https://eco.sapo.pt/entrevista/polonia-e-um-mercado-em-que-a-beyond-vision-quer-expandir-fortemente-no-proximo-ano/A expandir a capacidade de produção em Portugal, a fabricante de drones Beyond Vision está a apontar Brasil, EUA, Médio Oriente e Polónia entre os seus mercados aposta, adianta o CEO, Dário Pedro.
Depois de investir cerca de cinco milhões de euros na nova unidade de produção em Alverca, aumentando a área de 300 metros quadrados que tinham em Alfragide para 2.000 e, no próximo ano, 4.000 metros quadrados, a Beyond Vision vai ainda investir num novo espaço em Lisboa, no Oeiras Tech Valley, e anda à procura de um espaço a Norte para a empresa fabricante de drones.
“Gostaria que em março, abril do próximo ano tivéssemos o espaço todo construído”, admite Dário Pedro, cofundador e CEO da Beyond Vision no chão de fábrica na nova unidade em Alverca. “Deve-nos triplicar ou quadruplicar a nossa capacidade de produção atual. No próximo ano o objetivo é ficarmos com capacidade de produzir cerca de 500 VTOL, ou seja, drones de asa em multirotor, e cerca de 800 multirotores“, avança.
Hoje com 100 trabalhadores, a empresa quer até ao final do próximo ano chegar aos 250. E não faltam planos de crescimento e não só nos EUA, país onde recentemente fechou um contrato de 15 milhões e há planos de abrir uma fábrica, num investimento de 50 milhões, tal como revelou em primeira mão o ECO. Mas este não é o mercado foco e, muito menos o único, como avança Dário Pedro. Brasil, Médio Oriente e Europa são zonas que a empresa tem na mira de expansão.
“Devemos fechar este ano com cerca de 15 milhões de vendas, o target para o próximo ano é cerca de entre 30 a 40 milhões de vendas, com cerca de 70% ou 80% a ser para o mercado europeu“, revela o CEO.
Fecharam um contrato de 15 milhões nos Estados Unidos e o objetivo é abrir lá uma fábrica.
De 15 milhões, mínimo. Ou seja, tem compras mínimas de 15 milhões, mas o nosso target é que se aproxime dos 30 ou 40 milhões. Já estamos a começar a nossa expansão para lá, para ter um polo lá.
Numa primeira fase será de representação e de business development, numa segunda instância, evoluirá para termos alguma pré-assemblagem nos Estados Unidos, ou seja, uma pequena fábrica. A longo prazo, a ideia é depois expandir essa fábrica para agregar o máximo de tipo de produção, sub-assemblies, entre outros, que façam sentido fazer nos Estados Unidos.
Tendo em conta a dimensão do mercado, o foco nos EUA…
Não é o nosso foco atual, honestamente. Os Estados Unidos nem são dos nossos principais mercados, comparando com a Europa se calhar representa 10%. É um contrato particular para o nosso crescimento aí, mas estamos a fazer o mesmo crescimento no Brasil. Temos feito bastantes vendas para lá, já temos pessoas contratadas e estamos a abrir agora escritórios em São Paulo e a ideia é exatamente a mesma. Ou seja, criar uma primeira linha de sub-assembly e depois ter alguma capacidade de produção lá para a América Latina toda.
Estamos a explorar duas joint ventures para o Médio Oriente, uma na Arábia Saudita e outra nos Emirados. E estamos a abrir múltiplos escritórios em países europeus. Estão a ser estudados Espanha, Alemanha, Polónia. E novos escritórios em Portugal. Estamos a expandir os escritórios de Lisboa, que estão em obras, mas a concluir [a unidade Alverca tem agora 2.000 metros quadrados, mas vai duplicar em 2026]. Temos novas instalações em Aveiro.
No Porto também temos capacidade de produzir alguns componentes e estamos à procura de uns escritórios que nos deem capacidade de ainda contratar mais pessoas e continuar a crescer no Porto, que está exatamente igual como estava há seis meses o nosso espaço em Alfragide, ou seja, a rebentar pelas costuras. Vamos ter um novo espaço a partir de janeiro, semelhante à dimensão deste, em Oeiras, no Oeiras Tech Valley. Estamos a abrir múltiplas outras unidades.
Será um investimento de que ordem, esse espaço em Oeiras?
O do Oeiras Tech Valley vai ser sempre subsequente a este [novas instalações em Alverca], mas se calhar estamos a falar de 500 mil euros a 1 milhão.
Voltando aos EUA, a ideia da fábrica é porque sentem que vai haver muita procura nesse mercado ou também um pouco para evitar as tarifas às importações de Trump?
