CruzSilva, nunca escrevi que defendia que seguranças privados fizessem segurança de quartéis, bem pelo contrário, se ler a minha mensagem.
O que não pode acontecer é a necessidade de segurança às instalações levar à redução ou eliminação da operacionalidade do Exército. As duas coisas são e têm que ser compatíveis, desde que o Exército não continue a mudar tudo para não mudar nada.
O apoio em catástrofes naturais é uma missão importante do Exército, mas não é a razão da sua existência ou o seu factor de diferenciação e especificidade. Não é admissível manter um Exército que serve para guardar os seus quartéis e para apoio em catástrofes naturais. Se ficar reduzido a isso, a única coisa sensata a fazer é extinguir o Exército e reforçar a Protecção Civil e os Bombeiros.
Pensamento típico português? Mas você sabe o que está a dizer? O pensamento típico português é o que você vê actualmente Forças Armadas. O pensamento do show off. Ou seja, as chefias militares quando os nossos sucessivos governos pedem contingentes para o estrangeiro baixam as calças e lá arranjam um companhia para ir para o exterior. Mas a realidade é que o treino dessas mesmas unidades e o equipamento são sempre deficientes na fase inicial. Basta ver a nossa missão no Afeganistão com os nossos Comandos a patrulhar de boina e camuflado DPM que está orientado exclusivamente para áreas verdes. Depois de alguns anos de missão lá compraram coletes balísticos modernos e uniformes em camuflado para o deserto e mesmo esse não é o ideal para uma área como o Afeganistão. Ah e sabia que as nossas FND estão quase sempre em missão de reserva? Quando as chefias da ISAF começaram em pensar em usar a nossa FND para combate na linha da frente o nosso Ministro da Defesa borrou-se e disse que não por causa das baixas e das suas consequências politicas. Ou é ou não é. Ou estamos lá para participar activamente ou não vamos, estas FND acarretam muitos custos.
CruzSilva, eu estou perfeitamente consciente das lacunas das Forças Armadas e do improviso nas FND. Nada do que escreveu é novo para mim. A consequência que cada um de nós parece tirar disso é que é diferente. A sua opinião é mais ou menos que dadas as dificuldades deveríamos ficar restringidos ao território nacional, guardar os quartéis, apoiar a protecção civil em caso de catástrofe, etc. A minha opinião é que é inadmissível manter um Exército inoperacional e sem capacidade nenhuma de projecção, restrito a esse tipo de funções. Nesse caso deixaríamos de ter um Exército.
Sobre baixar as calcinhas eu vejo a questão numa perspectiva um pouco diferente. As chefias militares são é apanhadas com as calças na mão de cada vez que o Exército precisa de enviar uma companhia (1 companhia!) para o exterior, devido a um péssimo planeamento e definição de prioridades. Mesmo com todas as dificuldades financeiras e com as tutelas políticas fracas, havia a obrigação de estarmos melhor preparados do que temos estado.
Com que moral é que as chefias militares não baixariam as calças para mandar uma companhia para onde for, ao mesmo tempo que mantêm dezenas de instalações militares e inúmeras chafaricas espalhadas pelo país? Com que lata diriam que não iam porque não têm camuflados para deserto e coletes balísticos ao mesmo tempo que gastaram milhões na compra de carros de combate, que dificilmente servirão algum dia para alguma coisa? As lacunas que apontou relativas à missão no Afeganistão, e que poderíamos estender a todas as outras missões, são acima de tudo da responsabilidade do próprio Exército e a falta de verbas/homens são desculpas fáceis para mascarar interesses próprios/incompetências/resistência à mudança. Antes de pensar em recusar-se a cumprir missões, o Exército tem muito trabalhinho de casa por fazer.