O que afasta e aproxima a sociedade portuguesa da Europa?
O Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa apresenta hoje vários indicadores compilados pelos seus cinco Observatórios e que ilustram “Portugal no contexto europeu”. Os resultados deste trabalho mostram, segundo adiantou à Lusa João Ferrão, investigador deste instituto, que o nosso país está, “globalmente, mais europeu”, sobretudo devido ao comportamento dos mais jovens e escolarizados.
No entanto, nem sempre isto se verifica, havendo um afastamento da média europeia em “aspectos decisivos para o futuro do país”, como a fecundidade, o que é uma realidade "preocupante". O índice de fecundidade, em Portugal, continua a diminuir, tendo descido dos 1,6 filhos, em média, no período fértil, em 1991, para os 1,3 filhos durante esse período, em 2009. Como refere João Ferrão, ao passo que os outros países da Europa já atingiram o grau mínimo deste indicador e já voltaram a subir, Portugal, continua a descer, o que é sintomático de um envelhecimento da população e de disparidades do ponto de vista social.
O investigador do ICS acredita que há o risco de se criarem disparidades inter-geracionais no país. Estão a “cavar-se diferenças entre gerações no interior do país”, o que “não é necessariamente um problema mas pode tornar-se num problema”, afirmou. Na sua opinião, não pode haver um país a duas velocidades: "uma parte mais nova, mais dinâmica, com novos valores, novos comportamentos e novos estilos de vida e uma outra parte onde persistem valores e comportamentos de natureza mais tradicional”, afirmou, acrescentando que isto “apenas é negativo se se transformar numa clivagem que divide os portugueses”.
Para João Ferrão, a solução deste potencial problema passa, em primeiro lugar, por “ter consciência” de que ele existe “para que as diferenças inter-geracionais não se transformem num fosso, do ponto de vista dos conflitos de interesses e do diálogo entre gerações”. Depois, é preciso promover “formas de suscitar essa aproximação inter-geracional”, no contexto das famílias, das comunidades, da escola e até das empresas. “É uma responsabilidade partilhada”, resume.
Diminuição de confiança
Também a diminuição "preocupante" da confiança em entidades públicas e privadas são exemplos da divergência de Portugal face à União Europeia. Quanto a este indicador, os resultados mostraram que os portugueses confiam mais na televisão e na Comissão Europeia do que os restantes europeus, mas confiam menos nos partidos políticos e na justiça.
Além disso, para a sociedade lusa, os sindicatos e as empresas têm pouca credibilidade como fontes de informação ambiental, ligeiramente menos do que os professores e os governos nacionais, sendo que, em 2007, apenas um décimo dos portugueses afirmava confiar tanto nos governos como na classe docente. Nesta matéria, são as organizações ambientais e os cientistas as entidades em que os portugueses mais confiavam nesse ano, ainda que a tendência seja decrescente.
Quase 70 por cento dos portugueses dão prioridade ao ambiente sobre a competitividade económica, um valor em linha com a média europeia. No entanto, apenas "rara ou ocasionalmente" assinam petições ou aderem a manifestações sobre o nuclear, a biotecnologia ou o ambiente.
Entrada precoce no mercado de trabalho
Portugal é o país da União Europeia cujos cidadãos entram mais cedo para o mercado de trabalho, com a média de idades do primeiro emprego nos 17,7 anos, contra os 19 anos da média europeia. No entanto, os portugueses saem de casa aos 21,6 anos, um valor próximo da restante população europeia - 21,1 anos (dados de 2006).
Um dos indicadores (dados de 2009) em que Portugal está na vanguarda são as licenças de paternidade (quatro semanas), a par da Lituânia e apenas atrás da Eslovénia (12 semanas). Por outro lado, o país não está bem posicionado na despesa dos agregados familiares em lazer e cultura nem no emprego cultural que, em 2005, representava apenas pouco mais de um por cento da população activa, o segundo pior desempenho, apenas à frente da Roménia.
Ciência Hoje