Acaba por ser um misto, ou seja, há múltiplos vetores da decisão. A tax tarifs claramente são um fator muito importante e quase setor a setor vai ter que se identificar o que é que compensa ou não fazer lá. Existem parceiros que temos lá, que faz sentido ter pessoas a colaborar diretamente a partir de lá. Uma Lockheed Martin, entre outras empresas, em que já colaboramos para alguns projetos. Ter uma equipa a colaborar lá diretamente, faz todo sentido e só vai acelerar o processo de desenvolvimento.
Numa fase inicial será uma equipa reduzida, cerca de 10 pessoas, mas a ideia é chegar rapidamente às 100, a trabalhar a partir de lá. E depois, os Estados Unidos têm muito boas universidades no nosso setor, tendo lá instalações fica muito mais fácil atrair talento nacional de lá para trabalhar para muitos produtos que já estamos a desenvolver.
Referiu o Brasil como outro país onde estão a apostar. Não costuma ser um país generoso com os empresários portugueses.
Estou bastante ciente das dificuldades que muitas outras empresas tiveram a entrar no Brasil e estamos a ir com cuidados redobrados para essa expansão, em particular exatamente por isso. Acho super curioso que o Brasil, sendo do tamanho da Europa praticamente, pelo menos em dimensão, tem muito pouca indústria de drones.
Produtos desenvolvidos no Brasil ainda têm uma muito boa aceitação na América Latina, obviamente sendo um produto europeu tem alguma credibilidade superior. Acho que existe uma oportunidade enorme para o setor dos drones ser desenvolvido no Brasil.
A ideia é ter um parceiro local? Qual será a estratégia nesse mercado?
Estamos a montar uma equipa nossa lá que depois vai explorar parcerias locais, quer com distribuidores, quer para projetos em concreto. Já temos lá drones a operar aos dias de hoje, e tem estado a correr bem. E lá está, vai ser uma coisa gradual.
São clientes do setor civil, militar?
Pertence ao setor civil, mas é vigilância da floresta da Amazónia. Mas há muitos setores que podem ser explorados no Brasil, desde oil & gas, inspeções de postos de média e alta tensão, em que, por exemplo, a própria EDP — com que já temos uma boa parceria em Portugal e tem vindo a crescer este ano — também tem muita infraestrutura no Brasil e faz sentido trabalhar com pessoas contratadas no Brasil, ao setor da defesa.
Muitas das principais grandes cidades do Brasil sofrem de problemas de segurança bastante graves e alguns desses problemas podem ser trabalhados com recurso a drones. Ou seja, existe um mercado enorme que eu acho que não está a ser muito explorado.
O kick-off já aconteceu. Já temos pessoas lá a trabalhar, temos lá vários drones com equipas nossas, pessoas contratadas no Brasil, que estão em permanência a fazer demonstrações, apresentações, porque houve um grande pipeline de pedidos acumulados ao longo deste ano — isto arrancou cerca de agosto, setembro — e agora estamos a apresentar a novos clientes, fazer novas propostas.
E vamos fazer este crescimento gradualmente. Temos já, aos dias de hoje, necessidade de ter um espaço físico, porque muitas reuniões necessitavam disso e estamos à procura do melhor espaço em Guarulhos (São Paulo). Já temos alguns identificados e a decisão será tomada em princípio este mês, o mais tardar em janeiro.
E qual a expectativa em termos do que é que esse mercado possa vir a representar no vosso negócio?
A expectativa é muito semelhante à dos Estados Unidos. Ou seja, o processo de expansão para o Brasil, a nível de roadmap, é muito semelhante à dos Estados Unidos, embora financeiramente estamos com expectativas superiores nos Estados Unidos, sobretudo pelo valor que o mercado de defesa dos Estados Unidos representa na NATO e pelos investimentos que estão a ser feitos agora no setor de defesa, portanto, há duas a três vezes mais retorno expectável dos Estados Unidos do que do Brasil.
Pelo que disse há pouco o outro lado do Atlântico não é o único foco.
Não, não. O principal foco da empresa, diria 60%-70%, é na Europa e depois temos estas novas atividades, estes polos, a acontecer. A internacionalização para uma empresa portuguesa é super importante, porque temos muito boa tecnologia, mas temos um país pequeno e é difícil escalar.
E na Europa, quais os mercados que sentem mais pujantes, que podem…
Claramente todos os países que fazem fronteira com a Rússia, neste momento, são estão mais ativos na procura de equipamentos no setor de defesa, embora países como a Alemanha ou França — sobretudo a Alemanha — estão a aumentar imenso as suas aquisições. Os países que fazem fronteira com a Rússia, como a Polónia ou a Finlândia, acabam tendo uma procura muito superior.
Este ano tivemos muitos pedidos da Polónia, estávamos já com o pipeline completamente cheio e a maior parte deles foram migrados para o próximo ano, mas é um mercado que queremos expandir fortemente no próximo ano.
