Queda livre à velocidade de um 'F-18'
Mário Pardo quer cair de 120 mil pés de altitude e passar a velocidade do som, atingida pelo avião de guerra
"Já em pequeno passava noites inteiras a olhar para o céu", diz. A paixão nunca mais terminou e hoje Mário Pardo, o primeiro BASE jumper português, conta já com mais de 4500 saltos de pára-quedas. No entanto, a palavra "limites" parece não fazer parte do seu vocabulário. Pelo menos a julgar pelos dois projectos que prepara e espera realizar num futuro próximo. Saltar da estratosfera [segunda camada da atmosfera, entre os 10 e os 50 km de altitude], bater o recorde de permanência em queda livre ou ultrapassar a velocidade do som - com o corpo humano - são apenas algumas das coisas que Mário Pardo se propõe fazer. Se não acredita, continue a ler.
"O projecto zerO2 consiste em subir a 50 mil pés, num balão de ar quente, e saltar sem a ajuda de oxigénio", explica o pára-quedista, de 49 anos. A preparação começou há três anos e o custo elevado do projecto, 300 mil euros, é a única barreira que Mário ainda não conseguiu ultrapassar. "O zerO2 é um desafio a mim próprio, uma forma de passar a mensagem que podemos ir mais além, qualquer um de nós", assegura. Apesar do risco inerente, nenhum pormenor é deixado ao acaso. A parte técnica do projecto está entregue à Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto e, na equipa, participam ainda um meteorologista, um piloto de balão e algumas empresas portuguesas de tecnologia biomédica e espacial. O pára-quedista tem vindo a treinar na câmara hipobárica da Força Aérea, simulando ambientes de baixa pressão em altitude, onde o oxigénio é rarefeito. Por isso, conta, "o salto terá de ser feito em apneia [suspensão da respiração] e deve durar cerca de 3.30 minutos em queda livre, mais cinco de pára-quedas aberto. Se não aguentar o tempo suficiente em apneia, a rarefacção do oxigénio pode causar-me inconsciência e, como não quero esborrachar-me cá em baixo, há um dispositivo de segurança que abre o pára-quedas automaticamente. Além disso, terei um fato térmico especial para as baixas temperaturas (na ordem dos -60ºC)".
Mário ainda não sabe quando conseguirá realizar a proeza, mas espera que seja no dia 21 de Outubro: "É que faço 50 anos, e, como são 50 mil pés, teria piada."
Como se as dificuldades de zerO2 não fossem suficientes, Mário Pardo estuda em paralelo a realização da Stratosphere Mission, um salto a 120 mil pés de altitude, que requer oxigénio e um fato de astronauta com características especiais de mobilidade. "A ideia é ir tão acima quanto possível. Terá de ser construído um balão de hélio de grandes dimensões e o salto demorará cerca de cinco minutos em queda livre. Fisicamente não é tão exigente como o outro, mas estou mais dependente dos sistemas de manutenção de vida. Naquelas altitudes, se falha alguma coisa, é a morte do artista", afirma. Nesta "missão", Mário Pardo espera "ultrapassar a barreira da velocidade do som", apesar de "não se saber exactamente os efeitos disso no corpo humano".
O custo do projecto está avaliado em três milhões de euros - falta arranjar patrocínios - e por isso não há ainda data prevista para a sua realização. O nível de risco da sua actividade sempre preocupou os familiares e amigos de Mário Pardo. O filho, de 20 anos - também pára-quedista -, "já lida bem com isso, mas às vezes ainda fica um pouco aflito", diz. "Os outros acho que já se resignaram, perceberam que não há nada a fazer, e até ficam orgulhosos com o que tenho alcançado. O meu pai dizia--me sempre 'não me digas quando vais, diz-me quando vieres!'", relembra, com um sorriso.
DN