-se entender agora, que outra coisa que falhou nos objetivos russos em Kharkiv, foi a tentativa de atrair maiores efetivos ucranianos para a região o que não aconteceu.
O resultado, como começa agora a ser evidente, é que os russos continuam a avançar, mas contra forças ucranianas de segunda linha, como ainda ontem pudemos ver em reportagens de televisões internacionais com unidades russas armadas com equipamento ferrugento.
Obviamente que os ucranianos, seguindo as táticas do novo chefe de estado-maior, aceitam mais facilmente ceder terreno para evitar mais baixas.
Os russos continuam a fazer a mesma coisa de há mais de um ano. Atacam com pequenos grupos e conseguem surpresas aqui e ali e avançam metro a metro procurando explorar fraquezas pontuais.
Tudo isto nos leva a concluir que, dificilmente a Ucrânia poderá ganhar esta guerra pelo menos para já, mas que a Russia, também não aparenta ter essa capacidade.
Os ataques recentes, tentaram aproveitar o recursos mais reduzidos dos ucranianos, antes que mais reforços especialmente munições, cheguem às linhas da frente. E isto não é tão facil quanto dizia o Nuno Rogeiro, que aquilo era só aprovar na America, que no dia seguinte estava quase tudo na Ucrânia.
Havia equipamentos preparados para serem entregues aos ucranianos de imediato, mas eles são uma fração muito pequena da ajuda americana.
Os russos fizeram o óbvio, atacar, antes que os reforços ucranianos estejam em posição, antes que as unidades de reserva operacional estejam completamente providas do material que lhes foi sendo retirado para ser desviado para unidades na frente.
Continuamos na mesma mais de dois anos depois do inicio desta fase da guerra que já dura há dez anos.
Eu lembro-me sempre da questão de Timor...
Todos diziam que Timor nunca seria independente, porque a Indonésia era muito mais poderosa e que jámais permitiria a independencia de Timor.
Até que o Suharto se foi embora ...
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[1] - Numa área onde o inimigo pode penetrar é importante ocultar as zonas fortificadas, como é importante indicar que há igualmente zonas ocultas, que podem ou não estar fortificadas. Esconder que não há fortificações e deixar indicios de que alguma coisa foi construida é igualmente importante.