Umas notas soltas:
Os americanos não querem que os Açores sejam território deles. Apenas querem que o governo que está em Lisboa não se meta com esquisitices quando a base das Lajes for necessária.
Muita gente esquece a realidade em que estamos integrados...
Voltando aos acontecimentos de 14 de Maio de 1915, lembro que nessa altura (como noutras) foi a Espanha que mais uma vez assumindo o seu papel de potência responsável pela provincia portuguesa, enviou a sua esquadra para lembrar ao governo português que se não conseguia controlar as ruas, havia quem tivesse capacidade para isso.
Durante a II guerra e no periodo que a antecedeu, os ingleses fartaram-se de lembrar o Salazar de que a Inglaterra poderia não defender a posição portuguesa no que respeitava à sua independência face à Espanha.
Durante o verão quente de 1975, quando mais uma vez os portugueses estavam à beira da guerra civil, mais uma vez a Espanha se propôs ser a potência administrante avisando que poderia intervir em Portugal nesse ano.
Quer os ingleses quer os americanos, sabem perfeitamente que nós sabemos que eles sabem que os espanhóis sabem.
Nós não queremos ser apenas uma espécie de estado associado da Espanha, sem politica externa que não seja aquela que emana de Madrid. Esse tem sido um dos principais problemas de todos os nossos governos no que respeita à politica externa.
Sempre que há convulsões na Europa e essas convulsões se estendem direta ou indiretamente a Portugal, invariavelmente Madrid faz sondagens em Londres e mais recentemente em Washington, para medir a temperatura.
Isto não tem nada a ver com anti-espanholismo, tem a ver com factos históricos:
Intenções mais que documentadas de Alfonso XIII (cujo país chega a enviar uma esquadra para Lisboa, forçando França e Inglaterra a enviar navios, para mostrar a Madrid que estava a agir demasiado depressa).
Intenções mais que documentadas do pan-iberismo influenciado pelo Anschluss da Áustria, que eram objetivo dos falangistas espanhóis durante o periodo de 1940 a 1943.
Intenções igualmente documentadas sobre a viabilidade de uma invasão de Portugal em 1975.
Todos estes assuntos foram aqui já discutidos mais um menos profundamente.
Logo, por muito que nos custe, a verdade é que nós temos nos Estados Unidos, um país que substituiu a Grã Bretanha como aliado preferêncial, e como potência a quem podemos recorrer caso aconteça o que é costume.
Nós não podemos ver estas coisas ao abrigo do que vemos hoje, do que acontece hoje, da configuração da União Europeia de hoje.
Temos que pensar em termos de relaçoes entre estados, tentando prever o que acontecerá dentro de 20 ou 30 anos.
Já aqui chamei à atenção, para a dimensão desmesurada da nossa Zona Economica Exclusiva.
Nós tendemos a pensar que nada muda e que tudo fica como está, e depois ficamos muito espantados quando as coisas mudam.
Alguém acha que na Europa nos vão deixar ficar com a ZEE, se por acaso for possível passar à exploração direta do fundo submarino ?
Se a tecnologia o permitir, alguém acha que as principais potências europeias olhando para o mapa e vendo a maior ZEE europeia nas mãos de uma potência menor vão deixar as coisas como estão ?
Nós precisamos dos americanos hoje, mais que o que precisámos no passado.
As nossas pretensões sobre a ZEE, nomeadamente sobre o aumento da plataforma continental precisam do apoio dos americanos (o que é dificil dada a politica de Washington neste campo).
Quando as potências da Europa Central, começarem a exigir os seus (deles) direitos à percentagem da nossa ZEE que lhes pertence, alguém acha que com os dois submarinos podemos de facto fazer alguma coisa ?
Precisamos do guarda chuva americano, como precisámos do guarda chuva inglês.
E isto é realismo, não tem nada de anti-europeismo, anti-espanholismo ou anti-qualquercoisismo.