Temos tentado o máximo que conseguimos trabalhar em contínuo mas o dia só tem 24 horas e chega a uma altura que não dá para crescer mais rápido. Estamos a tentar fazê-lo ao ritmo mais elevado que conseguimos. Este ano deve ter aumentado na ordem entre os 700 e 800%.
A produção?
Global, produção, vendas… O crescimento pessoal não esteve tão elevado, mas estamos a fazer muitos investimentos para tentar atrair mais talento e acelerar o recrutamento, mas é um processo que sinto que também não deve ser feito demasiado rápido, com o risco de se perder um pouco a cultura da empresa e baixar a qualidade do produto entregue no final. É um processo que eu prefiro fazer bem feito do que acelerado.
Na Polónia estamos a falar de contratos com as Forças Armadas?
Neste momento, temos ordens de compra de alguns distribuidores polacos de dezenas de unidades, tipicamente.
Mas para uso militar?
Sobretudo militar, sim. São algumas empresas que fornecem múltiplos tipos de equipamentos de defesa, drones é mais um equipamento.
Além da Polónia, em que outro país vão a abrir?
Abrir, não sei se seria a palavra certa, hoje em dia já operamos em mais de 25 países, mas a França é um país que queremos reforçar as vendas — já trabalhámos alguns projetos até mais no setor civil, com a Capgemini e com a Total, mas nunca trabalhámos no setor da defesa na França, é um setor que queremos começar a trabalhar —, entre muitos outros países em que já temos operações e drones lá e queremos fortalecer a nossa presença.
Estiveram recentemente no Dubai Airshow. Resultou em contratos fechados, leads comerciais animadores? Falou há pouco de joint ventures nessa região.
Já tivemos contratos muito relevantes no Médio Oriente, quer na indústria do oil&gas, quer em projetos na área civil. Estamos agora a explorar a possibilidade de termos joint ventures lá para começar a entrar também no mercado da defesa. Negociações no Médio Oriente são sempre algo que demora algum tempo, mas acho que no futuro pode ser um mercado muito interessante para nós.
Face ao atual momento geopolítico, ter contratos na defesa no Médio Oriente pode ser um constrangimento para fechar contratos na defesa na Europa ou nos Estados Unidos?
Depende de como são feitos. Ou seja, tipicamente quer os Emirados, quer a Arábia Saudita têm boas relações com países da NATO, por isso acaba por não houver um grande conflito.
E trabalhariam com Israel? Há empresas que têm uma ‘no list‘. Vocês também o têm?
Temos uma ‘no list‘, obviamente, na ‘no list’ neste momento intransponível, é países como a Coreia do Norte ou Rússia. Israel não tem sido um país que tenhamos procurado fazer negócio até agora ou que tenhamos tido grande negócio. Tivemos no passado um projeto de investigação na União Europeia em que tinha um parceiro de Israel.
Os nossos drones são totalmente modulares e dentro de alguns payloads já experimentámos integrar payloads de fornecedores de Israel, mas não é um país que tenhamos uma relação muito forte a nível de negócio.
Mas querem desenvolver?
Não está no nosso roadmap, não.
No final de novembro foi entregue em Bruxelas a candidatura portuguesa ao SAFE. No caso dos drones, o ministro da Defesa referiu que a liderança seria portuguesa. Estão envolvidos nisso?
Não estamos diretamente envolvidos, mas estamos indiretamente envolvidos, obviamente, porque Portugal, se há uma área que tem mostrado muitas cartas lá fora nos últimos anos é no setor dos drones. Historicamente nunca tivemos uma indústria de defesa muito forte.
Se olharmos para o desenvolvimento de tanques, jatos, submarinos esse tipo de equipamento, Portugal nunca foi um player com grande representatividade lá fora, mas nos drones está, pela primeira vez, a ser. Acho que temos ao máximo que aproveitar esta oportunidade e vamos ao máximo tentar crescer rapidamente para ser muito relevante nesse projeto.
Um setor com muita concorrência, a Tekever…
Vejo a Tekever muito mais como um parceiro do que propriamente um concorrente. Eu sei para quem olha para drones, é tudo drones, mas, de forma muito simplista, a Tekever desenvolve mais drones de asa a combustão e nós estamos muito mais focados em multirotores elétricos.
O tipo de operação é muito diferente, algumas propostas já fizemos em conjunto, falo com o Ricardo Mendes [CEO e cofundador da Tekever] recorrentemente. Há muitos pontos em que podemos colaborar em conjunto, só temos vantagem em fazê-lo.
Consigo imaginar outras empresas europeias [como concorrentes], sobretudo, por exemplo, uma Quantum Systems [alemã], uma Parrot [francesa], com drones semelhantes aos nossos, mas a Tekever vejo muito mais como uma empresa parceira do que concorrente.