Queres 8-10 TA-50 para quê, quando só formas 2-3 pilotos de caça por ano? Quanto à produção/incorporação na Europa, seria muito mais natural que essa linha de produção/montagem fosse para a Polónia, dados os números de aparelhos que eles compraram. Terei todo o prazer em continuar esta discussão no tópico do ST, aqui é claramente off-topic.
8-10 TA-50 permitem tapar o burado deixado pela venda de F-16. Permitem fazer muito mais do que apenas conversão operacional (fariam as etapas todas de treino avançado, substituindo-se os TB30 por um avião a hélice mais barato), e permitiam, juntamente com outros países europeus que procuravam uma alternativa à escola italiana, para treino de pilotos, formando uma escola internacional.
E isto foi apenas uma das várias opções que apresentei. Uma das opções até incluía a compra de Super Tucanos, mas numa versão mais barata e sem funções de combate, para não haver a tentação de colocar pilotos em risco sem necessidade.
No fim, este programa, fosse qual fosse o modelo escolhido, nunca justificaria envolvimento da indústria. As quantidades a adquirir seriam sempre reduzidas. Se era para envolver a indústria, que se fizesse para um modelo de avião que tivesse potencial de mercado a médio e longo prazo.
Se nós temos mão de obra limitada, faz sentido desperdiçar mão de obra qualificada para produzir um produto que não tem um mercado suficientemente grande para o justificar? Claro que não. Fazia sentido era participar na produção de algo com mercado.
Quanto à questão das valências, no teu mundo não sei, mas no meu a valência é o reabastecimento em voo. Se é MRTT ou KC, se é lança rígida ou cesto flexível, isso não são valências, são implementações da valência base. Do mesmo modo a valência é ter aviação de caça; ser stealth, AESA, a hélice ou bilugar, são estratégias de implementação da valência base. Tudo bem, já percebi o que queres dizer, sem stress…
"Valências" neste contexto, é intercambiável com "capacidades".
Ter Forças Armadas é, no contexto do país, uma valência. Dentro dessas FA, divides em ramos, com as respectivas valências.
Ter aviação de caça é uma valência. Dentro da aviação de caça, diferentes aviões podem ter valências diferentes. O F-35 tem valências/capacidades que caças 4.5G não têm.
Seguindo este raciocínio, o exemplo que dei foi que qualquer pessoa podia pegar naquele teu argumento, e dizer que como Portugal nunca teve um caça com as valências do F-35, e sobreviveu sem isso, logo podia comprar apenas um caça 4.5G.
No fim, aquele argumento que usaste não fazia sentido, porque abre a porta para que o mesmo fosse usado para virtualmente qualquer programa de aquisição. É apenas isso.
Quanto à questão do estudo, continuas a tirar conclusões que não estão lá… eu nem sequer digo que não houve corrupção, não sei se houve ou não. Também concordo que a compra provavelmente foi uma decisão eminentemente política (como, aliás, todas as decisões têm que ser, porque em democracia o poder militar é subordinado do político, e ainda bem). Agora, nunca vi em lado nenhum a FAP “estrebuchar” contra o ST, como a vejo agora a fazer contra a possibilidade de abandonar a compra do F-35. A minha pergunta mantém-se, alguma vez viste a FAP ou alguém ligado à FAP vir a terreiro protestar contra a compra? Eu não vi…
Pelo menos já estamos a chegar a algum lado, de que a compra foi provavelmente (quase certo) uma compra política.
Da mesma forma que o anterior CEMA, com todo o "peso político" que tinha, vezes e vezes sem conta em entrevistas se recusava a "reclamar" do estado da Marinha, não é de estranhar de maneira alguma que as chefias da FAP tenham feito o mesmo neste caso.
Tanto quanto sabemos, a FAP aceitou na esperança de cair nas boas graças do Governo, para, por exemplo, conseguir somar pontos de forma a ser dada luz verde para os F-35.
Se foi este o caso, a ver vamos se o tiro não sai pela culatra, porque se criou o monstro do lobby da Embraer, e ficamos empastelados com Gripens em mais uma negociata política...
Se a escolha do ST foi da FAP, e
se foi a FAP a adicionar o critério CAS, estamos então a falar de um caso de incompetência pura. Quando os pilotos são o "asset" mais valioso da FAP, não faz sentido nenhum colocar em risco a bordo de aeronaves com pouca sobrevivabilidade em TOs modernos.
Já que estamos numa maré de dar opinião apenas porque sim, a minha opinião é que a FAP provavelmente queria algo mais na linha do que propões, mas o poder político achou que deveria ser o ST. A FAP fez estudos e chegou à conclusão que não sendo ideal para treino era suficiente, e que, ainda por acima, dava para fazer CAS, que é uma valência (lá está de novo a palavra) em que a NATO/UE é deficitária e ajudava a vender a coisa ainda melhor. Não partilho da opinião que parece ser prevalente aqui de que o processo está inquinado por corrupção desde o início e que estão todos metidos nisto.
