Voltando ao assunto Sócrates gostaria de dizer que o mesmo só foi preso porque se pôs demasiado a jeito. Toda a corrupção, favorecimentos, etc, que fez podiam ter passado completamente incolumes não fosse a sua estupidez, gabarolisse e excesso de confiança.
Até determinada altura Sócrates tinha controlo sobre o governo, comunicação social e justiça por via dos seus grandes amigos Luís Noronha Nascimento e Fernando Pinto Monteiro respectivamente presidente do supremo tribunal de justiça e procurador geral da republica.
Durante este periodo Sócrate podia fazer practicamente tudo o que quizesse que nada o atingia. Até o próprio Cavaco Silva durante parte deste tempo (até ao escandalo das escutas) tinha boas relações com ele. Ele tinha portanto o controlo enorme sobre o país, não muito longe do que aconteceria numa ditadura (talvez aqui esteja a exagerar um pouco, deixo ao vosso critério).
O problema é que Sócrates se habituou a isto. Na cabeça dele este controlo e influencia passou a ser um facto imutável. Acontece que não era. As relações com Cavaco degradaram-se, perdeu as eleições, o presidente do supremo e o procurador geral da republica foram substituidos. Em pouco tempo Sócrates viu desaparecer todas a rede de influencias e controlo que detinha enquanto primeiro ministro.
Sem o excesso de confiança, a gabarolisse e a estupidez Sócrates ter-se-ia apercebido disso e mudado os seus habitos. Tornar-se ía mais discreto, arranjaria um emprego que pudesse justificar o seu estilo de vida, não abdicaria da pensão vitalicia como primeiro ministro, evitaria contactos suspeitos e acima de tudo faria um grande esforço para apagar todos os indícios dos seus crimes.
Infelizmente para ele, ele continuou a ser gabarolas, achava que aquilo que fez era normal, nunca ninguém iria ter coragem de o prender, como ele próprio confidenciou ao telefone.
Enganou-se. E o seu engano foi a sua perdição, se não se tivesse enganado desta forma ainda hoje estaria a gozar os proveitos dos seus crimes.
Outros não são assim tão estupidos. Mario Soares e Cavaco Silva souberam manter as redes de influências, souberam justificar os seus rendimentos ainda que com subvenções, fundações ou valorosos investimentos. E assim continuam e continuarão salvaguardados.
Passos Coelho é, até à data, um peixinho miúdo, chico-espertito que não pensando jamais chegar a primeiro minitros, ou mesmo ministro, tentou ganhar o dele. Porque no fim de contas, no meio em que se movia, todos faziam o mesmo. Assim funcionam as juventudes partidárias.
P.S.: circula em alguns circulos da elite académico-politica nacional que o mal de Sócrates e dos que o circundam foi mesmo a profunda crença de que o estilo de via que levam - viver acima das possibilidades, pedindo emprestimos em nomes de empresas que depois declaram falência, abrindo de seguida outra empresa - é perfeitamente normal e aceitavel.