Primeiro diz-se que o aumento para 2% seria insuficiente, depois de “provado” que seria mais do que suficiente — mesmo num cenário de custos exageradamente elevados — diz-se que afinal não há dinheiro. É complicado…
O problema deste tipo de meio de discussão de um tema por escrito, tem várias limitações, e
às vezes acabamos por andar as voltas, porque estamos a falar de coisas diferentes.Só passado algum tempo conseguimos entender o que outra pessoa está a tentar dizer, naturalmente, falo por mim.
A questão não é se há dinheiro ou não, a questão é quão depressa os meios são requeridos.
Num programa de emergência – que foi o que considerei - que pretenda modernizar os meios de uma marinha em dez anos, os valores indicados não chegam, e seriam ultrapassados em várias centenas de milhões, ou então secando os outros ramos das forças armadas.
Foi este o cenário que considerei e por isso, o aumento de que falamos, não chega, teria sempre que se recorrer a qualquer outra forma de financiamento.No entanto, caso aceitemos que os navios só podem ser comprados dentro de um período de tempo alargado, a possibilidade já existe, com os mesmos recursos.
Por exemplo, comprando as fragatas em 2035 e 2036 e as corvetas com entregas em 2045 até 2048 (fiquei curioso e ainda vou tentar fazer contas).
Pode-se aumentar o prazo de pagamento, para vinte anos (eventualmente mais) o problema é que neste caso, não se geram os recursos para comprar os navios, o que implica que, nas contas do estado vão aparecer as compras, vão aparecer os juros,
vai aparecer a dívida e isso quer dizer um
deficit que a União Europeia não aceita.
ManutençãoEm qualquer circunstância, temos sempre que considerar que os navios depois de comprados, começam imediatamente a necessitar modificações e manutenção.
Existem bibliotecas inteiras de livros sobre como calcular os custos de navios de guerra, e as variáveis são tantas que tal tornaria impossível qualquer cálculo com um minimo de precisão.
Os valores com que contei para manutenção foram de 5% do valor de compra, por várias ordens de razões.
É um valor que se aplica a navios de várias marinhas, desde os EUA à Grã Bretanha incluindo a França ou o Canadá.
E para evitar casos mais ou menos complicados de calcular, como as fragatas da Dinamarca [2]
Em quase todos os casos, os custos indicados ultrapassam os 10% do valor inicial do navio, desde que o número de horas de mar por ano seja significativo.
O tipo de equipamento instalado, como se o radar gira ou não gira, influi nos custos, mas o que realmente influi nos custos, é se o navio passa tempo no mar, ou fica parado na doca. Há um estudo online feito pela marinha do Canadá em que se verifica a relação entre custos de manutenção e numero de dias no mar.
Eu parto do principio de que os navios não ficam parado na doca o ano inteiro e por isso, mesmo 5% do valor de aquisição é uma projeção muito muito por baixo. [1]
Para fazer qualquer calculo, temos não só que aumentar as despesas em defesa para 1800 milhões de Euros por ano (e não sabemos de onde o dinheiro vem para pagar as prestações durante quase cinquenta anos), como também temos que definir prioridades, porque mesmo triplicando o valor para novas aquisições por três, continua a ser imprescindível determinar prioridades e programar as aquisições.
Dentro de quantos anos é que os meios deveriam estar disponíveis ?
Se é urgente, os 2% do PIB não chegam, nem com um aumento de 0,1 pontos percentuais ao ano o que permitiria atingir os 2% no orçamento de 2029.
Questões políticas (um aparte, que se aplica a todos os ramos)
A referência que fiz ao Partido Comunista e aos sindicatos controlados pelo partido (sindicatos que na prática são indiretamente controlados por um país estrangeiro), não é que essa organização seja a razão principal do problema, é apenas mais um dos problemas que é necessário ultrapassar.
A ideia de que o PCP alguma vez defendeu a defesa nacional, é uma das muitas
operações de Maskirovka do partido, que se faz passar por patriota e nacionalista desde sempre.
O PCP sempre se afirmou a favor da defesa nacional. SEMPRE !
O problema é que
a realidade é muito diferente. O partido estava representado no Conselho da Revolução, esse órgão que não tinha nada a ver com a tropa … Comunistas como Rosa Coutinho (e outros) levaram Portugal a ser isolado dentro da NATO, porque se sabia que as forças armadas estavam completamente minadas pelo PCP e naturalmente pela KGB.
Escorraçar os comunistas das estruturas militares de comando, foi uma tarefa que só começou a ser levada a cabo a sério quando Adelino Amaro da Costa chegou ao ministério da defesa em 1979/1980.
Curiosamente, quando foi eliminado, a morte mais sonante foi a de Francisco Sá Carneiro.
O PCP criticou todas as compras militares portuguesas praticamente desde que me lembro e desde pequeno que me interesso pelo tema.
Criticou a vinda dos M48, porque não serviam para nada; Criticou os aviões Corsair A7-P porque não eram caças; Criticou os F-16, porque não eram uma prioridade para a defesa nacional; Criticou as fragatas Vasco da Gama, porque o que faltava era dinheiro para os marinheiros; Criticou a vinda dos M60, porque eram praticamente iguais aos M48... (e isto é falar de memória)
A lista continua Ad Eternum, porque o PCP é EM PRINCIPIO a favor da defesa nacional, só que para o PCP a nossa defesa, deve ter em conta que
o inimigo é a America e os países da Europa ocidental capitalista. Não podemos nunca esquecer este pequeno detalhe ...
O Bloco de Esquerda, é um partido comunista soviético/trotskista, que ao contrário do soviético /estalinista não tem a vergonha de dizer que não quer que nos defendamos. O Bloco não quer defesa para coisa nenhuma e pronto.
A única compra que eu ouvi um dirigente do bloco apoiar, foi quando o prof. Fernando Rosas há bastantes anos atrás, defendeu a compra dos NPO, que convenientemente nem armas têm.
[1] Além disso, esses valores percentuais aplicam-se a navios civis, a navios petroleiros, a navios frigoríficos. São valores grosso modo utilizados pelas seguradoras e pelas empresas de navegação, para estabelecerem políticas a médio e longo prazo, ou para efectuar cálculos sobre o valor dos navios durante um determinado período.
[2] Fragatas com o casco produzido nos estados bálticos para baratear o custo, com armamento retirado de outros navios, e com um programa de modernização, dez anos após os navios terem entrado ao serviço. Equipamentos e sistemas de origem civil, que não cumprem com padrões militares (a acreditar em comentários dos americanos, que optaram por comprar as fragatas FREMM).