Ninguém disse que estão todos metidos nisso. O que se diz é que o negócio tem contornos estranhos. Tão estranhos que os primeiros chegam já este ano, e não se sabe nada do contrato.
O critério CAS só ajuda o ST a vender melhor, para quem se esquece que este critério torna a aquisição mais cara, e obriga à compra de aeronaves em número superior ao que seria necessário. (8-10 se calhar bastavam, principalmente se juntares o Cirrus, e os hipotéticos Lus-222 para treino plurimotor).
Do ponto de vista NATO/UE, não há falta de meios para CAS. Não sei de onde surgiu essa ideia. Quanto muito COIN, mas para COIN consegues desenrascar com meios já em uso pelos países em questão, não precisas de um meio dedicado.
Entre diversos modelos de caças, helicópteros de ataque, helicópteros médios e leves armados, UCAVs MALE, UCAVs pequenos e armados tipo Bayraktar, aeronaves de treino avançado armadas... não é uma dúzia de STs que vai fazer diferença, principalmente em cenários de média e alta intensidade.
É isto; e até o Ministério Publico ou um oficial superior escrever as memórias com outra narrativa escusamos de estar sempre a argumentar "corrupção"; ou é surpresa que o poder político gosta de uma empresa sócia maioritária da empresa em que participa, com a importância da OGMA? Que permite projectos industriais como o KC390 (e, agora, espera-se... o ST) e está disponível para a "subsidiar"? E aprecia o facto de irmos poder dizer que temos - duvido que seja usada, no entanto - uma capacidade (CAS) em que a UE é deficitária, num cenário (África) em que queremos ter uma palavra a dizer? E resolve uma necessidade de treino. Os governos veem e consideram mais variáveis que apenas "PC21 + drones (ou TA-50) é mais barato e melhor".
Isso já é passar um atestado de otário às pessoas.
O Governo "gostar da empresa", abre caminhos perigosos para um grau absurdo de submissão à mesma. O Alfeite é do Estado, e não é por isso que os Governos gostam da dita empresa. As empresas portuguesas de drones, não recebem nem de perto o mesmo nível de carinho. Mas no que toca à Embraer, baixa-se as calças? Achar que isto é normal, é de uma anormalidade tremenda.
A Embraer está a subsidiar-se a si mesma. Com a participação de Portugal no programa, não só ganhou um cliente do KC (que lhe garantiu mais de 1000M entre o dinheiro que colocámos no programa + a compra das aeronaves), como ainda ganhou acesso a fundos UE. A nossa margem de lucro, não sendo zero, continua a ser relativamente reduzida, para tanto alarido criado.
O programa ST é ainda pior. A Embraer pode dizer que ganhou o ST é operado por um país da NATO, ganhou dinheiro com a venda dos aviões, e por cá ficam todos contentes porque valos aparafusar umas cenas (hipérbole) aos aviões e fingir que é uma grande cena.
Isto é que é investir na indústria de Defesa? Coitados. Os outros andam com grandes programas, muitos deles a pensar no médio/longo prazo, nós andamos a brincar às IdD.
Repetindo novamente, a UE não é deficitária no quesito CAS. Existem centenas de meios aéreos dentro da UE capazes de cumprir a função. 12 STs são completamente irrelevantes
Se querem ter uma palavra a dizer em África, comecem por umas FA verdadeiramente capazes, a começar pela capacidade logística e "boots on the ground" e projecção de poder em geral. Comecem por ser capazes de edificar, sustentar e defender uma FOB no continente africano. Comecem por tratar de formar boas relações com países da região, de forma a que nos permitam fazer o que os EUA fazem nas Lajes.
Caso contrário, comprar STs é uma brincadeira de crianças inconsequente, de um país que continua dependente dos outros para fazer o que quer que seja fora das suas fronteiras.
Querem falar de capacidades deficitárias da UE, falem das coisas a sério, não de meios para baixa intensidade. Falem de bombardeiros estratégicos, capacidade BMD, baterias AA, AWACS, aeronaves AAR, escoltas de superfície, submarinos, etc.
Não venham fazer cherry picking apenas para produtos que a Embraer possa oferecer.
Os governos vêem variáveis que dêem votos, e/ou que beneficiem determinadas entidades/agendas. As variáveis que importam, como a sobrevivabilidade dos pilotos que teriam que combater nos ST, são ignoradas.
Comparar um binómio PC-21 + UCAV, com a compra dos STs, e usar critérios políticos, não faz sentido nenhum.
Uma coisa é uma compra política, feita de forma racional e com base em critérios técnicos e operacionais. Outra é uma compra política que ignora estes critérios, e que as FA que aguentem.
Isto é abrir um precedente perigoso. Por exemplo o Governo decidir unilateralmente comprar mais NPOs para substituir as fragatas (pegando em todos os critérios usados para justificar os STs), e a MGP que se desenrasque.