Caros cabeça de martelo e luso,
Bonitas palavras, mas de difícil interpretação. Se não vejamos, até com a ajuda e citando: "25 de Abril é libertinagem e tachos, mortes, fome, guerra e miséria. Há que pensar nos outros, não é verdade?"
Assim se referia o luso quando lhe perguntaram o significado de algumas datas.
Temos assim, que para o visado, o espaço temporal em que hoje escreve é um espaço de libertinagem, tachos, morte, fome, guerra e miséria. Certamente por contraponto com o anterior a 25 de Abril, que teria sido de rigor, de isenção, de paz e de riqueza.
Concedendo, que não sabendo do que fala, usufrui pelo menos a liberdade de hoje poder dizer o que então não podia, por dois motivos fundamentais, não só porque não era vivo ou a ser limitava-se a balbuciar, ou então se falasse falaria de tudo, menos disto, é bom que saibam o seguinte:
O poder político anterior ao 25 de Abril, que nunca aceitou nem tentou resolver a questão africana pela via do diálogo, que lhe foi proposto muito antes do início da guerra de África, nem em momentos posteriores, quando já no decurso da guerra, o mesmo foi tentado por dirigentes políticos mundiais, teve sempre para com o conflito africano e para o envolvimento das forças armadas uma clara e inequívoca mensagem de "desenrasquem-se, morram por aí, que nós, uma vez por ano, honramos os que morrerem".
E assim foi, nos meios de combate colocados à disposição das forças armadas, no abandono a que eram votados os militares no teatro de operações, na integração civil quando regressavam do T.O., e obviamente no epifenómeno associado à morte dos combatentes. A estes o Estado não assegurava o regresso dos seus corpos exigindo aos familiares o pagamento para o mesmo se poder fazer. Temos assim, que se alguém nunca honrou o compromisso para com aqueles a quem obrigava a partir para África, era e foi claramente o tal Estado, que para alguns, nos quais o luso se inclui, terá sido um bom Estado.
Exigir hoje, de um Estado, que nas vossas palavras é o contrário do que gostariam, é no mínimo um exemplo de contradição a que só pela ignorância do que então se vivia, podem deitar a mão.
A história da Guerra Colonial, está de facto por fazer. Por um lado a proximidade da mesma e a existência, felizmente, de milhares e milhares de combatentes que ainda se encontram vivos, mas, muitos deles, com os traumas inerentes aos milhares de mortos e estropiados que viram à sua frente, acaba por funcionar como uma barreira à divulgação de todos os episódios que então se viveram, por outro a não desclassificação da documentação existente nos arquivos, aguardando que sobre os mesmos passe o período legal, acabam por impedir um debate, que tem de ser sério, rigoroso e objectivo e para o qual muito pode contribuir este fórum, se em vez de opiniões de duvidoso esclarecimento, pudessem acrescer factos objectivos que ocorreram naquele período.