Volto a repetir: um navio da classe Wave é um multiplicador de força, algo que não possuímos nem na Marinha, nem na Força Aérea. Serve para missões nacionais civis e militares (capaz de prestar auxílio a catástrofes naturais e ajudar em evacuações de cidadãos nacionais, por exemplo), internacionais civis e militares, e mostra a bandeira. É um meio que faz até mais falta que um LPD, podendo de certa forma ser usado como tal dada a capacidade de operar e albergar um Merlin Mk.516 CSAR, em condições bastante superiores àquelas onde o Bérrio foi utilizado em 1998 na Guiné-Bissau durante a Operação Crocodilo.
Eu compreendo isso, e não ponho em questão que nos faça falta um AOR, bem como toda uma miríade de equipamentos, e que facilmente poderiam ser justificados com o duplo uso em apoio a populações. A minha única questão é: justifica-se, tendo em conta o estado da frota e das Forças Armadas em geral, um navio com as dimensões dos Wave? Porque a não ser que viesse a um preço de saldo, não estou a ver a necessidade de um navio com 5 vezes a capacidade do Bérrio.
Além de que não sei se haverão muitas nações a comprar material militar pela mais valia que trará à NATO, sem primeiro ver se se enquadra nas suas doutrinas e necessidades de meios.
E então, se fôssemos a um exercício da NATO com um reabastecedor de frota qual era o problema? Ao menos estávamos presentes, e numa função deveras importante. Era o nosso esforço colectivo, o nosso contributo como aliado. Melhor do que agora no Air Defender 2023 onde não iremos marcar presença, para grande vergonha de muitos.
Compreendo isso, e também me choca a quantidade de exercícios multinacionais que falhamos por simplesmente não termos como participar. Mas então voltamos à mesma questão, vamos apostar (dependendo do preço, mas considerando custos de manutenção, upgrades, etc) num meio que serviria maioritariamente para apoiar a aliança, e não para nós?
Sei perfeitamente que uma fragata será bem mais cara de manter e operar, mas dai eu dizer que a Marinha tem que ter linhas guia bem definidas e com orçamento correto.
Membros combatentes? Se mal conseguimos ter duas fragatas operacionais, se os programas de modernização das mesmas foram e são o que são, se o próprio ramo Marinha faz questão de salientar que as mais recentes classes de patrulhas são navios não-combatentes, e se é preferível enviar um submarino a passear ao Atlântico Sul em vez de estar ao largo do Algarve no combate ao tráfico de droga, ou a fazer shadowing ao constante movimento naval russo ao largo da nossa costa, e vem-me falar da preocupação com meios combatentes? Ora se nem Governo, nem aparentemente o próprio ramo estão preocupados com isso, lançando um míssil ou torpedo real apenas quando o rei faz anos...

Aí estamos a entrar na gestão atual das próprias FFAA. Não concordo, de todo, com tudo o que andou, anda, e andará a ser feito, mas não se pode esquecer (ou não se deveria esquecer) que o objetivo principal das FFAA é a defesa da soberania e dos interesses nacionais. Se há quem ande esquecido... Isso são outros 500.
Repito: a aquisição de um Wave, e mesmo hipoteticamente de um navio como o Johan de Witt, são oportunidades que só aparecem de vez em quando. Clientes decerto não lhes faltarão, sobretudo na América do Sul, e nós por cá continuaremos sem nada até provavelmente ao início da próxima década. Afinal em casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão, e é melhor continuar assim do que mudar o chip e adoptar uma postura mais séria e comprometida com a aliança militar da qual fazemos parte, no meio de uma guerra na Europa cujo desfecho ninguém consegue adivinhar.
A minha única questão é exatamente a falta de pão. Estar a aproveitar todos os negócios que pareçam bons, pode nem sempre correr bem. Vamos sempre andar com navios desatualizados, desfasados, várias classes diferentes com todas as dificuldades de manutenção que isso significa, e equipamentos pouco standardizados.