Mais do que a dicotomia interior-rural, talvez pudesse explicar melhor a minha tese pelas dicotomias urbano-rural (a percentagem de participação eleitoral em áreas rurais, seja no litoral ou no interior, é frequentemente superior à da população urbana), pela dicotomia ao nível da idade (as taxas de participação ao nível dos adultos de "meia-idade" (cerca de 50 a 64 anos de idade) e dos idosos "não excessivamente idosos" (de 65 a cerca de 75 ou 80 anos de idade) são bastantes superiores à da população com menos de 50 anos de idade) pela dicotomia ao nível dos rendimentos (são os indivíduos com rendimentos mais baixos (obviamente não tão baixos que, em última estância, pudessem ser, por exemplo, "sem abrigo") e os indivíduos com rendimentos mais elevados que têm maiores taxas de participação eleitoral, pela diferença dos números absolutos dos grupos em questão, compreendemos que a influência dos votantes com rendimentos mais baixos é maior) e pelas diferenças ao nível da escolaridade (sendo a participação maior ao nível dos indivíduos sem escolaridade e com a escolaridade ao nível do 1.º ciclo do ensino básico (vulgo 4.ª classe), diminuindo progressivamente à medida que aumenta o nível de escolaridade (2.º CEB, 3.º CEB e Ensino Secundário), voltando apenas a aumentar ligeiramente ao nível do ensino superior (indicando alguns estudos que pode aumentar com maior veemência entre os possuidores de mestrado e doutoramento). Estas conclusões podem ser vistas em diferentes estudos e teses de sociologia eleitoral e de ciência política com ênfase no estudo do comportamento eleitoral (neste último aspecto alguns trabalhos são mesmo tratados ao nível da psicologia social).
Temos portanto em Portugal um "corpo eleitoral" muito fixo, quase imóvel, em que quem "vota sempre" são "sempre os mesmos", que de certa forma surge sobre-representado em relação à sua real dimensão demográfica, composto por índividuos tendencialmente rurais, idosos, com baixos níveis de rendimentos e baixos níveis de escolaridade, segmentos da população que se sem dúvida também existem no litoral, são preponderantes no interior do país. Esta situação ajuda a explicar porque é que o sistema de partidos em Portugal se tem mantido tão estável, sendo bastante difícil a entrada de novos partidos políticos no parlamento.
Neste sentido, voltando a questão inicial da importância das TIC e das redes sociais online na participação eleitoral e na escolha eleitoral, percebemos que a influência das mesmas no "corpo eleitoral" acima descrito é praticamente nula, podendo ter alguma influência sim no “corpo eleitoral” que frequentemente se abstem e que é formado por pessoas tendencialmente urbanas, jovens, com maiores níveis de rendimento e de escolaridade, que seguramente também existem no interior do país, mas que têm muito maior importância tanto em termos relativos como em termos absolutos no litoral. O busílis é que muitas destas pessoas são já “militantes convictos da abstenção” e por mais cartazes editados no phototoshop colocados no facebook e vídeos do youtube com as fuças do António Costa e do Passos Coelho…ninguém quer saber disso…